Inovação tecnológica é solução para sustentabilidade na saúde

João Santilli, do grupo Salus; Alexander Corvello, do Hospital do Coração de Londrina; jornalista Diego Prazeres, mediador do painel; Rodrigo Silvestre,do Tecpar e André Martins Neto, do Isae/FGV

O caminho para um sistema de saúde sustentável no futuro passa pela inovação tecnológica. Essa é uma das muitas conclusões que surgiram do painel realizado na 12ª edição do EncontrosFolha, que teve como tema “O Mercado de Saúde em Londrina – Tecnologia e Inovação para Serviços e Produtos”. O painel, conduzido pelo jornalista Diego Prazeres, editor de política da FOLHA, teve a participação do palestrante Rodrigo Silvestre, do TecPar; do médico Alexander Corvello, do Hospital do Coração de Londrina e membro da Câmara Técnica de Alta Complexidade Cardiovascular do MS (Ministério da Saúde); do professor doutor André Martins Neto, do Isae/FGV; e de João Santilli, do Grupo Salus.

“A palavra-chave para o sistema de saúde no mundo inteiro é a sustentabilidade. Os governos de todos os países sabem que, se nada for feito, não haverá recursos nos próximos anos para manter o atendimento da população”, avisa Martins Neto. O professor observa que, em 2047, haverá mais idosos que adolescentes na população de Curitiba, e o impacto econômico disso no sistema de saúde é gigantesco. “Um jovem de até 20 anos consome 780 dólares ao ano do sistema público. A partir dos 50, ele passa a consumir 3.400. Com isso já dá pra ter uma ideia do desafio que espera governantes e operadoras de sistema privado de saúde.”

Para ele, a TI (Tecnologia da Informação) pode “salvar” o sistema de saúde, com o desenvolvimento de soluções tecnológicas disruptivas, capazes de mudar o rumo de uma doença com base em dados coletados do sistema. O resultado disso é geração de economia de recursos, que podem ser aplicados no cuidado de outros pacientes.

A melhor maneira de promover a criação desse tipo de tecnologia é com a interação entre o financiador crítico da saúde no Brasil – o SUS (Sistema Único de Saúde), empreendedores e usuários. No entanto, é preciso mudar a mentalidade de “imediatismo” na saúde, ressalta Martins Neto. É preciso pensar projetos de longo prazo, ideia também apoiada por outros painelistas do EncontrosFolha. “O imediatismo na saúde tem que acabar. Não adianta fazermos projetos e ficarmos apagando incêndios. Nós temos que fazer projetos para o futuro, para daqui a 20, 30 anos economizar”, diz o professor do Isae/FGV.

Diante da escassez de recursos, Martins Neto propõe mudanças na maneira de estabelecer prioridades no investimento de projetos, usando como critério, por exemplo, a taxa de retorno. “Os recursos são limitados, sejam eles privados ou públicos. Pela escassez, o recurso tem que ser alocado no projeto que dá mais retorno.”

OFERTA DE TECNOLOGIA
Desde a realização da primeira angioplastia (dilatação da artéria), em 1964, nos EUA, foram criados de 60 a 70 outros procedimentos minimamente invasivos para o método, destaca Alexander Corvello, médico especialista em radiologia intervencionista do Hospital do Coração de Londrina. “Através de um furinho de 5 mm, você consegue tratar um aneurisma cerebral, às vezes, em 20 minutos, câncer de fígado, desobstruir artérias, tratar sangramentos de hemorragia digestiva, embolia pulmonar, que são 600 mil casos novos por ano nos EUA sendo que 11% nem chegam ao hospital.” Ele lembra que Londrina, como pioneira do setor, também está inserida nesse contexto de inovação.

“A tecnologia e a globalização fazem com que os métodos estejam em todos os lugares. Londrina sempre esteve à frente na tecnologia. Na medicina tem sido muito importante no desenvolvimento de salvar vidas e de poder tratar desses pacientes”, ilustra.

No entanto, o médico salienta que a tecnologia gera custos, criando um dilema na atividade. “É difícil para nós, como profissionais médicos, e até vedado segundo o Código de Ética médica do Conselho Federal de Medicina, deixar de oferecer a melhor tecnologia para aquele paciente. Tanto o SUS como os sistemas privados têm que viabilizar este custo. A gente acaba se defrontando com um aspecto que não é da medicina. Nossa obrigação é salvar vidas”, completa.

Sobre a busca por excelência na gestão das empresas do setor de saúde, Corvello comenta que a acreditação atualmente se tornou banal. Segundo ele, existem vários critérios e várias acreditações. “Hoje a parte da acreditação é ligada muito à parte de marketing. Na maioria dos grandes centros é difícil dizer que aquele hospital [acreditado] vai me atender por inteiro porque lá tem acreditação. A confiança é difícil de adquirir e fácil de se perder”, comenta. De acordo com Corvello, “certificações existem desde sempre entre dois órgãos que regem medicina, a Associação Médica Brasileira – que emite títulos de especialista – e o Conselho Federal de Medicina, que diz na legislação que ser você tem CRM você pode fazer qualquer procedimento.”

FONTE: FOLHA DE LONDRINA