Nordeste concentra 83% da energia solar e eólica do país

Empresas têm mais projetos previstos para região, mas dependem de infraestrutura para distribuir a produção.

O Nordeste é o grande responsável pela geração eólica e solar fotovoltaica do país. A capacidade instalada, de 28,3 gigawatts (GW), é 82,6% da nacional com as duas fontes de energia. Os nove Estados nordestinos também somam 10 GW em projetos em fase de construção e 79,7% das novas instalações programadas para entrar em operação no país, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), garantindo à região a hegemonia eólica e solar para a próxima década. O potencial nordestino é muito maior. A capacidade de geração eólica e solar já outorgada pela Aneel, ou seja, projetos já autorizados, mas que ainda não possuem suas instalações confirmadas pelas empresas de energia, somam outros 76,2 GW na região.

A expectativa no Ministério de Minas e Energia (MME) é que a instalação de 30 GW de geração renovável e R$ 120 bilhões em investimentos sejam viabilizados após os três leilões de transmissão de energia da agência previstos para ocorrer em 2023 e 2024. O primeiro deles, programado para 30 de junho, compreende um total de 6,1 mil quilômetros de linhas de transmissão voltadas ao escoamento da energia renovável produzida no Nordeste para os centros consumidores no Sudeste. O segundo leilão, previsto para outubro, interligará a região com o Centro-Oeste e o Sudeste. O terceiro ainda não teve seu edital publicado.

Para investidores, os certames servirão para atender a demanda já contratada. “Há um descompasso entre o planejamento da expansão da transmissão e o crescimento da oferta de geração renovável. Os leilões de 2023 e 2024 vão apenas acomodar a expansão existente até 2030. Vamos precisar de mais infraestrutura para possibilitar novos projetos”, diz Lucas Araripe, diretor de novos negócios da Casa dos Ventos, companhia com capacidade de geração de 1,2 GW em operação e 500 GW em construção em projetos no Nordeste.

Vamos precisar de mais infraestrutura para possibilitar novos projetos”
— Lucas Araripe

O Complexo Eólico Rio do Vento, no Rio Grande do Norte, principal ativo da Casa dos Ventos, entrou em operação em 2021 com 504 megawatts (MW) de potência; outros 534 MW estão previstos para os próximos meses. O Complexo Eólico Babilônia Sul, com 360 MW na Bahia, entrou em operação em abril. Estão previstos, ainda neste ano, os inícios das obras de expansão de Babilônia, (mais 553 MW), e Serra do Tigre (RN), com 756 MW eólicos. Ambos devem entrar em operação em 2025, após investimentos de R$ 9,5 bilhões.

A Casa dos Ventos também planeja investir em energia fotovoltaica, tornando seus parques geradores híbridos, somando eólica e solar no mesmo empreendimento. “A pretensão é superar 6 GW de capacidade instalada renovável até 2027”, diz Araripe.

O primeiro empreendimento híbrido de geração eólica e solar no país foi inaugurado em março, na Paraíba. O Complexo Renovável Neoenergia tem 15 parques eólicos, que somam capacidade instalada de 471,2 MW, e duas plantas fotovoltaicas com potência de 149,2 MW, além de uma subestação e linha de transmissão para a conexão com a rede do Sistema Interligado Nacional (SIN). Os investimentos somaram R$ 3,5 bilhões. A empresa ainda ergue o complexo eólico Neoenergia Oitis, na divisa entre Piauí e Bahia, que terá capacidade instalada de 565,5 MW. “Estudamos novos projetos na região, como parques eólicos offshore e produção de hidrogênio verde”, diz Laura Porto, diretora de renováveis da companhia.

A Enel Green Power Brasil possui capacidade instalada de 2,5 GW provenientes de parques eólicos no Nordeste. Em outubro, iniciou a construção da fase cinco do parque Lagoa dos Ventos (PI), que irá acrescentar 399 MW ao complexo que atualmente soma 1,1 GW em operação.

“O Nordeste conta com condições de geração solar e eólica que estão entre as melhores do mundo, mas há restrições na capacidade de escoamento da produção que precisam ser solucionados”, diz Bruno Riga, diretor responsável pela Enel Green Power Brasil. Em janeiro, a Enel iniciou a operação comercial da terceira seção do complexo solar São Gonçalo (PI), que passou a contar com uma capacidade instalada de 864 MW e se tornou o maior parque fotovoltaico da América Latina.

A AES Brasil está em fase de conclusão de dois projetos eólicos no Nordeste que serão operados exclusivamente por mulheres: o Cajuína (RN), com 684 MW, e o Tucano (BA), que disponibilizará 322 MW. Atualmente, a companhia soma 1,44 GW em geração eólica. “Também estamos desenvolvendo projetos solares que somam 272 MW de capacidade que serão instalados de forma híbrida junto aos parques eólicos na Bahia e no Rio Grande do Norte”, diz Bernardo Machado Sacic, diretor de desenvolvimento de novos negócios da companhia. Outra frente de expansão renovável da AES Brasil é em hidrogênio verde no Ceará.

“Estudamos uma unidade de eletrólise de 2 GW no Complexo de Pecém”, afirma Sacic.

FONTE: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/energia/noticia/2023/05/31/nordeste-concentra-83-da-energia-solar-e-eolica-do-pais.ghtml