Inteligência artificial: Assistentes de voz começam a fazer parte da vida dos brasileiros

O ALTO-FALANTE ECHO DA AMAZON TEM ALEXA COMO CÉREBRO (FOTO: DIVULGAÇÃO / AMAZON)

Alexa, onde está minha carteira?”. Imediatamente, soa um apito e o estudante de publicidade Gabriel Montresol, de 19 anos, encontra o que estava procurando. Desde o ano passado, quando comprou uma assistente de voz nos Estados Unidos, o jovem usa o pequeno robô da Amazon para auxiliá-lo em diversas atividades, sobretudo nas mais simples, seguindo uma tendência que começa a crescer no Brasil depois de conquistar países desenvolvidos: o relacionamento com a inteligência artificial.

A possibilidade de perguntar ao aparelho onde está a carteira ou as chaves só existe porque Gabriel acoplou a estes itens pequenos sensores, chamados Tile, que, quando acionados por um assistente de voz, apitam.

Atividades cotidianas

Chamar um carro do Uber, programar o alarme para ser acordado com sua música preferida e perguntar qual serão as condições climáticas do dia são outras ações que a Alexa executa para o rapaz cotidianamente.

— Enquanto ela me diz a previsão do tempo de forma detalhada, também sugere com que tipo de roupa devo sair para não passar frio ou calor — conta.

As funções desses assistentes, como a Alexa ou o Google Home, ainda são limitadas no Brasil na comparação com as atividades que podem executar nos Estados Unidos. Relatório da National Public Media mostra que os principais “serviços” dos assistentes por lá são colocar música para tocar (60%), responder a uma pergunta (30%), falar sobre o clima (28%), contar uma piada (18%), ligar o rádio (13%), dar notícias (13%), programar o alarme (13%).

Aqui, tecnologias de localização ou a discagem para fazer chamadas ainda não funcionam. A conversa com os aparelhos também precisa ser feita em inglês. Amazon e Google afirmam que não têm ainda previsão de quando vão vender os itens capazes de falar português no Brasil. No mercado, circula a informação que isso pode acontecer em 2019.

— Tivemos a interface touch, que começou com o iPhone. E, agora, chegou a conversação. É uma tendência que já está aí e não tem mais volta — resume Ricardo Murer, cientista computacional e fundador da start-up Hypersense. — Do mesmo jeito que a Netflix ensina um novo jeito de assistir televisão, em que você escolhe o que quer, as crianças de hoje não vão conhecer o toque, o mouse.

Alta adesão nos EUA

Não à toa, os americanos estão aderindo aos assistentes de voz mais rapidamente do que aderiram aos smartphones. O relatório da National Public Media aponta que 23 milhões de residências americanas, ou 19%, já têm uma Alexa, um Google Home ou aparelho similar em casa. Projeção da Gartner afirma que até 2020, 75% das casas dos EUA terão um ou mais aparelhos deste tipo, lançados há apenas três anos.

A taxa de adoção de um alto-falante inteligente aumentou nada menos que 128% só ao longo do ano passado. O uso do pequeno robô tem sido mais variado e vai desde a alocação para funções tecnológicas até o uso como companheiro de pessoas idosas e entretenimento para crianças.

— Ter um assistente de voz, que interage muito rapidamente com a pessoa, é uma forma de fazer as pessoas usarem a tecnologia sem ter de pensar que ela existe — diz o francês Rand Hindi, especialista em inteligência artificial da Snips, empresa que promete trazer ao varejo brasileiro um assistente de voz no ano que vem.

Hindi detalha que essa intenção de usar a tecnologia sem pensar nela se concretiza quando o usuário do aparelho está em casa, quer assistir a uma partida de futebol e não usa o controle remoto nem se preocupa com o horário que o jogo vai começar.

— Você pode pedir diretamente ao seu assistente de voz para que ele localize o canal que está transmitindo o jogo e ligue a TV no horário que começar — contou.

Custo é relativamente baixo

Diferentemente do que pode parecer, o custo desses aparelhos não é alto. Tanto o Google Home como a Alexa custam US$ 49 (cerca de R$ 170) nos Estados Unidos. Apetrechos como o Tile, usado no Brasil por Gabriel para localizar sua carteira ou as chaves, custam em torno de US$ 10 (cerca de R$ 34).

Para os especialistas, ainda há questões que precisam ser aperfeiçoadas pelas empresas que desenvolvem os assistentes de voz. Murer cita, por exemplo, que é preciso que haja um reconhecimento da voz dos donos do robô para que ele não seja ativado por qualquer pessoa. Isso por uma questão de segurança.

— Imagine que a porta da sua casa está conectada e pode ser aberta pelo assistente. E, então, um invasor vai à sua janela e pede que seja aberta a porta. É uma situação que não pode ocorrer — analisa.

FONTE: ÉPOCA