Número de startups para atender mercado jurídico dobra no Brasil

Empresas oferecem desde acompanhamento de ações a robôs para tarefas repetitivas Por Gilmara Santos — Para o Valor Econômico

Renan Oliveira, da Previdenciarista: sistema informa direitos do cliente e indica petições para iniciar o processo — Foto: Divulgação

A revolução tecnológica chegou ao universo jurídico. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o número de empresas específicas da área do direito (lawtechs) dobrou nos últimos cinco anos, saltando de 42 empresas em 2015 para 84 no fim do ano passado. “O direito foi uma das últimas áreas a ser alcançada pela revolução tecnológica, e isso é natural por se tratar de um segmento resistente a mudanças”, diz o professor Alexandre Pacheco, coordenador do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito de São Paulo.

Aos poucos, porém, as inovações estão contribuindo para que os profissionais se liberem de questões burocráticas e pesquisas para se dedicarem às teses jurídicas. Pedro Henrique Ramos, líder do comitê de assuntos jurídicos da ABStartups, observa que na área contenciosa as inovações dão condições para as empresas visualizarem melhor o histórico de ações e a partir daí traçarem estratégias jurídicas.

Já na área consultiva, com apenas alguns cliques, é possível montar um contrato e fazer alterações, o que torna o processo bem mais rápido, diz o representante da entidade. Já a inteligência artificial, muito empregada nos Estados Unidos, chegou há pouco ao Brasil e permitirá a padronização de serviços e um trabalho mais assertivo. O professor da Escola Brasileira de Direito (Ebradi), Maurício Tamer, afirma que há dois grupos de ferramentas usadas pelos escritórios de advocacia: aquelas voltadas para a gestão administrativa, financeira e da carteira de processos; e as de jurimetria, que fazem a análise de dados para mapear decisões judiciais por tribunal ou magistrado, por exemplo. Esse tipo de sistema permite puxar as informações de forma automatizada e incluí-las na petição sem a necessidade de sair da tela de trabalho. “Com isso, a empresa economiza tempo e pode apresentar uma tese mais consistente”, diz Tamer. Uma das empresas que estão apostando em inteligência artificial e robôs para ampliar seu portfólio de produtos e serviços para a área jurídica é a Fácil. O diretor-presidente da empresa, Carlos José Pereira, afirma que um trabalho recorrente nas bancas jurídicas é o acompanhamento do andamento dos processos judiciais.

A Fácil utiliza a tecnologia de inteligência artificial para verificar as publicações oficiais e consegue ler o que precisa ser feito, em qual prazo e ainda manda avisos para a agenda do advogado por meio do sistema. “No caso de processos trabalhistas cujos prazos são exíguos, é possível ganhar pelo menos dois dias em relação ao trabalho manual feito pelos advogados, com índice de acerto de até 94%”, afirma Pereira. A empresa conta atualmente com cerca de 800 clientes entre bancas de advocacia e departamentos jurídicos de companhias. Outra empresa que também atua nesse nicho de mercado é a Macdata Tecnologia, cujas soluções são utilizadas para fazer cálculos judiciais para apurar os valores que serão destinados ao pagamento de decisões judiciais ou acordos. “Esses cálculos são feitos com base nas leis da época do pedido judicial e trazidos para as bases recentes”, explica o diretor da empresa, Antonio Carlos Alvim de Macedo.

FONTE: VALOR ECONOMICO