Inovação e sustentabilidade: seja a mudança que você quer ver

Inovação não é apenas para startups. Ouvimos bastante sobre a necessidade de executivos equiparem seus negócios para as mudanças, como as inesperadas inovações disruptivas. A melhor maneira de reagir às mudanças é se transformar na disrupção que poderia ameaçar a companhia. Essa é uma opção tanto para empresas estabelecidas no mercado quanto para startups.

Negócios familiares são frequentemente associados ao conservadorismo, mas a Widex, fabricante de aparelhos auditivos estabelecida na Dinamarca em 1956, desafia essa caricatura. Sua história é permeada de avanços tecnológicos: o primeiro aparelho auditivo programável em 1988, o primeiro dispositivo para ouvido totalmente digital em 1995 e um dispositivo que transmite o áudio do celular para o aparelho auditivo em 2014. A empresa ainda tem outros avanços em andamento.

Controlada até hoje pelas famílias Tøpholm e Westermann, a companhia também associa suas invenções ao seu comprometimento social e ambiental e à sua arquitetura. Recentemente visitei a futurística sede e centro de produção da empresa em Lynge, Dinamarca, próximo a Copenhague, e entrevistei Jan Tøpholm e seu filho, Richard. Jan é chairman e coproprietário, enquanto Richard é diretor de neurotecnologia.

Começamos com uma discussão sobre o impressionante quarte-general da empresa, inaugurado em 2010. O local conta com aquecimento geotermal e sistema de resfriamento a partir de águas subterrâneas, painéis solares e uma turbina eólica para gerar eletricidade. A arquitetura é impressionante: um prédio cilíndrico central cercado por círculos concêntricos conectados por corredores, criando um efeito intimista, compacto e elegante.

“Nas antigas instalações, fizemos expansões durante vários anos”, conta Jan. “Quando precisávamos de mais espaço, construíamos ou alugávamos outro prédio, conectando-os com passarelas ou túneis. Eventualmente, a distância de uma unidade para outra era de meio quilômetro, então tentamos construir um prédio onde a distância da parte central para as demais fosse a mais curta possível. Toda a parte de administração, cantina, instalações técnicas e RH ficam no centro; os demais departamentos ficam no círculo ao redor. Há uma distância máxima de 120 metros de um para o outro”.

As credenciais ambientais são impressionantes. Richard explica: “queríamos fazer um prédio com eficiência energética. Faz sentido, já que nosso espaço de tempo era longo: estivemos no prédio anterior durante 40 anos. Pensamos que poderíamos fazer as coisas certas, partindo do princípio”.

O sistema de aquecimento com calor subterrâneo é o primeiro do tipo na Dinamarca. A água para o sistema é aquecida nos meses de verão enquanto resfria o prédio, e então vai para o subsolo, onde é armazenada. Durante o inverno, é a fonte de aquecimento para o prédio por meio de uma troca de calor. O sistema possibilitou à empresa encerrar o uso do gás para aquecimento. Os volumes envolvidos são altíssimos, cerca de 250 mil litros de água por hora – sem interferir na qualidade ou características da água.

A ideia de uma turbina eólica começou com uma bricadeira, lembra Richard. “Um funcionário fez um desenho do prédio e incluiu uma turbina no topo, era uma piada. Depois que paramos de rir, dissemos: por que não? É uma tecnologia que está um pouco distante do que fazemos, então demorou um pouco para implementá-la”.

O resultado é uma única turbina com um pilar de 60 metros de altura e pás de 40 metros. Na prática, uma grande turbina é mais eficiente do que duas pequenas. Para instalar um aparato maior, seria necessária a obtenção de uma licença das autoridades de tráfego aéreo. A empresa, por vezes, produz toda a energia que consome, embora a força do vento seja altamente variável e a empresa precise cada vez de mais computadores e equipamentos para a expansão. A produção, altamente automatizada, conta com a mesma premissa. Hoje, a turbina fornece cerca de 90% da energia necessária.

E as invenções continuam. Uma nova joint venture vê a companhia aplicar sua expertise para ajudar a resolver um problema em uma área bem distinta: atenção à diabetes. Com a tecnologia atual, o monitoramento contínuo de glicose não indica os níveis reais do açúcar no sangue do paciente, o que significa que alguém com diabetes tipo 1 não pode obter um indicador confiável de níveis perigosos. Richard explica:

“Para alguns [pacientes], é fácil sentir quando o açúcar no sangue está baixo, mas para outras pessoas é difícil. Baixos níveis de açúcar no sangue é perigoso para os diabéticos porque eles podem perder a consciência. A empresa com quem fechamos parceria, a UNEEG, pode detectar quando um paciente está próximo a ter uma baixa de açúcar no sangue medindo a atividade cerebral; em seguida, envia um aviso antes que o problema comece a prejudicar o paciente significativamente”.

A tecnologia de monitoramento precisa funcionar em uma pessoa ativa no dia a dia, não apenas em laboratório, e é aí onde a expertise da Widex em criar dispositivos pequenos e ergonômicos entra. “Estamos desenvolvendo um implante intracutâneo que deve ser posicionado atrás da orelha”, diz Richard.

Para empresas bem-sucedidas, a inovação é contínua; uma filosofia iluminada de pensar “deve haver um jeito melhor”. As famílias Westermann e Tøpholm sempre se dedicaram à melhoria contínua da tecnologia para beneficiar a qualidade de vida das pessoas. Portanto, manter seus valores tradicionais e a buscar incansavelmente por inovações de impacto são disciplinas que andam de mãos dadas. Elas também precisam estar comprometidas com a comunidade e com o meio ambiente. É na combinação de inovação e sustentabilidade que elas têm mantido um padrão de excelência durante 60 anos e continuarão assim.

FONTE:  IMD