A nova economia das cidades

Com o trabalho remoto e menos pessoas se deslocando para Manhattan, a Big Apple está prestes a perder seu brilho e US$ 12 bilhões por ano, de acordo com a Bloomberg, citando dados da pesquisa WFH Research, do economista da Universidade de Stanford, Nicholas Bloom, para esse mês de fevereiro. Conforme o estudo, uma média anual de US$ 5 mil deixa de ser gasta por cada funcionário nova-iorquino em alimentação, compras e entretenimento ao trabalharem remotamente, ainda que no modelo híbrido.

A Partnership for New York City, uma organização sem fins lucrativos de proeminentes líderes empresariais e empresas que empregam mais de um milhão de nova-iorquinos, cita que, no final de janeiro de 2023, pouco mais de 50% dos funcionários de escritórios de Manhattan continuavam indo a seus escritórios ao menos um dia de semana. Menos de 10% voltaram ao presencial, cinco dias por semana.

“Se menos imposto de renda está sendo pago na cidade, então é difícil descobrir como captar valor suficiente para manter os metrôs, manter a cidade segura e limpa e todas as coisas que realmente importam”, explica o Chief Accountability Officer de Nova York, Brad Lander.

E este não é um fenômeno isolado. Em todo mundo, vem havendo um êxodo maciço dos centros comerciais urbanos, que estão deixando de ser o epicentro dos gastos dos consumidores, talvez para sempre. Bairros de cidades onde as taxas de deslocamento caíram 20% já registram declínio de 7%, em média, nos gastos com empresas locais, segundo estudo de cinco economistas de universidades do Reino Unido. E os custos reais dos escritórios vazios não param aí.

Um bairro no centro de Londres com uma população de quase 10 mil pessoas está programado para perder oito mil, segundo o estudo. Ao mesmo tempo, vem havendo um aumento “equivalente” no número de vagas de emprego espalhadas por 161 bairros suburbanos. Os autores se referem a isso como o chamado “Efeito Donut”. Um modelo econômico que passou a ser encarado com bons olhos por Amsterdã, Copenhague, Bruxelas, Nanaimo (no Canadá), e outras cidades na Costa Rica, Índia, Bangladesh, Zâmbia e Barbados, segundo a economista britânica e autora do conceito “Doughnut Economics”, Kate Raworth.

Embora essas grandes mudanças populacionais tenham implicações importantes para a distribuição geográfica da mão-de-obra, muitas questões permanecem quanto aos efeitos que ocorrerão. A nova realidade provavelmente forçará cidades e estados a mudar sua ênfase de apoiar o transporte público e as habitações densas ao seu redor para promover espaços de trabalho compartilhados, disponibilidade de banda larga e impostos mais competitivas, para atrair os que podem trabalhar em qualquer lugar. Pesquisadores estão chamando essas cidades de Zoom Cities. O projeto Tulsa Remote vai bem nessa linha.

Cidades menores também provavelmente reagirão com novas políticas de zoneamento, que a professora de direito do Chicago-Kent College, Stephanie Stern, chama de “sem trânsito” em artigo publicado em abril de 2022 pela Stanford Law and Policy Review. “Há uma redefinição nesse momento da história”, diz o mestre e doutor em Geografia Humana pela USP, Ricardo Baitz, que acredita que os centros comerciais urbanos não morrerão de todo, por não serem apenas polos econômicos, mas também culturais e políticos. É bem provável que ainda haja os grandes polos, os grandes centros redefinidos, especialmente em países como o Brasil.

FONTE: https://theshift.info/