Metade das startups brasileiras segue crescendo mais de 90% ao ano, mas só 20% equilibra crescimento e lucratividade

Dados fazem parte de pesquisa da McKinsey divulgada no evento Brazil at Silicon Valley.

O primeiro grande destaque do estudo, segundo Marina, é que, se antes só crescimento bastava para as startups, agora é preciso equalizar com lucratividade. “A primeira boa notícia é que quase 20% das startups brasileiras já estão numa boa mistura entre crescimento e lucratividade”, diz.

Falando apenas de crescimento, grande parte das startups do país continua crescendo como se nada estivesse acontecendo: 53% delas cresce mais de 90% ao ano, mesmo num período de crise. Este número é muito maior no Brasil que na América Latina (perto dos 40%), segundo Marina, por conta do consumidor digital brasileiro e do tamanho do país.

“O Brasil tem uma receita muito boa para quem quer empreender, que une problemas complexos, uma população altamente digitalizada, indústrias muito concentradas e com atendimento ao consumidor muito ruim ainda. Então é um prato cheio para quem quer fazer uma disrupção”, diz a executiva.

Três pontos para redução de custos

O segundo ponto de destaque do levantamento, segundo Marina, é que, por mais que as startups do país cresçam muito, poucas delas são lucrativas: um terço delas, depois de nove anos, ainda não conseguiu dar lucro. “Esse caminho árduo em busca da lucratividade traz uma necessidade de olhar para custos muito grande”, afirma.

Segundo ela, há três pontos que as startups têm trabalhado para diminuir as despesas. Primeiro, a preocupação em reduzir o custo de aquisição de clientes (CAC). Segundo, os custos relacionados a tecnologia. “Elas nasceram nativas digitais, e muitas já nasceram em cloud, e geralmente esse é um custo dolarizado. Então, qualquer pressão no câmbio aperta muito esse calo de tecnologia.”

O terceiro ponto são os layoffs. De acordo com o estudo, mais de 40% das startups fez algum tipo de demissão – e, entre as que demitiram, os cortes foram de 20% a 30% da base de colaboradores.

Disputa por mão de obra

Apesar das demissões generalizadas, Marina aponta que o gargalo de mão de obra na área de desenvolvimento e tecnologia continua sendo uma questão, e que agora há uma forte competição por esses profissionais entre startups e empresas convencionais.

“Grande parte desses colaboradores considera mudar de emprego nos próximos 6 a 12 meses, o que mostra que o futuro próximo vai ser ainda mais difícil na retenção desses talentos”, afirma.

O que esperar para o futuro

Apesar de o volume de investimentos ter caído, espera-se que esse fique acima dos níveis pré-pandêmicos. “2021 foi um grande boom pontual. A gente espera que o volume continue crescendo de uma forma mais linear, e não tão exponencial.”

Segundo a McKinsey, esse crescimento deve vir muito de fundos locais, e deve ser extremamente focado em startups que estão começando, as chamadas early stage. Com isso, deve haver um potencial “buraco” no capital para as startups em fases mais avançadas, para o chamado growth stage.

Há aí, então, um potencial caminho para desenvolvimento dos fundos de grandes corporações, de corporate venture capital (CVC), desde que tenham um ajuste no modelo operacional. “Muitos não funcionam de forma autônoma, não têm uma tese de investimento clara. Então, tem alguns ajustes que eles precisam fazer para ocuparem esse espaço.”

Uma luz amarela que o estudo da McKinsey acende é que um terço das startups não tem dinheiro para mais de 18 meses de caixa, e por isso vai precisar fazer uma captação nos próximos meses. Portanto, com o cenário desfavorável, poderemos ter um boom de M&As por sobrevivência, além de um aumento de downgrounds, com startups se sujeitando a uma rodada de valuations menores.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/startups/noticia/2023/04/metade-das-startups-brasileiras-segue-crescendo-mais-de-90percent-ao-ano-mas-so-20percent-equilibra-crescimento-e-lucratividade.ghtml