Livrarias apostam em marketplaces para elevar as vendas durante a crise

Martins Fontes cresceu 13,5%, apostando em loja como ponto de encontro e em venda via marketplaces FOTO: DIVULGAÇÃO

Sistema de shopping virtual virou braço direito para a operação das lojas físicas. Embora o avanço do mercado de livros tenha sido brando em 2017, empresários já confirmaram uma recuperação.

Após anos de perda de receita, o mercado de livros apresentou uma retomada de 1,5% no faturamento em 2017, atingindo a marca de R$ 2,27 bilhões. Em uma evolução mais visível, as livrarias, que representam 92,5% dessas vendas, avançaram 6,5% no ano – impulsionadas pela proliferação dos marketplaces no Brasil.

Os dados são do relatório Mercado do Livro, realizado pela consultoria GfK em parceria com a Associação Nacional das Livrarias (ANL). Diferentemente do Painel das Vendas de Livros, balanço divulgado pela Nielsen, o relatório da GfK calcula, além dos resultados das livrarias, as vendas realizadas através de supermercados, hipermercados, lojas de autoatendimento e de departamentos.

Segundo o estudo, o mercado de livros faturou R$ 2,27 bilhões, ante um resultado de R$ 2,23 bilhões em 2016. Em volume de livros vendidos, no entanto, o setor apresentou decréscimo de 1,9% no ano – foram 53,9 milhões de exemplares comercializados em 2017. “Foi um ano de melhora, mas ainda assim um ano de crise. Vale ressaltar a importância das livrarias para esses números. Tirando uma ou outra exceção, não vi nenhum mercado que tenha visto um crescimento de 6,5% [em 2017]”, analisou o gerente de pesquisa de mercado na GfK, Filipe Mori.

O que sustentou esse avanço de 6,5% nas vendas do canal especializado de livrarias em 2017, na opinião do executivo, foi o fato de as varejistas terem redobrado a atenção ao âmbito on-line, apostando em vender via e-commerce próprio e, sobretudo, em marketplaces.

Seguindo essa tendência, o grupo Livrarias Curitiba viu um caminho para crescer seu faturamento em 6,5% no ano, que registrou aproximadamente R$ 310 milhões. “Nós começamos a trabalhar com marketplace de uns tempos para cá. Hoje já vendemos em sete marketplaces. Está dando resultado, pois conseguimos expor nosso estoque de cauda longa que as outras livrarias on-line não têm”, comenta o diretor comercial do grupo Livrarias Curitiba, Marcos Pedri.

Com a presença de lojas concentrada nas regiões Sul e Sudeste, a empresa investe na construção de um novo centro de distribuição, que recebeu investimento de R$ 25 milhões, para dar passos maiores nos próximos anos. “Estamos vivendo um bom momento no mercado. Tivemos um crescimento de 5,8% nas vendas de livros, juntando as livrarias, atacado e o e-commerce. O livro representa 67% do nosso faturamento”, acrescenta. Contudo, as vendas pela internet ainda são ínfimas em relação ao varejo físico da rede.

Além de apostar em elevar a receita com internet, a Livraria Martins Fontes investe em espaços de cafeterias para aumentar o fluxo de clientes em algumas unidades. “Estamos instalando um café na nossa livraria da Rua Dr. Vila Nova por entender que a livraria hoje precisa ser um local convidativo, que funcione como um ponto de encontro para que as pessoas passem mais tempo nas lojas”, afirma o diretor-executivo de quatro operações da Livraria Martins Fontes, Alexandre Martins Fontes.

O investimento no espaço está estimado em R$ 120 mil. A expectativa é que as vendas da unidade cresçam 30%, assim como a operação localizada na Avenida Paulista, em São Paulo, em que o café ajudou a unidade a alcançar um faturamento de R$ 16,77 milhões em 2017. Ao todo, a rede faturou R$ 27,05 milhões no ano, alcançando uma alta de 13,5%.

Descontos elevados

Segundo a pesquisa da GfK, o desconto médio sob o valor do preço de capa dos livros foi de 17,4% em 2017, alta de 0,3 ponto percentual (p.p.) em relação ao ano anterior. Nos 500 livros mais comercializados no ano, o desconto médio, calculado pela Nielsen, foi de 28,09%. Existe uma percepção de que as livrarias sacrificam a possibilidade de ganho com isso. Para barrar esses descontos e a concorrência tida como predatória, principalmente na internet, o Projeto de Lei do Senado nº 49/2015 visa restringir os descontos nos lançamentos em, no máximo, 10%.

“Eu sou a favor de manter o preço de capa determinado pelo editor. Continuo apoiando a necessidade de termos uma lei que regule o comércio de livros minimamente. Os mercados da Europa [que adotaram uma lei assim] estão funcionando bem, principalmente para acabar com essa concorrência predatória”, afirma o presidente da Associação Nacional das Livrarias, Bernardo Gurbanov.

FONTE: DCI