Nanossatélites a serviço da agricultura

Novidade desenvolvida pela Visiona deverá baratear o custo da agricultura de precisão no país Por Rafael Walendorff no VALOR ECONÔMICO

O nanossatélite da Visiona, joint venture entre Telebrás e Embraer, tem o tamanho de uma caixa de sapatos, pesa 12 quilos e dará 16 voltas ao redor da Terra por dia — Foto: Divulgação

Uma iniciativa 100% nacional pretende criar uma constelação de nanossatélites na órbita da Terra e oferecer serviços para disseminar e democratizar a agricultura de precisão no país, que ainda é cara para uma parcela considerável de produtores. A pretensão da Visiona, joint venture entre Telebrás e Embraer, é entregar soluções a agricultores e pecuaristas com custos menores e maior eficiência que as tecnologias à disposição. As principais aplicações serão monitoramento e avaliação de áreas por imagens, além da coleta de dados sobre clima e pragas por meio de sensores de campo. A Visiona atua como integradora na indústria espacial e lidera o mercado de sensoriamento remoto no Brasil. Agora, está validando a tecnologia do VCUB 1, primeiro satélite totalmente brasileiro, que deverá estar no céu a partir do ano que vem. O número não está fechado, mas menos de dez equipamentos seriam suficientes para observar qualquer parte do território nacional diariamente. PUBLICIDADE O nanossatélite terá a dimensão de uma caixa de sapatos, pesará 12 quilos e será capaz de dar 16 voltas ao redor da Terra por dia, a 600 quilômetros do solo. “É um cometa, pequeno e com muita capacidade embutida”, afirma João Paulo Campos, presidente da empresa. O equipamento, apesar de pequeno, representa um grande avanço em relação aos modelos atuais, de quase 100 quilos, e será mais barato para o bolso dos consumidores, com soluções de “prateleira” para o mercado civil. “Por estar mais próximo do chão, ele consegue conversar com sensores menores, que exigem muito menos potência e têm custo menor. É outra classe de aplicação completamente diferente”, diz Campos. O VCUB 1 estará equipado com uma câmera de alta resolução e qualidade radiométrica voltada primariamente para os mercados agrícolas e de proteção ambiental, com eficiência para identificar queimadas e desmatamentos, por exemplo, e mapear áreas agrícolas e de pastagens. Também contará com um sistema de coleta de dados capaz de servir o mercado de Internet das Coisas (IoT) em locais com pouca infraestrutura. A tecnologia deverá possibilitar as mais diversas aplicações da agricultura de precisão e da internet das coisas, principalmente a transmissão de mensagens “pouco complexas”. É o caso da coleta de dados das redes de meteorologia e de identificação de pragas. “Os satélites de órbita baixa poderão acessar as informações de sensores de pragas e de umidade de solo colocados no campo. São equipamentos simples, pequenos e alimentados, muitas vezes, com uma pilha”, conta o presidente da Visiona. Essa possibilidade de conjugar as imagens com alta qualidade e coletar dados de sensores no campo faz do nanossatélite uma plataforma “poderosa”. A Visiona já tem um acordo de cooperação técnica assinado com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o desenvolvimento de sistemas inteligentes que combinam tecnologia espacial com sistemas informatizados aplicados à agricultura. O satélite deverá ter a montagem finalizada no primeiro semestre de 2021. A data do lançamento ainda não foi definida. O VCUB 1 surge como uma alternativa mais acessível para essas aplicações menos complexas. Caso o sistema avance, lembra Campos, os serviços poderão ser acessados de duas formas: com a venda da capacidade de sensoriamento e coleta de dados ou integrado a algum pacote específico. O rastreamento de tratores e demais aplicações que demandam acompanhamento em tempo real e exigem altos volumes de dados ainda terão que ser atendidas pelos grandes satélites. A Visiona é também responsável pelo Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), lançado em 2017 e principal provedor de banda larga do país. Agrosatélite, Basf, Bayer, Biosev, BrasilAgro, Raízen e Embrapa , além do Incra, são alguns dos clientes da tecnologia. O “problema” é que o satélite está a 36 mil quilômetros da Terra e exige equipamentos grandes e caros para fazer o apontamento, o que “limita um pouco o grau de aplicação dessa tecnologia” em algumas áreas de produção agropecuária, segundo Campos. O gigante de cinco toneladas e do tamanho de um Boeing 737 ainda é a opção para conectar uma série de fazendas em conjunto, por exemplo, com uso de tecnologias complementares para a distribuição do sinal.

FONTE: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2020/11/10/nanossatelites-a-servico-da-agricultura.ghtml