O feijão fradinho quer se tornar a nova soja

Startup israelense produz uma versão da leguminosa mais adequada à agricultura mecanizada. Resistente ao calor e à seca, o alimento vem sendo apontado como uma alternativa à soja.

Feijão fradinho desenvolvido pela BetterSeeds é mais adequado à colheita mecanizada porque cresce “mais ereto e menos esparramado”

Cada um grau de elevação da temperatura da Terra corresponde a uma queda de 5% no rendimento da soja. O alerta é de cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Nativa das regiões de climas temperado, a leguminosa não está preparada para o aquecimento global. Mantidos os padrões atuais de degradação ambiental, a produção global do grão (principal commodity brasileira) pode reduzir 30% na próxima década.

Mais tolerante à seca e ao calor, o feijão fradinho sempre foi apontado pelos especialistas como uma alternativa à soja. Um problema, porém, impede a substituição: muito delicado, ele tem de ser colhido manualmente, o que dificulta a produção em larga escala.

Depois de quase uma década de estudos, pesquisadores da agtech BetterSeeds conseguiram desenvolver uma versão do feijão fradinho adequada para a colheita mecanizada.

Graças às técnicas mais modernas de edição genética, eles mexeram no trecho específico do DNA da planta, responsável por sua arquitetura. Os novos pés de feijão, segundo definem os empreendedores, crescem “mais eretos e menos esparramados”.

Fundada em 2017, em Israel, a BetterSeeds está entre as grandes empresas de bioengenharia de plantas do país. Em duas rodadas de investimento, arrecadou US$ 17,3 milhões, segundo dados da plataforma Crunchbase. A empresa pretende fazer a primeira plantação da leguminosa no Estados Unidos entre março e junho deste ano.

Feijão mais antigo da história

Natural da África subsaariana, a cultura de feijão fradinho é uma das mais antigas na história da humanidade. Das cerca de 40 mil variedades já catalogadas, o fradinho é o alimento básico para cerca de 200 milhões de famílias da região. No Brasil, está entre os cinco mais consumidos. De sabor mais frutado e como não produz caldo, é usado, sobretudo, em saladas e pratos especiais, como o acarajé.

Rico em fibras, minerais, vitaminas e proteínas, pode ser um ingrediente interessante para a indústria plant-based. A maioria dos alimentos de origem vegetal análogos aos de animais tem a soja como um de seus principais ingredientes. Até 2030, o setor deve quintuplicar, chegando a US$ 162 bilhões globais, pelos cálculos da Bloomberg Intelligence.

Também chamado de feijão de corda e feijão caupi, o fradinho é a variedade mais cultivada e comercializada nos Estados Unidos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os americanos costumam consumir o alimento em sua versão enlatada. Os pesquisadores da Embrapa classificam o fradinho como o tipo de feijão mais adequado ao comércio internacional.

Estudos recentes têm demonstrado que a plantação de feijão fradinho, em sistemas agroflorestais, pode ajudar a recuperar a saúde do solo. Tem mais. Conforme pesquisas da Universidade da Califórnia, essa variedade de feijão tem o poder de atrair as bactérias do bem, favorecendo a fixação do nitrogênio, essencial para o desenvolvimento e crescimento das plantas.

FONTE: https://neofeed.com.br/blog/home/o-feijao-fradinho-quer-se-tornar-a-nova-soja/