Na vanguarda aeroespacial

Tudo começou quando essa arquiteta e urbanista baiana precisou usar imagens de satélite para um trabalho em Camaçari e percebeu o quanto era difícil adquiri-las, e o quanto elas eram caras. Assim que o projeto para um parque tecnológico na região terminou, Aila Raquel C. Ribeiro se viu fora do mercado de trabalho, sem muitas oportunidades. Foi então que decidiu abraçar o sonho de promover o uso da alta tecnologia dos nanosatélites para transformação de cidades brasileiras.

Entendi que existia um gap muito grande aqui no Brasil. Embora satélites nacionais façam alguns tipos de imagens, elas raramente são de alta resolução. Também não são constantes. Então quando a gente busca por estudos temporais de cidade brasileiras, elas dificilmente estão disponíveis em intervalos menores que 2 meses”, conta Aila.

O propósito surgiu após uma imersão promovida pelo Founders Institute no início de 2019. De lá para cá, a Alya Nanosatelitte Constellation nasceu e começou a caminhar. Hoje é uma early stage em fase de captação para o lançamento dos primeiros nanosatélites em 2021. Por serem pequenos e leves, esses satélites têm menor custo. Além disso, colocá-los em órbita é mais barato, fácil e rápido. Também são mais fáceis de ser operados. A meta de Aila agora é a de baixar o preço das imagens para os diversos tipos de aplicação para os mercados de agricultura e meio ambiente.

A história de Aila não difere muito da de muitas outras founders brasileiras. Com o agravante de ter que superar o maior dos obstáculos: a atuação no mercado espacial – uma paixão desde mais jovem, quando visitou a Nasa, mas de pouca tradição no país.

O nome Alya é um palíndromo do meu nome, mas também é o nome de uma estrela binária localizada em uma região comparativamente sem estrelas entre os dois ramos da Via Láctea”, brinca. Acabou que virou também um mantra:  “buscar alyados”.

A entrevista de hoje é sobre essa jornada, “rumo ao infinito e além”. Afinal de contas, como ela mesmo diz, “O céu não é o limite. É só o primeiro estágio”.

Boa leitura.

Ser uma mulher no comando de uma empresa no setor aeroespacial no Brasil já é, por si só, uma disrupção. Além disso, poucas empresas brasileiras atuam no setor de observação da Terra, operando comercialmente, como faz  a Alya Nanosatellites. Quiçá empresas baianas.

Acabamos rompendo os padrões também por estarmos mais alinhados com os valores do empreendedorismo social, que não pensa só em gerar lucros e dar retorno financeiro, mas também em solucionar problemas e ajudar outros negócios a transformar realidades.

Os satélites fornecem imagens regulares georreferenciadas que podem ser usadas em conjunto com modelos de inundação e solo, modelos digitais de elevação, dados de precipitação e estatísticas populacionais, para produzir mapas básicos para serviços de resposta a emergências.

O objetivo da Alya Nanosatellites é tornar mais acessível para pesquisadores e empresas uma imensa quantidade de dados, de pelo menos 150 bandas de espectro, usadas para monitoramento comercial da agricultura, exploração de minérios, e petróleo e gás. Bem como para monitoramento científico voltado para proteção e defesa dos oceanos, florestas e recursos hídricos. Hoje, esses dados são muito caros.

Em 2021, pretendemos lançar dois nanosatélites de observação da Terra que, inicialmente, farão o monitoramento constante do Brasil, possibilitando a geração de  dados hiperespectrais para fins comerciais e científicos, através do imageamento do país.

Estações serão implantadas, estrategicamente localizadas, diminuindo a latência da transmissão de dados da constelação e aumentando o monitoramento contínuo eficiente, em estações diferentes.

Embora já existam empresas no Brasil capazes de desenvolver partes desses satélites, por enquanto pretendemos usar satélites internacionais, para acelerar a realização das provas de conceito [POCs] e dar as garantias que precisamos dar, como uma early stage, durante a captação de investidores.  Já cotamos com 4 empresas europeias que têm condições de entregar esses satélites em pouco tempo, por valores bem em conta, e de fazer o lançamento compartilhando um foguete. Tudo isso ajuda a reduzir os custos, para que os produtos da Alya cheguem ao mercado por um preço mais acessível.

Nanosatélites são pequenos, do tamanho de uma caixa de sapato. O formato é o CubeSat 6U, com dimensões de 10 cm x 10 cm x 10 cm cada. Apesar disso, eles têm todas as partes dos grandes satélites: antenas, comunicação por rádio, sistema de controle de energia, painel solar, estrutura (uma espécie de esqueleto do satélite), computador de bordo, sistemas de posicionamento e de propulsão. E, no nosso caso, também câmeras hiperespectrais bem pequenas e de alta resolução.

Esses satélites estarão na exosfera, entre 300 e 500 km de altura, na órbita sol síncrona. Farão passagens constantes, em intervalos de poucos dias, cobrindo todo o território brasileiro e o nosso litoral.

Todos os nossos funcionários são brasileiros, boa parte formados em São José dos Campos pelo DCTA. Todos eles serão capacitados pelo ITA. O Brasil tem pessoas de alta capacitação técnica nesse assunto. Mas a gente está perdendo esses profissionais. Esses talentos estão indo trabalhar no exterior. A gente precisa criar condições de absorver essa mão de obra de alta tecnologia aqui, investindo mais em tecnologia aeroespacial.

Como pioneiros, a gente quer  mostrar para outras empresas que o setor aeroespacial pode dar certo no Brasil.

Os desafios são grandes. No meu caso, começou pelo fato de estar na Bahia. Eu ainda preciso convencer que um negócio de alta tecnologia pode dar certo na Bahia. É muito difícil para os baianos entenderem esse tipo de negócio. Cheguei a ser chamada de maluca. Mas persisti. No fim do ano passado a Alya ficou entre as três startups vencedoras do “Amazônia 4.0 Challenge”, selecionadas entre mais de 250 inscritas.

Logo no início, depois de participar da imersão do Founder Institute, fui para o exterior aprender mais sobre o mercado no qual estava entrando. Quando voltei, os bancos de fomento do meu estado negaram recursos, dizendo que achavam um risco muito grande. Um deles chegou a me perguntar se eu já tinha satélites em órbita, como quem pergunta “você tem um MVP rodando?”. Caí do cavalo. Gastei todas minhas fichas internacionais, quando poderia ter focado em obter financiamento lá fora, já que tive mais receptividade e interesse lá do que aqui. Mas eu contava com os recursos daqui. Pensava que eu estava respaldada.

A minha maior dificuldade tem sido essa, de fazer o empresário e o investidor nacionais entenderem o negócio. Entenderem que ele precisa de investimento para alavancar.

DISRUPÇÃO É …

Essa desconfiança de um mercado que é bilionário, e chega a ser trilionário em países europeus, é inexplicável. Eu acho que existem outros mercados com riscos muitos maiores no Brasil.

Nesse momento tenho feito diversas reuniões para funding. Vou entrar em outra aceleração do Founders Institute, para Funding Lab, para partir para um processo de captação bem estruturado. Até me mudei para São Paulo, para poder estar mais próxima de onde o dinheiro está.

Também estamos trabalhando em uma POC em uma smart farm na Bahia, que já utiliza sensores em solo para controlar a agricultura. E negociando parcerias com empresas internacionais, que entendem mais o modelo de negócio e confiam na gente.

O POC também está sendo usado para formar mercado, mostrar o quanto é eficiente o monitoramento por satélite na agricultura, para avaliação de saúde das plantas, ser capaz de identificar áreas que apresentam menor produtividade devido a problemas como pragas, doenças ou falhas no sistema de irrigação.

Hoje todo mundo que já trabalha com meio ambiente sente a necessidade do monitoramento por satélite. Na agricultura ainda não.

A gente tem florestas e rios gigantescos. Um litoral com 7.491 quilômetros de extensão, com um mar territorial de 12 milhas marítimas de largura. Pessoas que trabalham com florestas, oceanos e recursos hídricos sabem da necessidade e importância das imagens obtidas pelos satélites para proteção e defesa do país. O INPE oferece imagens gratuitas para eles. Mas não tem tudo o que precisam.

Para chegar a um monitoramento básico de todo o Brasil a gente precisa de mais satélites iguais aos do INPE e uns 70 como os que a Alya quer colocar em órbita. A gente precisa potencializar tudo isso que a gente infimamente começou a fazer no país. Em termos comerciais não existe nenhuma empresa fazendo observação da Terra. A primeira que vai conseguir fazer, antes mesmo da Alya, é a Visiona, que nasceu da união da Telebrás com a Embraer.

Eu não olho para elas como concorrentes. Olho como aliadas. Tem muito mercado para todo mundo. A gente precisaria de mais satélites Inpes, Alyas e Visionas nacionais para começar a oferecer tudo o que o Brasil precisa.

O Ellon Musk não está com 240 satélites em órbita? E não vai ter 4.425 em órbita terrestre baixa e 7.518 satélites em órbita terrestre muito baixa para oferecer conexão à Internet? A gente precisa fazer como ele para realmente chegar ao ponto de ter um monitoramento eficiente para todos os problemas do país.

Nosso objetivo atual é chegar a 2021 capitalizados, com profissionais capacitados e a empresa azeitada para quando os satélites entrarem em órbita a gente estar prontos para cumprir todo o primeiro estágio planejado. E a partir daí cuidar da constelação, já que cada um desses satélites tem vida útil pequena. No máximo 3 anos. A ideia é continuar lançando novos satélites a cada dois anos, sempre com tecnologia de ponta, criando mais possibilidades e ampliando o tempo de vida útil da constelação.

FONTE: THE SHIFT

Ser uma mulher no comando de uma empresa no setor aeroespacial no Brasil já é, por si só, uma disrupção. Além disso, poucas empresas brasileiras atuam no setor de observação da Terra, operando comercialmente, como faz  a Alya Nanosatellites. Quiçá empresas baianas.

Acabamos rompendo os padrões também por estarmos mais alinhados com os valores do empreendedorismo social, que não pensa só em gerar lucros e dar retorno financeiro, mas também em solucionar problemas e ajudar outros negócios a transformar realidades.

Os satélites fornecem imagens regulares georreferenciadas que podem ser usadas em conjunto com modelos de inundação e solo, modelos digitais de elevação, dados de precipitação e estatísticas populacionais, para produzir mapas básicos para serviços de resposta a emergências.

O objetivo da Alya Nanosatellites é tornar mais acessível para pesquisadores e empresas uma imensa quantidade de dados, de pelo menos 150 bandas de espectro, usadas para monitoramento comercial da agricultura, exploração de minérios, e petróleo e gás. Bem como para monitoramento científico voltado para proteção e defesa dos oceanos, florestas e recursos hídricos. Hoje, esses dados são muito caros.

Em 2021, pretendemos lançar dois nanosatélites de observação da Terra que, inicialmente, farão o monitoramento constante do Brasil, possibilitando a geração de  dados hiperespectrais para fins comerciais e científicos, através do imageamento do país.

Estações serão implantadas, estrategicamente localizadas, diminuindo a latência da transmissão de dados da constelação e aumentando o monitoramento contínuo eficiente, em estações diferentes.

Embora já existam empresas no Brasil capazes de desenvolver partes desses satélites, por enquanto pretendemos usar satélites internacionais, para acelerar a realização das provas de conceito [POCs] e dar as garantias que precisamos dar, como uma early stage, durante a captação de investidores.  Já cotamos com 4 empresas europeias que têm condições de entregar esses satélites em pouco tempo, por valores bem em conta, e de fazer o lançamento compartilhando um foguete. Tudo isso ajuda a reduzir os custos, para que os produtos da Alya cheguem ao mercado por um preço mais acessível.

Nanosatélites são pequenos, do tamanho de uma caixa de sapato. O formato é o CubeSat 6U, com dimensões de 10 cm x 10 cm x 10 cm cada. Apesar disso, eles têm todas as partes dos grandes satélites: antenas, comunicação por rádio, sistema de controle de energia, painel solar, estrutura (uma espécie de esqueleto do satélite), computador de bordo, sistemas de posicionamento e de propulsão. E, no nosso caso, também câmeras hiperespectrais bem pequenas e de alta resolução.

Esses satélites estarão na exosfera, entre 300 e 500 km de altura, na órbita sol síncrona. Farão passagens constantes, em intervalos de poucos dias, cobrindo todo o território brasileiro e o nosso litoral.

Todos os nossos funcionários são brasileiros, boa parte formados em São José dos Campos pelo DCTA. Todos eles serão capacitados pelo ITA. O Brasil tem pessoas de alta capacitação técnica nesse assunto. Mas a gente está perdendo esses profissionais. Esses talentos estão indo trabalhar no exterior. A gente precisa criar condições de absorver essa mão de obra de alta tecnologia aqui, investindo mais em tecnologia aeroespacial.

Como pioneiros, a gente quer  mostrar para outras empresas que o setor aeroespacial pode dar certo no Brasil.

Os desafios são grandes. No meu caso, começou pelo fato de estar na Bahia. Eu ainda preciso convencer que um negócio de alta tecnologia pode dar certo na Bahia. É muito difícil para os baianos entenderem esse tipo de negócio. Cheguei a ser chamada de maluca. Mas persisti. No fim do ano passado a Alya ficou entre as três startups vencedoras do “Amazônia 4.0 Challenge”, selecionadas entre mais de 250 inscritas.

Logo no início, depois de participar da imersão do Founder Institute, fui para o exterior aprender mais sobre o mercado no qual estava entrando. Quando voltei, os bancos de fomento do meu estado negaram recursos, dizendo que achavam um risco muito grande. Um deles chegou a me perguntar se eu já tinha satélites em órbita, como quem pergunta “você tem um MVP rodando?”. Caí do cavalo. Gastei todas minhas fichas internacionais, quando poderia ter focado em obter financiamento lá fora, já que tive mais receptividade e interesse lá do que aqui. Mas eu contava com os recursos daqui. Pensava que eu estava respaldada.

A minha maior dificuldade tem sido essa, de fazer o empresário e o investidor nacionais entenderem o negócio. Entenderem que ele precisa de investimento para alavancar.