M&A nas fintechs: Nomad compra Husky para ampliar vida financeira global dos brasileiros

A compra da Husky ocorre seis meses depois de a Nomad ter captado US$ 32 milhões, numa rodada com os fundos Monashees e Spark Capital.

Tiago Santos (CEO da Husky), Lucas Vargas (CEO da Nomad) e Maurício Carvalho (CTO da Husky): negócios complementares no mercado de remessas internacionais de recursos (Divulgação/Divulgação)

Uma das principais fintechs brasileiras abertas com a promessa de garantir aos brasileiros uma oportunidade de ter uma conta bancária no exterior de maneira simplificada, a paulistana Nomad comprou 100% do controle da também fintech paulistana Husky.

O negócio da Husky é, de certa maneira, o inverso da Nomad. Aberta há seis anos, a Husky mantém uma plataforma online para facilitar a vida de brasileiros com empregos no exterior.

A plataforma da Husky ajuda os profissionais a comprovar a origem dos recursos na hora de trazê-los para o Brasil e tem parceria com instituições financeiras para permitir o saque do dinheiro aqui.

O valor da transação entre as empresas não foi revelado, mas será pago em duas partes: uma em dinheiro à vista e outra em ações da Nomad aos sócios da Husky.

O que está por trás do negócio

A compra da Husky ocorre seis meses depois de a Nomad ter captado US$ 32 milhões, numa rodada com os fundos Monashees e Spark Capital (também investidor de gigantes como Coinbase, Slack e Twitter).

Desde a fundação, em novembro de 2020, a Nomad já captou US$ 59,5 milhões.

A compra da Husky faz sentido para consolidar a Nomad no mercado de remessas globais de recursos, diz Lucas Vargas, cofundador e CEO da fintech.

“A retomada das viagens para os Estados Unidos e exterior de forma geral, que estavam represadas na pandemia, ganhou força no fim do ano passado, o que colocou o mercado de remessas internacionais no radar de grandes empresas”, diz.

Como funciona a Husky

O bom momento da Husky colaborou para o negócio. A empresa fundada em São Paulo por Tiago Santos (atual CEO) e Maurício Carvalho (CTO) é 100% boostrapped, ou seja, cresceu sem nunca ter recebido aportes. Em 2022, a empresa opera perto do breakeven.

Em operação home office desde o dia 1 da operação, em 2016, a Husky movimentou mais de R$ 2,7 bilhões pela plataforma em seis anos. A expectativa é bater R$ 3 bilhões até o fim do ano.

Entre os principais clientes estão empresas estrangeiras em busca de um jeito simples para pagar funcionários com base no Brasil.

Em geral, são programadores, designers e outros profissionais de tecnologia de empresas com base nos Estados Unidos, Europa e Ásia cada vez mais acostumadas a recrutar brasileiros para trabalho à distância.

Esse público conferiu à Husky um NPS médio acima de 80 pontos. “É um sinal do alto engajamento e satisfação dos clientes”, diz Vargas.

A união da plataforma da Nomad com a da Husky, na visão do CEO da Nomad, possibilita a criação de um ambiente único de serviços internacionais, algo que não existe atualmente no mercado brasileiro.

“Além disso, poderemos incrementar a receita da Nomad, trazendo não somente novos clientes mas também recorrência, proveniente de pessoas que recebem seus salários mensalmente”, diz.

Os funcionários das duas empresas, 250 ao total, trabalharão em conjunto já a partir dos próximos dias.

A sede das duas empresas será a da Nomad, na Avenida Faria Lima. Por ora, a intenção é manter as duas marcas.

Quem fundou a Nomad

A ideia por trás da fundação da Nomad partiu de perrengues enfrentados por Patrick Sigrist, um dos fundadores do iFood e investidor inicial da empresa, ao tentar utilizar cartões de crédito emitidos no Brasil ou remeter para fora recursos obtidos aqui.

Compartilhando das mesmas dores para movimentar volumes financeiros entre países, Vargas juntou-se ao grupo ainda em 2020, após oito anos em cargos executivos — inclusive o de CEO — no Grupo Zap, um classificado online de imóveis.

A saída dele ocorreu após a venda do Grupo Zap à OLX, negócio aprovado pelo Cade em setembro daquele ano.

Antes, Vargas foi um dos pioneiros do negócio de compras coletivas no Brasil, ao fundar um deles (Deu Samba) e chefiar a operação brasileira de outro (Groupon).

O negócio inicial da Nomad foi uma conta bancária nos Estados Unidos, e em dólares, acompanhada por um cartão de débito habilitado para uso no exterior. Hoje, o sistema é aceito em mais de 180 países.

Através da conta-corrente, os clientes podem:

  • Manter o patrimônio financeiro em moeda forte
  • Enviar e receber dinheiro via transferências
  • Fazer compras internacionais economizando em torno de 10% quando comparado com um cartão emitido no Brasil, nas contas da empresa

De 2020 para cá, a plataforma da Nomad passou a contar também com a função de investimentos em ações americanas e ETFs.

FONTE: https://exame.com/negocios/ma-nas-fintechs-nomad-compra-husky-para-ampliar-vida-financeira-global-de-brasileiros/