Nanotecnologia melhora eficácia de medicamento contra câncer

Alvejando o câncer

Estudos feitos por um grupo de 11 pesquisadores brasileiros poderão resultar em uma ferramenta efetiva para a destruição de células cancerígenas.

Os experimentos in vitro (em laboratório), utilizando células de câncer de mama, envolvem o desenvolvimento de um sistema de transporte de fármacos, utilizando a doxorrubicina, um medicamento tóxico usado para vários tipos de câncer.

“A gente sabe que os fármacos de câncer não são seletivos. Eles atacam tanto a célula tumoral quanto a sadia,” explicou a pesquisadora Célia Machado Ronconi, da Universidade Federal Fluminense (UFF), cuja equipe trabalhou em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

A ideia foi desenvolver um mecanismo em que o fármaco só fosse liberado na presença da célula tumoral. Foi desenvolvida então uma espécie de reservatório em escala nanométrica, no qual foi colocado o fármaco (doxorrubicina). “Aí, a gente tampa esse reservatório como se fosse uma válvula mesmo,” explicou Célia. Os pesquisadores usaram um composto com moléculas grandes para cobrir totalmente a superfície do reservatório.

Em condições normais, o fármaco não vaza do reservatório. Mas quando ele encontra um PH mais ácido – como o das células de câncer, que varia entre 4,5 e 5,5, a tampa do nanorreservatório é liberada. “Na superfície desse material, nós colocamos grupos que reagissem a esse PH mais ácido, de maneira que a tampa se soltasse,” explicou a pesquisadora.

Melhor que o medicamento sozinho

Até o momento, os testes envolveram células isoladas de câncer cultivadas em laboratório.

“Deu um resultado bem surpreendente. A gente conseguiu redução de 92% na viabilidade celular. Ou seja, ele matou 92% das células de câncer de mama,” contou Célia. Em comparação, quando o fármaco foi usado puro, na mesma concentração, ele matou apenas 70% das células tumorais. Os pesquisadores ainda pretendem investigar porque o efeito é maior do fármaco no nanorreservatório do que o fármaco puro.

A próxima etapa da pesquisa envolverá não só ensaios com células em laboratório, mas também in vivo, isto é, com animais de laboratório, bem como realizar ensaios com outros tipos de câncer. “Ainda falta muita coisa para ser feita. Tem um protocolo a ser seguido. Mas os resultados foram muito promissores,” finalizou Célia.

FONTE: DIÁRIO DA SAÚDE