“Ser uma mulher no comando de uma empresa no setor aeroespacial no Brasil já é, por si só, uma disrupção. Além disso, poucas empresas brasileiras atuam no setor de observação da Terra, operando comercialmente, como faz a Alya Nanosatellites. Quiçá empresas baianas.
Acabamos rompendo os padrões também por estarmos mais alinhados com os valores do empreendedorismo social, que não pensa só em gerar lucros e dar retorno financeiro, mas também em solucionar problemas e ajudar outros negócios a transformar realidades.
Os satélites fornecem imagens regulares georreferenciadas que podem ser usadas em conjunto com modelos de inundação e solo, modelos digitais de elevação, dados de precipitação e estatísticas populacionais, para produzir mapas básicos para serviços de resposta a emergências.
O objetivo da Alya Nanosatellites é tornar mais acessível para pesquisadores e empresas uma imensa quantidade de dados, de pelo menos 150 bandas de espectro, usadas para monitoramento comercial da agricultura, exploração de minérios, e petróleo e gás. Bem como para monitoramento científico voltado para proteção e defesa dos oceanos, florestas e recursos hídricos. Hoje, esses dados são muito caros.
Em 2021, pretendemos lançar dois nanosatélites de observação da Terra que, inicialmente, farão o monitoramento constante do Brasil, possibilitando a geração de dados hiperespectrais para fins comerciais e científicos, através do imageamento do país.
Estações serão implantadas, estrategicamente localizadas, diminuindo a latência da transmissão de dados da constelação e aumentando o monitoramento contínuo eficiente, em estações diferentes.
Embora já existam empresas no Brasil capazes de desenvolver partes desses satélites, por enquanto pretendemos usar satélites internacionais, para acelerar a realização das provas de conceito [POCs] e dar as garantias que precisamos dar, como uma early stage, durante a captação de investidores. Já cotamos com 4 empresas europeias que têm condições de entregar esses satélites em pouco tempo, por valores bem em conta, e de fazer o lançamento compartilhando um foguete. Tudo isso ajuda a reduzir os custos, para que os produtos da Alya cheguem ao mercado por um preço mais acessível.
Nanosatélites são pequenos, do tamanho de uma caixa de sapato. O formato é o CubeSat 6U, com dimensões de 10 cm x 10 cm x 10 cm cada. Apesar disso, eles têm todas as partes dos grandes satélites: antenas, comunicação por rádio, sistema de controle de energia, painel solar, estrutura (uma espécie de esqueleto do satélite), computador de bordo, sistemas de posicionamento e de propulsão. E, no nosso caso, também câmeras hiperespectrais bem pequenas e de alta resolução.
Esses satélites estarão na exosfera, entre 300 e 500 km de altura, na órbita sol síncrona. Farão passagens constantes, em intervalos de poucos dias, cobrindo todo o território brasileiro e o nosso litoral.
Todos os nossos funcionários são brasileiros, boa parte formados em São José dos Campos pelo DCTA. Todos eles serão capacitados pelo ITA. O Brasil tem pessoas de alta capacitação técnica nesse assunto. Mas a gente está perdendo esses profissionais. Esses talentos estão indo trabalhar no exterior. A gente precisa criar condições de absorver essa mão de obra de alta tecnologia aqui, investindo mais em tecnologia aeroespacial.
Como pioneiros, a gente quer mostrar para outras empresas que o setor aeroespacial pode dar certo no Brasil.
Os desafios são grandes. No meu caso, começou pelo fato de estar na Bahia. Eu ainda preciso convencer que um negócio de alta tecnologia pode dar certo na Bahia. É muito difícil para os baianos entenderem esse tipo de negócio. Cheguei a ser chamada de maluca. Mas persisti. No fim do ano passado a Alya ficou entre as três startups vencedoras do “Amazônia 4.0 Challenge”, selecionadas entre mais de 250 inscritas.
Logo no início, depois de participar da imersão do Founder Institute, fui para o exterior aprender mais sobre o mercado no qual estava entrando. Quando voltei, os bancos de fomento do meu estado negaram recursos, dizendo que achavam um risco muito grande. Um deles chegou a me perguntar se eu já tinha satélites em órbita, como quem pergunta “você tem um MVP rodando?”. Caí do cavalo. Gastei todas minhas fichas internacionais, quando poderia ter focado em obter financiamento lá fora, já que tive mais receptividade e interesse lá do que aqui. Mas eu contava com os recursos daqui. Pensava que eu estava respaldada.
A minha maior dificuldade tem sido essa, de fazer o empresário e o investidor nacionais entenderem o negócio. Entenderem que ele precisa de investimento para alavancar.
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