A professora da FGV, Annelise Vendramini, comenta neste artigo detalha os desafios para a alta liderança corporativa compreender os riscos e oportunidades de novas tecnologias digitais.
Mudanças climáticas, biodiversidade, diversidade, direitos humanos, ESG, “net-zero” são exemplos de termos cada vez mais conhecidos dos gestores corporativos. Para muitos, esses termos são usados de maneira corriqueira, tendo sido definitivamente incorporados ao vocabulário corporativo. Há dez anos, entretanto, essa realidade era significativamente diferente. A inserção de sustentabilidade na pauta corporativa é antiga, mas sua importância e abrangência cresceram de maneira impressionante na última década.
Mas outra tendência além da sustentabilidade tem desafiado a habilidade de conselhos e gestores em manterem seus negócios competitivos. Trata-se da revolução digital, caracterizada pelo crescimento exponencial da capacidade de computação, cada vez mais acessível a um maior número de pessoas. A tecnologia digital permitiu acelerar exponencialmente o processo de inovação. Tecnologias como robótica, inteligência artificial, nanotecnologia, realidade aumentada, entre outras, desenvolvidas de maneira independente, começaram a convergir “acelerando a aceleração” do progresso tecnológico. Essa realidade tecnológica é atualmente enfrentada por negócios no mundo todo, colocando em xeque os fundamentos de suas vantagens comparativas.
É nesse cenário que, em 2023, ganhou força uma inovação que tem causado um misto de temor e fascínio: a inteligência artificial generativa (GenAI, na sigla em inglês). Embora a inteligência artificial já fosse conhecida e largamente utilizada, a inteligência artificial generativa representa uma nova fronteira, porque a partir da análise dos dados, do uso de linguagem natural e de redes neurais, a GenAI não apenas reconhece padrões, mas é capaz de criar padrões e dados. Enquanto a IA tradicional analisa dados e reconhece o que vê, GenAI pode usar esses mesmos dados para criar algo completamente novo.
O assunto ganhou tamanha relevância que foi um dos principais temas discutidos no 54º encontro anual do World Economic Forum em Davos, em janeiro de 2024, cujo tema foi “reconstruindo a confiança em meio as incertezas”. Apesar do encontro ter sido organizado em torno de quatro eixos (segurança e cooperação em um mundo fraturado; criação de crescimento e empregos em uma nova era; uma estratégia de longo prazo para clima, natureza e energia; e inteligência artificial como uma força motriz para a economia e sociedade) a GenAI foi “o” grande assunto. Atribui-se ao escritor britânico Arthur C. Clarke a famosa frase “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinta de magia”. Estamos todos encantados e aterrorizados com as potencialidades dessa magia.
As aplicações da GenAI são múltiplas e podem ser combinadas com outras tecnologias, como a IA tradicional, gerando impactos de forma abrangente sobre toda a cadeia de valor de um negócio. Sua interface é muito amigável em função da linguagem natural e, portanto, tem sido adotada com velocidade por empresas no mundo todo.
Grandes empresas como L’Oréal, Allianz, DHL, Accenture, entre outras, tem seus próprios GPTs, de forma a garantir a qualidade e segurança dos dados que alimentam os algoritmos. As empresas se preocupam também com o chamado “reskilling”, ou seja, capacitação de seus gestores para uso dessas potentes ferramentas.