jul 19

Mombak atrai gigante francesa AXA para projetos de carbono na Amazônia

Grupo segurador com quase 1 trilhão de euros sob gestão entra no cap table da startup brasileira e aloca US$ 49 milhões na floresta.

Peter Fernandez, sócio-fundador da Mombak: mais um acionista e projetos a gerir — Foto: Leo Pinheiro/Valor

A francesa AXA, grupo segurador cuja gestora de investimentos soma quase 900 bilhões em euros, acaba de fechar a compra de uma participação minoritária na startup brasileira Mombak. Além de se tornar acionista, a AXA está entregando US$ 49 milhões para a Mombak gerir em projetos de descarbonização na floresta amazônica.

“Com quase um trilhão de euros sob gestão, a AXA busca diversificação em ativos financeiros, como ações e títulos de dívida, e ativos reais, como imóveis e infraestrutura. A nova tese deles é que ativos naturais serão cada vez mais monetizados”, diz Peter Fernandez, fundador da Mombak, ao Pipeline. “Nessa linha, um dos mercados mais avançados hoje é o de carbono, mas futuramente veremos isso acontecer com biodiversidade, com água limpa.”

A AXA já começou a investir algumas centenas de milhões nessas teses mundo afora, em busca de retorno financeiro. O capital entregue à Mombak para gestão, em troca de um fee, será usado para comprar terras e fazer reflorestamento.

Fernandez calcula que esse capital seja suficiente para comprar de cinco a 10 mil hectares de fazendas, o que a companhia pretende fazer em uma janela de nove meses. É uma alavanca e tanto no negócio tocado hoje pela Mombak, que soma três mil hectares e tem outras duas em diligência, com mais 50% de área.

“Três mil hectares é metade de Manhattan. No ponto central da fazenda, quando você olha no entorno, todo o horizonte é da propriedade”, diz o sócio-fundador sobre as dimensões do negócio.

A Mombak já tinha capital do private equity americano Bain Capital para aplicar nos projetos e também já tinha atraído acionistas. No cap table, a AXA vai compor uma sociedade que conta com fundos como Kaszek, Union Square, Conservation International Ventures e Byer Capital.

“Um dos principais problemas desse mercado hoje em dia é confiança e nossa estratégia para endereçar isso é construir projetos de remoção de carbono com a maior integridade possível”, diz Fernandez. Americano, ele mora há pouco mais de uma década no Brasil. Foi CEO da 99, app de transporte que se transformou no primeiro unicórnio brasileiro, e head do YouTube na América Latina. Num período sabático, que incluiu uma temporada num monastério vietnamita, decidiu que ia “gastar tempo e energia com algo que considerasse importante para o mundo.”

“Mudança climática é um dos principais problemas da humanidade, que causam real sofrimento humano. São casas e famílias alagadas, é a Califórnia pegando fogo todo ano, são ilhas desaparecendo. Já temos refugiados do clima, e isso só vai piorar”, diz.

Ele resolveu mergulhar no assunto e chegou ao Project Drawdown, estudo que quantifica soluções para mudança climática em ordem de prioridade. “Na lista de 250 pontos, busquei em qual eu conseguiria atuar de alguma forma, e era o quinto item: reflorestamento tropical”, conta. “Tirar o CO2 que já está na atmosfera é tão importante quanto reduzir as novas emissões, mas é onde há menor progresso. A maior oportunidade para remover carbono da atmosfera é reflorestamento e o principal lugar para fazer isso é o Brasil.”

A Mombak nasceu com a proposta de ser a maior inciativa de remoção de carbono do mundo, a partir do reflorestamento na região amazônica. Até então, Fernandez tinha colocado os pés na Amazônia uma única vez, como turista, e fundou a Mombak ao lado de Gabriel Silva, ex-CFO do Nubank. O time inclui cientistas atuantes em restauro ecológico, acadêmicos que estudam o assunto há mais de duas décadas e executivos oriundos de indústrias florestais.

A Mombak compra fazendas, apresentadas por corretores, e também faz parceria com donos de terras, que tem áreas extras em plantação de eucalipto ou cana de açúcar, por exemplo, e a startup implementa o projeto de captura e venda do crédito de carbono, por um percentual da receita. “É um modelo que demanda menos capital e tem TIR maior, acima de 20% de rentabilidade líquida”, diz Fernandez.

A climatech realoca os bois da fazenda comprada em outra área, otimizando terra com pasto rotativo. A média na região é de 0,8 boi por hectare, o que nas novas fazendas passam a 4 a 5 bois por hectare.

Os sócios querem fazer da Mombak a “Apple de créditos de remoção de carbono”, usando a referência do mercado de tecnologia. “Steve Jobs usava o termo insanely great, e é isso que estamos tentando criar aqui: créditos de carbono insanamente bons, num mercado que tem um problema sério de qualidade”, diz Fernandez.

Ele diz que não entrou nesse mercado por ser ambientalista, por ideologia ou para ser um guerreiro da natureza. “Não é isso que me motiva. Minha mentalidade é muito mais voltada a resolução de problemas importantes e mudança climática é um problema muito sério e muito grave”, diz. “Estamos tentando trazer um olhar novo para esse universo, que é o que a tecnologia faz. Há oportunidade em reflorestamento, mas a maior oportunidade é remoção de carbono.”

Ainda que não se considere idealista — ou ambientalista — Fernandez não tem carro e não consome lácteos. “E é obvio que agora tenho um conhecimento e amor por árvores que eu não tinha antes. É impossível fazer esse trabalho e não ficar apaixonado pela flora, fauna e cultura, mas são coisas que aprendi nesse trabalho”, diz o americano agora apaixonado pela comida paraense.

FONTE:

https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/mombak-atrai-gigante-francesa-axa-para-projetos-de-carbono-na-amazonia.ghtml