A moda da roupa hi-tech

Empresas do setor têxtil, como a Rhodia e a americana Ministry of Supply, aceleram o desenvolvimento de tecidos recicláveis, biodegradáveis e inteligentes, que não amassam e até controlam a temperatura do corpo. É o futuro da indústria fashion

Não deforma, não tem cheiro e não amassa – e a matéria-prima vem de resíduos industriais. O que antes era restrito aos astronautas e aos filmes de ficção científica começa a se tornar realidade no mundo real. Empresas do setor têxtil estão acelerando o desenvolvimento de materiais de última geração, que não amassam e são capazes até de regular a temperatura do corpo. Isso tem sido possível graças aos “blends”, tecidos que misturam fibras naturais com nanotecnologia. Um dos mais recentes exemplos é o lançamento da fibra Amni Dynamic, que combina fios de poliamida e algodão para secar duas vezes mais rápido do que as fibras sintéticas comuns, e o Amni Soul Cycle, feito a partir de matéria-prima reciclável e biodegradável. Com investimento de R$ 5 milhões e três anos de pesquisa pela Rhodia, do grupo Solvay, o segundo projeto foi costurado em parceria com a Lupo, uma das maiores empresas de “underware”.

O novo tecido promete fazer o fio enrugar menos quando usado no produto final, com o benefício de conter agentes antimicrobianos que afastam o mau cheiro. Além disso, o fio possui características que economizam água e energia no processo produtivo das malharias e tecelagens. “Os ganhos principais estão relacionados à sustentabilidade, tanto do ponto de vista da produção dos nossos clientes diretos, que ganharão mais produtividade em seu processo, com menor consumo de energia e outros insumos, quanto para os consumidores finais dos seus produtos, que terão um artigo têxtil criado com uma produção sustentável”, diz o CEO Renato Boaventura.

Além da Lupo, os fios hi-tech da Rhodia têm sido utilizados por malharias e tecelagens para fabricação de produtos “seamless” (peças sem costura) e meias. A nova poliamida (náilon) da Rhodia está praticamente em todos os segmentos da indústria do vestuário, segundo Boaventura: moda, lingerie e moda íntima, underwear, moda praia, esportiva, fitness, meias, uniformes escolares, acessórios, calçados e outras aplicações. A empresa afirma que marcas como Carmin, Fit e Le Lis Blanc já utilizam esses tecidos em larga escala. “Desde a ideia inicial até o fio ou fibra têxtil chegar às malharias e tecelagens, leva-se em média cerca de quatro anos”, completa Boaventura.

Renato Boaventura, presidente da Rhodia do Brasil: “Os ganhos principais estão relacionados à sustentabilidade” (Crédito:Eliana Rodrigues )

Assim como a Rhodia, a startup americana Ministry of Supply, do indiano Gihan Amarasiriwardena, aposta que o futuro da moda está diretamente relacionado à tecnologia. A empresa decidiu provar a capacidade das peças de sua grife, de modo que elas não sofressem alterações na forma e umidade em condições adversas. “Ainda que os tecidos puros sejam sinônimos de elegância, muitas vezes não resistem ao entra e sai das malas de viagens, reuniões, suor do dia a dia ou até mesmo à falta de um ferro a vapor”, diz Amarasiriwardena.

O empresário conseguiu desenvolver peças a partir de adaptações de tecnologias criadas pela Nasa para vestuário de astronautas. Foi da agência espacial americana que saiu a solução denominada PCMs (sigla em inglês para materiais de mudança de fase), inicialmente usados nas luvas de suas tripulações. Esses materiais respondem, por meio de um tratamento químico na fibra, tanto ao esfriamento quanto ao aquecimento do corpo.

A jogada de marketing do empresário aumentou as vendas das peças que se ajustam à temperatura do corpo, que são à prova de suor e amasso. Ex-aluno do Massachussetts Institute of Technology (MIT), ele teve seu nome registrado no famoso livro dos records, o Guinness Book, por ter concluído a meia maratona de Nova York, vestindo terno e gravata com seu tecido, dentro de 1 hora, 22 minutos e 15 segundos. Atualmente, a patente da inovação pertence à americana Outlast Technologies, que comprou os direitos sobre a pesquisa ainda nos anos 1980 e hoje revende a tecnologia para grandes marcas esportivas e de vestuário. Dados da Organização Mundial do Comércio mostram que o setor têxtil e de confecção mundial movimentou US$ 744 bilhões em 2018, com previsão de aumento para US$ 851 bilhões em 2020. O Brasil detém a quinta maior indústria têxtil do mundo.

FONTE: ISTO É DINHEIRO