‘Metaverso industrial’: como a Renault implantou a indústria 4.0 em suas fábricas

A Renault adaptou a fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná, para a Indústria 4.0; o Olhar Digital conferiu de perto como ficou.

O metaverso é, frequentemente, associado a ambientes virtuais como os que a Meta sonha em criar, colocando pessoas interagindo entre si, mesmo estando fisicamente distantes. Ao mesmo tempo, a Renault adotou o que a montadora chama de “metaverso industrial” em algumas de suas fábricas. São ideias até parecidas, mas com objetivos bastante diferentes.

Olhar Digital teve a oportunidade de visitar uma das fábricas da Renault em São José dos Pinhais, no Paraná, dentro do Complexo Industrial Ayrton Senna, para conhecer de perto o que a montadora chama de seu metaverso. Saiba como essa ideia está ajudando a Renault a otimizar a produção, reduzir custos e aumentar a produtividade.

Um metaverso diferente

O metaverso industrial da Renault é o que chamamos normalmente de indústria 4.0 — quando toda uma linha de produção conversa entre si para coletar dados e otimizar os processos produtivos. No caso da montadora, esse metaverso inclui uma série de softwares que enviam informações para a nuvem do Google e auxiliam funcionários de todos os escalões a saberem exatamente o que precisa ser feito, e onde precisa ser feito.

A montadora diz ter atualmente 243 postos diferentes de trabalho conectados. Ao iniciar o expediente, eles recebem uma lista de tarefas e podem começar a realizar suas funções. Telas espalhadas pela linha de produção podem ser usadas por supervisores para enviar informações adicionais, avisos ou qualquer coisa do tipo.

Caso um posto de trabalho específico encontre algum problema, isso é avisado aos supervisores a partir da coleta de dados. E, além de pessoas, o metaverso da Renault também coleta informações das máquinas das linhas de montagem. Se alguma der algum defeito, é fácil alertar o departamento de manutenção para o problema ser resolvido.

E como saber qual é o problema da máquina? Aqui entra o que a Renault chama de Gêmeo Virtual: os sensores instalados nas máquinas registram cada movimento, cada ação, e enviam para uma versão virtual da fábrica. É possível voltar no histórico de toda a linha de produção até identificar se, por exemplo, um pistão não está funcionando como deveria e, assim, está prejudicando a montagem dos veículos.

Em outro exemplo, é possível verificar todo o processo de montagem de um veículo até descobrir o que fez com que as rodas não tivessem a qualidade exigida pela empresa. E, como tudo ocorre em tempo real, um funcionário não precisa estar fisicamente presente na fábrica para verificar o que está acontecendo.

Com essas informações valiosas em mãos, departamentos de manutenção conseguem descobrir rapidamente qual é a falha e o que precisa ser feito. Essa digitalização e otimização de recursos gera aumento em produtividade nas fábricas, reduz os custos operacionais para a Renault e, no fim das contas, facilita o trabalho de todo mundo.

Fábrica virtual da Renault: o metaverso?

“Não pense no metaverso como o da empresa Meta”, diziam os funcionários da Renault enquanto apresentavam o sistema. Não estamos aqui falando na criação de um mundo virtual compartilhado entre pessoas para que elas conversem, namorem, joguem ou qualquer coisa do tipo. A aplicação da tecnologia aqui é diferente: é para melhorar a eficiência da fábrica.

Com uma fábrica virtual, os engenheiros da Renault não precisam medir o espaço físico para determinar a melhor posição das máquinas, ou para definir o intervalo entre um carro e outro dentro do processo de produção, por exemplo — tudo isso pode ser feito e testado na versão digital e, depois, transportado para o mundo real.

Com a implementação do Gêmeo Virtual e do metaverso industrial, a Renault diz ter capacidade de produzir até 70 carros por hora em sua fábrica em São José dos Pinhais — sendo 15 utilitários e 65 carros de passeio. Atualmente, um turno produz até 380 veículos, sendo 48 por hora. A fábrica no Paraná é responsável por seis modelos diferentes com 52 diversidades (o nível de equipamento dos carros).

Impressão 3D: para processos, não para carros

O Complexo Industrial Ayrton Senna ainda conta com um departamento destinado a impressão 3D — mas calma! Isso não significa que os veículos serão montados dessa maneira, muito menos que terão peças feitas em impressoras 3D.

A área conta com 8 funcionários e diferentes tipos de máquinas, que são capazes de produzir peças de reposição para o maquinário, ou até mesmo cases de proteção para alguns dos equipamentos usados pelos operários.

Esse departamento oferece ajuda em economia indireta — em vez de trocar um equipamento inteiro, ou encomendar uma peça que pode demorar para chegar, uma reposição é feita nas impressoras 3D para não prejudicar a produtividade da fábrica.

A inteligência artificial pode ajudar?

Recursos de inteligência artificial são usados, mas de maneira um pouco tímida: alguns robôs com câmeras fotografam partes dos veículos em produção e analisam as imagens para checar se tudo está como o esperado. Esse é, hoje, o principal uso da inteligência artificial na fábrica.

Mas, no futuro, recursos de IA podem oferecer até mesmo informações e sugestões para os funcionários decidirem como seguir em determinados processos. Ao coletar dados, uma máquina pode sugerir a melhor forma dela operar de acordo com as suas capacidades. A Renault diz que, quando isso vier a ocorrer, a decisão final sempre será tomada por um humano, que pode simplesmente ignorar as sugestões caso acredite que existe uma maneira mais eficiente da máquina operar.

FONTE: https://olhardigital.com.br/2023/07/26/pro/metaverso-industrial-como-a-renault-implantou-a-industria-4-0-em-suas-fabricas/