O apetite ao risco dos ‘gringos’ cresce mais do que nunca no Brasil; por que as startups nacionais chamam atenção?

Startups no Brasil chamam a atenção dos fundos de venture capital estrangeiros (Imagem: Unsplash/Markus Winkler)

O apetite e interesse dos fundos de Venture Capital (capital de risco) nas startups latino americanas, sendo as brasileiras muitas vezes consideradas as favoritas, apresentou uma crescente nos últimos anos.  Como o próprio nome já sugere, esses fundos são especialistas em assumir risco investindo em empresas de tecnologia que estão em crescimento no mercado.

Estive na primeira edição do Websummit fora da Europa, que ocorreu há 2 semanas no Rio de Janeiro, expondo com a EXIO, startup em que eu ocupo a cadeira de Chief Marketing Officer. E para a minha grande surpresa, a maior parte dos interessados nas startups – principalmente com teses de AI (Inteligência Artificial) – eram estrangeiros.

Sabemos que o último trimestre não foi o melhor para a captação de investimento em startups e não é difícil de notar a queda expressiva na quantidade de verba levantada pelas empresas do setor. Mas fechamos o mês de abril com as startups latinas captando US$ 436 milhões – 78% a mais do que em março, de acordo com o relatório mensal da Sling Hub.

Fazendo uma breve retrospectiva sobre os números, em 2018, por exemplo, os investimentos oriundos de fundos internacionais ficaram em US$ 3 bilhões e em 2021 atingiram o ápice de US$ 18 bilhões.

No evento também pude perceber o movimento dos fundadores de grandes fundos de Venture Capital, como o Antler, fundo de Singapura que chegou no Brasil ano passado e que pretende investir e acelerar o crescimento de 20 a 30 startups por ano. Ou seja, ainda há uma procura de novos investimentos no mercado. Ainda que agora, mais seletiva.

Por que os ‘gringos’ estão crescendo os olhos no Brasil?

E esse interesse dos investidores estrangeiros, não vêm apenas pela diferença de câmbio que a América Latina permite pela desvalorização da moeda em detrimento do euro ou dólar, por exemplo. O empreendedor brasileiro tem um diferencial competitivo em termos de características comportamentais que os fundos buscam.

Soft skills como:

  • resiliência;
  • alta capacidade criativa;
  • senso de urgência;
  • resolução de problemas;

Essas características chamam bastante a atenção dos fundos internacionais, além da “energia” brasileira para fazer os negócios rodarem, custe o que custar.

E, quando o assunto é resiliência, as empresas brasileiras são especialistas. Segundo o estudo Mapeamento de Startups, realizado pelo Sebrae-PR em 2022, cerca de 70% das startups fecham antes de completarem 20 meses de funcionamento.

Ou seja, os negócios que sobrevivem após esse período já estão mais do que acostumados com o cenário de adversidades que uma empresa enfrenta nos seus primeiros passos, e isso é um fator que faz os olhos dos VC’s brilharem.

Startups mais maduras (as que estão em Series B ou A) podem pensar em captar recursos de fora, uma vez que os fundos nacionais estão mais cautelosos. Até porquê, os VC’s também precisam garantir a segurança das startups que já estão no seu portfólio, especialmente nesse período em que novas rodadas estão mais restritas e o dinheiro escasso.

Quando falo sobre “garantir a segurança” dessas empresas, me refiro à capacidade delas conseguirem caminhar com suas próprias pernas, estamos falando da busca constante por tração. O objetivo, é claro, é que essas empresas não fiquem dependendo de aportes financeiros para existir no longo prazo, mas que use desses aportes para crescerem ainda mais.

Ainda no Websummit Rio, tive a oportunidade de conversar com muitos investidores e representantes de fundos internacionais. O desafio para as startups é: nível de maturidade do negócio, gestão e diligência.

Quem consegue vencer esses três pontos, está praticamente no top 10 para receber os investimentos que esses fundos têm a oferecer. E falando em valores, os “cheques mínimos” desses fundos são entre US$ 2 milhões e US$ 5 milhões.

E, depois de conseguir o famigerado investimento, é importantíssimo ter um planejamento estratégico muito bem definido para fazer a alocação desse recurso.

Isso porque a realidade é uma só: não estamos mais na era de ouro de investimentos em startups, como em 2019, mas a procura por oportunidades em negócios brasileiros segue em alta. E, aqueles que souberem como conquistar esses  investidores e administrar bem esse capital, podem sim ter em mãos o próximo unicórnio cultivado em solo nacional.

FONTE: https://www.moneytimes.com.br/o-apetite-ao-risco-dos-gringos-cresce-mais-do-que-nunca-no-brasil-por-que-as-startups-nacionais-chamam-atencao/