Investir com cartão de crédito? Arriscado, mas pode virar tendência entre fintechs, dizem especialistas

Banco Inter (INBR31) anunciou que os clientes vão comprar produtos financeiros com o cartão de crédito na sua plataforma. A ‘novidade’, embora semelhante às práticas de corretoras – como a alavancagem -, oferece vantagem aos que possuem estabilidade e ao banco, mas apresenta altos riscos ao investidor pessoa física.

Ainda assim, especialistas apontam que a estratégia de permitir que se possa investir com o cartão de crédito deve ser cada vez mais recorrente, dada a alta competitividade do mercado em que a empresa está inserida.

“Para todos os emissores é difícil ter uma base de cartões ativos, com compras e transações e assinaturas de serviços, já que é daí que vem uma rentabilidade relevante. Pode ser que isso gere algum movimento em outras fintechs e bancos digitais de começarem a utilizar outros instrumentos de crédito para oferecer investimentos”, analisa Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios.

Mas, segundo o especialista, ainda há riscos inerentes à operação, mesmo para o banco.

“Acredito que o nível de risco para o banco também é relativamente alto, já que é possível que ocorram aquisições de investimentos sem ter o lastro para pagar no fim do mês. Ele pode entrar no rotativo; mesmo com as regras atuais do Banco Central, de teto de juros, você eleva o risco de inadimplência”, acrescenta Marinello.

André Massaro, educador financeiro e professor da FIA Business School e do ibmec, destaca que do ponto de vista do investidor pessoa física, o risco é elevado.

“Eu vejo [a novidade do Banco Inter] como algo neutro ou negativo. A vantagem do cartão de crédito é que ele dá um período sem juros para o pagamento. Para uma pessoa com uma renda absolutamente estável, com renda alta e estabilidade, dá para aproveitar os dias de juros grátis até o vencimento da fatura. Mas o lado negativo é alguém eventualmente fazer dívida para investir”, explica.

Para o especialista, a decisão de comprar investimentos com cartão de crédito pode acarretar problemas caso o correntista não tenha segurança financeira.

Segundo Massaro, caso o investidor não tenha segurança para o pagamento da fatura do cartão, pode acabar ganhando uma rentabilidade pequena com um investimento e pagando juros altíssimos ao entrar no rotativo.

“Tomar dinheiro emprestado para investir raramente é uma boa ideia. É bom para as empresas, mas para o investidor pessoa física não costuma ser vantajoso”, conclui.

Além disso, o educador financeiro acrescenta que o risco já é elevado mesmo em casos de investimentos em renda fixa – os únicos ainda permitidos pelo Banco Inter nessa nova modalidade.

Cartão de crédito pode virar ‘alternativa complementar’

Apesar de ser mais um meio de dar aos clientes mais opções na hora de investir, Marinello explica que a maior parte dos investimentos deve seguir inalterada em termos de meio, já que não há nenhuma ameaça à predileção pelas corretoras e os ‘meios tradicionais’.

“O que levaria um cliente a investir via cartão de crédito em vez de com os outros meios dele? A única vantagem é realmente se você enxergar uma oportunidade quando não tiver o recuso em mãos em um exato momento, e assim recorrer ao cartão. Mas não acho que isso será um ciclo convencional”, explica.

“As pessoas não vão deixar de investir pelos meios tradicionais, esse é um produto complementar”, ressalta.

Como funciona a novidade do Banco Inter

Conforme reportado pelo Suno Notícias, é possível comprar, com o limite de crédito do Banco Inter, de R$ 500 até R$ 5 mil em Letra de Crédito Imobiliário (LCI), um título de renda fixa com liquidez de 180 dias.

Assim o correntista da fintech pode pagar pelo título de renda fixa somente quando a fatura do cartão vencer. Além disso, a expectativa é de que no futuro o Inter disponibilize mais produtos de investimentos nessa modalidade.

Vale lembrar que nessa modalidade de investimento no cartão de crédito o cliente do banco só consegue resgatar a aplicação financeira na data estipulada caso tenha pagado a sua fatura de cartão de crédito dentro do prazo.

A possibilidade de investir com o cartão de crédito deve ficar disponível para toda a base de clientes que tem acesso ao limite no Banco Inter. Atualmente, a fintech soma uma base de cerca de 20 milhões de clientes (incluindo os sem limite de crédito) conforme seu último resultado trimestral.

FONTE: https://www.suno.com.br/noticias/cartao-de-credito-investimentos-banco-inter-inbr31/