Não é trote: a LiveHere aluga para calouros (e tem inadimplência zero)

Uma startup fundada há pouco mais de dois anos está levando o conceito de aluguel rápido e sem burocracia, consolidado em plataformas como o Quinto Andar, para um nicho crescente e mal servido: os imóveis voltados para universitários.

A LiveHere já tem mais de 6 mil imóveis cadastrados em cinco polos universitários do interior de São Paulo — Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto, Sorocaba e São José dos Campos — onde achar um lugar para morar costuma ser ainda mais difícil do que passar no vestibular. A plataforma oferece informações detalhadas do imóvel — em sua maioria, mobiliados — e os categoriza de acordo com a proximidade das principais universidades.

O pulo do gato: sem exigir fiador e com um sistema próprio de análise de risco, consegue fazer o fechamento do contrato e a entrega das chaves apenas quatro horas depois de o cliente visitar o imóvel, num mercado em que agilidade é o nome do jogo.

“Muitas vezes são cerca de três semanas entre a aprovação no vestibular e o início das aulas”, diz o fundador Vinícius Freitas. “E a pessoa tem que achar um lugar para morar correndo em uma cidade que ela não conhece.” Hoje com apenas 26 anos, Vinicius ainda lembra bem de seu perrengue particular.

Nascido e criado em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, aos 17 passou no vestibular para engenharia de computação na Unicamp e teve que correr para encontrar um lugar para morar em Campinas. Acabou pegando o primeiro apartamento que visitou — depois de um processo complexo e burocrático com as corretoras, que envolveu fiador, cartório e Correios — para logo em seguida descobrir que estava pagando muito por um imóvel que não era lá grandes coisas. Vinicius acabou desistindo da engenharia e se formou em administração no Insper (foi o primeiro da turma). Mas a experiência frustrante com o apartamento em Campinas o inspirou a abrir seu próprio negócio. Nos Estados Unidos e na Europa, o mercado de moradias universitários é muito mais maduro, com grupos voltados especialmente para o segmento e que chegam a contar com mais de 100 mil camas para estudantes.

Mas no Brasil, ainda se trata de um mercado amador e completamente desorganizado. As situações chegam a ser kafkianas: em cidades com universidades que atraem pessoas de todo o Brasil, muitas imobiliárias exigem fiador com um imóvel no Estado de São Paulo. “Entre amigos, eram muitos os relatos de como as imobiliárias não prestavam um serviço adequado,” diz. “E quando fomos conversar com corretores e proprietários, descobrimos que na verdade o jeito como o mercado funciona hoje não agrada ninguém.” Para os proprietários, a LiveHere se traduz em menos tempo de apartamento vazio.

Quando era ainda um piloto em Campinas, no fim de 2017, a LiveHere conseguiu fechar um contrato com um investidor que tinha acabado de inaugurar um prédio de 20 apartamentos para alugar na frente da Unicamp. Alugou 15 apartamentos em oito dias; as outras cinco imobiliárias tradicionais que tinham a mesma conta alugaram dois. Atualmente, a taxa de ocupação dos imóveis de proprietários que trabalham exclusivamente com a plataforma é de 98%, diz Vinícius. A LiveHere também garante o pagamento e banca o risco de inadimplência – que tem sido residual. “Os mercados mais maduros mostram que o nível de inadimplência em aluguel para universitários é muito menor.” A LiveHere cobra o primeiro aluguel e uma taxa de administração de 6%, e gera receita desde o primeiro dia de negócio.

Para financiar o crescimento, a startup recebeu dois aportes-anjo em 2018 e uma rodada seed de R$ 2,5 milhões liderada pela Maya Capital, de Lara Lemann, e pela Barrah Investimentos, de Pedro Sirotsky, que atraiu investidores como Pedro Jereissati, do Grupo Iguatemi, e o ex-CEO da Estacio e atual CEO da Exame, Pedro Thompson. A empresa já tem outras cidades no interior de São Paulo e fora do estado mapeadas para expansão. O principal critério: cidades com universidades que atraem muita gente de fora, normalmente estaduais ou federais ou faculdades de medicina. “Neste momento, nosso foco é o ciclo de matrículas que começa agora,” diz Vinícius, lembrando que o negócio tem uma sazonalidade natural entre dezembro e fevereiro e junho e julho. Para muitos estudantes, o aluguel pela LiveHere é o primeiro de sua vida. Se a empresa conseguir performar e nutrir esta relação, este pode ser o início de uma bela amizade, aumentando o chamado lifetime value de cada cliente, diz Vinícius.

FONTE: BRAZIL JOURNAL