Inovação e tecnologia na aplicação da segurança privada

 

Desde a abertura de mercado no Brasil, ocorrida na virada dos anos 80 para os 90, ainda no governo Collor, a competição empresarial se tornou mais difícil, na época, muitas empresas quebraram e muitas ainda patinam na competição globalizada.

A inovação, não só tecnológica, mas de gestão, produção e prestação de serviços ainda vão mudar o mundo, mais rápido do que se imagina hoje.

Exemplos de inovação

Apenas para citar alguns exemplos de inovação, podemos observar as mudanças na produção, criadas por Henry Ford, no início do século XX, com sua linha de montagem que revolucionaria a indústria automobilística.

O Cirque du Soleil, com a criação de outro tipo de entretenimento, deixando a competição entre circos e passando para outro patamar, o conhecido Oceano Azul, citado no livro de A Estratégia do Oceano Azul (2005).

No livro os autores W. Chan Kim, Renée Mauborgne definem que uma boa estratégia para se chegar ao oceano azul é baseada em três premissas: foco, singularidade e mensagem consistente ao mercado.

Isso é inovação, que nas palavras dos autores, é chamada de “inovação de valor, pois em vez de se esforçarem para superar os concorrentes, concentraram o foco em tornar a concorrência irrelevante, oferecendo saltos no valor para os compradores e para as próprias empresas, que assim desbravaram novos espaços de mercado inexplorados.

A inovação de valor é uma nova maneira de raciocinar sobre a execução da estratégia, que resulta na criação de um novo espaço de mercado e no rompimento com a concorrência. Muito importante, a inovação de valor desafia um dos dogmas mais comuns da estratégia baseada na concorrência – o trade-off valor-custo” (A Estratégia do Oceano Azul, pág. 33).

Mas como e porque ocorrem as inovações?

Quem responde a esta pergunta é o físico Clemente Nóbrega, no seu livro A Intrigante Ciência das Ideias que Dão Certo (2015) ele cita o Teorema de Ian Morris, que diz que a “mudança é causada pela preguiça, ambição e medo das pessoas que buscam maneiras mais vantajosas e segura de se fazer as coisas. Elas reagem pressionadas por necessidades induzidas por mudanças em suas geografias, e raramente sabem o que estão fazendo” (pág.14).

Ele afirma, e dá vários exemplos, que a geografia no mundo empresarial são comportamentos e atitudes. Empresas que não chance para criar e errar não possuem uma geografia adequada para inovação. Para se ter uma ideia da importância do ambiente de trabalho, Nobrega daria nota sete para a influência do ambiente na inovação e três para o gênio criador da inovação.

A preguiça citada por ele refere-se à comodidade ou busca de facilidades para executar uma determinada tarefa, que é o que todos nós fazemos quando vamos executar alguma coisa, procuramos o modo mais simples e eficaz para realiza-la. Ele também traduz como comodismo.

A ambição é querer ganhar mais e ambição tem custo, o custo do aprendizado por subtração (através dos erros). Muitas empresas por medo ou comodismo deixam a ambição de lado e continuam a fazer o mesmo, o tempo todo.

Conhecimento humano e tecnologia

A produção do conhecimento humano demonstrada através dos avanços tecnológicos, entre outras áreas da ciência, que podem ser observadas em alguns exemplos da nossa história recente.

Basta observarmos que a tecnologia de ouvir músicas via rádio, só ficou totalmente difundida acima de 50 milhões de usuários após 38 anos. A TV levou 13 anos para alcançar o mesmo público, a Internet 4 anos, ipod 3 anos, facebook 2 anos, que hoje tem mais de 1,3 bilhão de usuários.

Mudanças tecnológicas trazem consigo a mudança comportamental e de gestão. O WhatsApp que tem cerca de 1 bilhão de usuários e possui 55 funcionários. Além disso, como diversas empresas utilizam o aplicativo para comunicação e reuniões, alterando seus processos de comunicação, tirando proveito da tecnologia e barateando seus custos com ligações entre outras oportunidades de ações pontuais para cada tipo de negócio.

Com muito mais mudanças e disrupturas com serviços convencionais, o desenvolvimento da revolução 4.0 que trouxe consigo: a inteligência artificial, a robótica, IoT – internet das coisas, os veículos autônomos, a impressão em 3D, a nanotecnologia, a biotecnologia, o armazenamento de energia, mudando as empresas, os negócios e o comportamento das pessoas.

Inovação não é apenas tecnológica

A inovação não é apenas tecnológica, é de gestão, de empoderamento. Ela se refere a forma com que a empresa presta serviço, processa informações, constrói coisas, dá resultado, etc.

De acordo com o professor Fernando Só e Silva e Michel Pipolo de Mesquita, no livro Competitividade em Gestão de Serviços: Service Level Agreement (SLA) e Service Level Management (SLM), 2018 relata que “ O conhecimento sobre gestão nos ensina que o conceito de tecnologia está presente na própria definição de serviços: Serviço é o resultado de um processo, composto por entradas, na forma de inteligência humana, informações recursos materiais, intervenção da mão de obra especializada. Tudo isso processado por meio de algum tipo de atividade, resultando, então, numa saída, a entrega do serviço” (pág. 112). 

Além disso, os autores complementam “ A aplicação de tecnologia no gerenciamento de serviços deve estar relacionada à melhoria da qualidade, aumento da produtividade, redução de custos e interações com o cliente. A percepção de qualidade pelo cliente, muitas vezes baseia-se em alguns indicadores, destacando-se:

Confiabilidade – capacidade de entrega de serviço;

Acuracidade – capacidade de o serviço ser entregue considerando todo o escopo especificado;

Consistência – Estar de acordo com o especificado no contrato, seguindo padronização, tem regularidade e baseado em alguma lógica;

Velocidade – As atividades são realizadas e a equipe demonstra agilidade no cumprimento das tarefas;

Resolutividade – eficiência na capacidade de resolver problemas quando aparecem” (pág. 113).

Sem medo de mudanças

Muitas empresas têm medo de fazer mudanças em seu modelo de negócios, mas esse cenário de disruptura apresenta também outras oportunidades de geração de novos negócios, inclusive com a abordagem tecnológica, ou seja, tirando proveito das mudanças, usando-as em seu favor.

Algumas empresas de segurança já perceberam essa tendência trazida pela quarta revolução industrial e começam a desenvolver startups para novos serviços e produtos.

A ABSEG – Associação Brasileira de Profissionais de Segurança possui um Comitê de startup que atua diretamente com proposições para novos serviços diretamente ligados à segurança privada.

Outra forma de utilização da tecnologia, nesse caso, para o desenvolvimento das pessoas foi o de aproximação da realidade utilizando um ambiente virtual nos treinamentos possibilita melhorar a curva de aprendizado no que diz respeito às atitudes no cotidiano do trabalho operacional.

Treinamento dos profissionais da segurança

Muitas vezes, os profissionais de segurança não têm a oportunidade de treinar além do disparo com a arma de fogo e este treinamento aprimora e desenvolve o conhecimento profissional.

Ele foi desenvolvido pela TIS Academy, sendo que a inovação está em integrar as tecnologias de Realidade Virtual, IoT e algoritmos analíticos com uma metodologia educacional ativa, chamada PBL (Problem Basead Learning) e com a personalização do aprendizado. Esta plataforma permite que o profissional assuma uma postura mais ativa, na qual ele resolve problemas e constrói seu próprio conhecimento.

A plataforma é composta por três partes que se comunicam via tecnologia 3G/Wi-Fi para permitir que os dados dos treinamentos realizados, tanto com o TIS MB (simulador mobile), quanto pelo TIS VR (simulador standard), possam ser enviados e armazenados na plataforma de cloud computing (InfoTIS).

Com esse tipo de simulador é possível não só treinar a parte de uso progressivo da força e tiro, mas também as técnicas de segurança como OMD (Observar, Memorizar, Descrever) e IDA (Identificar, Decidir, Agir) de forma escalável.

Sendo este, mais um exemplo de inovação nas nossas atividades operacionais da segurança privada, com baixo custo, melhor treinamento dos profissionais, adequação a contratos que exijam treinamentos constantes e uso de tecnologia.

Para finalizar, quero citar o escritor e futurista Alvin Toffler “O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”.

FONTE: REVISTA SEGURANÇA