‘Internet do espaço’: o plano da Amazon para enfrentar Musk fora da Terra

A Amazon está mais do que decidida a criar a sua própria constelação de satélites artificiais fora da Terra numa resposta aos avanços da Starlink, rede que oferece internet banda larga via satélite da SpaceX, de Elon Musk. A iniciativa é chamada de Projeto Kuiper, e tem como promessa a oferta no futuro de internet rápida de baixo custo. Em encontro com jornalistas da imprensa internacional, em sua sede nos Estados Unidos (apenas dois do Brasil), pude ver de perto como são as antenas que farão parte dessa rede.

A tecnologia da Amazon e da SpaceX é parecida: milhares de pequenos satélites funcionando na órbita baixa da Terra (LEO, de Low Earth Orbit), capazes de levar conexão para o mundo todo, incluindo regiões remotas. A primeira tem o objetivo de enviar 3.236 estruturas do tipo nos próximos anos. A empresa de Elon Musk planeja ter 4.425 satélites em 2024 e chegar a 12 mil até 2027.

Imagem mostra o modelo de uma das antenas que o consumidor poderá comprar - Divulgação - Divulgação

O plano ambicioso da Amazon

A empresa exibiu três modelos diferentes de antenas – que ainda podem sofrer alterações até o lançamento. Segundo Naveen Kachroo, chefe de produto e desenvolvimento de negócio da rede Kuiper, a ideia é suprir a necessidade de cada cliente com o menor custo possível. “Estamos desenvolvendo isso desde 2018”, disse Kachroo, que antes de entrar na Amazon trabalhava justamente no desenvolvimento da Starlink.

Confira as opções que os clientes poderão comprar:

  • Antena padrão: tem 28 cm x 28 cm e pesa cerca de 2kg. Foi projetada para oferecer conexão de até 400 megabits por segundo (Mbps). Segundo a empresa, o custo de produção é de menos de US$ 400 por unidade.
  • Antena menor: uma versão ultracompacta e mais barata, com 18 cm x 18 cm e apenas meio quilo, para quem precisa transportá-la para diferentes lugares ou quer um plano menor de internet: a velocidade será de até 100 Mbps.
  • Antena grande: para clientes empresariais e governamentais, o terminal é fixo e parrudo, com 81 cm x 46 cm, para alcançar até 1 gigabit por segundo (Gbps).

Amazon exibe três modelos de antenas de internet via satélite que serão enviadas ao Espaço - Marcella Duarte/Tilt - Marcella Duarte/Tilt

Todas tem um design com a superfície plana, feito de algum tipo de plástico branco e brilhoso. Elas são alimentadas por um chip proprietário da Amazon, batizado de Prometheus, que também estará a bordo dos satélites.

Perguntado por Tilt sobre as novas tecnologias embarcadas no programa, Kachroo disse que inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina (capaz de um sistema aprender sozinho) serão usados para receber feedback do uso — por exemplo, as regiões e horas do dia com mais fluxo de acessos — e assim otimizar a conexão em tempo real. Os preços das tecnologias para o consumidor não foram revelados e nem os planos relacionados ao acesso da internet via satélite. Segundo a Amazon, a meta é desenvolver um terminal que custe menos de US$ 500, além de ser menor, mais leve e fácil de operar do que os concorrentes. Lembrando que um dos entraves para a disseminação da rede Starlink é o alto custo do hardware. Nos EUA, a antena residencial custa US$ 599 (no Brasil, sai por R$ 2 mil com impostos, mais uma mensalidade de R$ 230) e a empresarial US$ 2.500.

Quando a Amazon lançará a rede?

De acordo com a Amazon, ainda este ano serão lançados dois protótipos de satélites “Estes serão apenas para testes. Com eles, teremos conexão apenas alguns minutos por vez”, explicou o executivo. Os primeiros lançamentos comerciais ficarão para 2024, quando os primeiros pilotos de internet para alguns clientes começarão. Conforme a licença da FCC (Comissão Federal de Comunicação, que regula o setor dos EUA), o prazo para lançar pelo menos 50% da frota é até 2026, e 2029 para 90%. Kachroo mostrou que haverá satélites da rede Kuiper sobrevoando quase todo o globo terrestre, a cerca de 600 km de altitude. “Nossos satélites verão tudo”, disse se referindo à cobertura.

Ele garantiu ainda que a empresa já tem diversas parcerias para os lançamentos – nenhuma delas é a SpaceX. Os foguetes usados serão:

  • New Glenn, da Blue Origin (a empreitada espacial de Jeff Bezos, fundador da Amazon)
  • Atlas V, da United Launch Alliance (ULA, uma cooperação entre Lockheed Martin e Boeing)
  • Vulcan Centaur, também da ULA, ainda em desenvolvimento
  • Ariane 64, da francesa Arianespace

E o lixo espacial gerado pelas tecnologias?

Segundo Kachroo, a Amazon tem preocupação com “segurança e sustentabilidade”, principalmente para evitar que satélites caiam na Terra de forma descontrolada ou batam uns nos outros. Motores em cada um dos equipamentos os permitem fazer manobras para desviar de colisões em órbita e também queimar na atmosfera terrestre quando chegar a hora de “morrer” (um satélite LEO tem vida útil de cerca de 5 anos), similar ao que já acontece na Starlink, explicou a Amazon. Porém, não foram citadas ações para reduzir o lixo espacial, a poluição gerada por tantos lançamentos de foguetes, ou o impacto dessas constelações artificiais em estudos científicos relacionados à astronomia — temas que têm preocupado a comunidade internacional. Ao ser questionado por Tilt sobre esses temores, Kachroo se limitou a dizer: “estamos fazendo investimentos para nos certificar que não serão problemas.”

FONTE: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2023/05/09/rede-kuiper-vimos-de-perto-as-antenas-de-internet-via-satelite-da-amazon.htm