Indie Bio: transformando cientistas em empreendedores

StartSe foi conferir como trabalha a maior aceleradora de startups de biotecnologia do mundo e como é feita a seleção dos PhDs para se tornarem empreendedores

“Meu trabalho é ajudar cientistas a se tornarem empreendedores, para que possam resolver os problemas mais urgentes da humanidade”, disse a StartSe Jun Axup, diretora cientifica e sócia da Indie Bio, a maior aceleradora de startups de biotecnologia do mundo.

Localizada no bairro de Mission District , no coração de São Francisco, a Indie Bio é uma incubadora de “professores pardais”, cientistas que trabalham incansavelmente em projetos fantásticos. Muitos deles poderiam estar descritos em livros de ficção científica, mas são reais e estão transformando a nossa relação com o que comemos, bebemos e onde vivemos – o planeta Terra.

Por exemplo, a americana Finless Food trabalha em uma tecnologia para fazer carne de peixe em laboratório, para reduzir os impactos da pesca predatória e a poluição de mares e oceanos.

A chilena NotCo faz uma maionese que não é maionese; um leite que não é leite; um sorvete que não é sorvete. Seus fundadores desenvolveram um algoritmo próprio, dotado de inteligência artificial, capaz de combinar diversos produtos a base de plantas para gerar sabor, consistência e textura iguais aos produtos de origem animal. O intuito: “minimizar os impactos ambientais do modelo agroindustrial de produção.”

Já a indiana Convalesce desenvolve terapias baseadas em células-tronco para doenças neurodegenerativas, como o Parkinson, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida na velhice.

Laboratório com selo de excelência

A aceleradora ocupa um espaço próprio de 1.400 metros quadrados, que dá lugar a um moderno laboratório de pesquisa e desenvolvimento, e um coworking, onde mais de 100 pessoas trabalham diariamente. O local foi adquirido logo que a Indie Bio começou a funcionar, em 2015, pelo SOSV, fundo de capital de risco parceiro da aceleradora, que possui um escritório no mesmo espaço.

Nos dois andares ocupados pela Indie Bio, há uma área de trabalho colaborativo, várias salas de conferência e um laboratório de biotecnologia, que contém 20 estações de trabalho com níveis de proteção BSL1 e BSL2. Estas siglas atestam o nível de segurança das estações de trabalho.

Os Níveis de Segurança Biológicos (BSL, na sigla em inglês) são uma série de protocolos, classificados de um a quatro, que tratam sobre os agentes ou organismos que estão sendo pesquisados ​​ou trabalhados em qualquer ambiente do laboratório – e os cuidados necessários para o manuseio e descarte deste material.

Por exemplo, um ambiente de laboratório básico especializado na pesquisa de agentes não-letais que representam uma ameaça potencial mínima para os trabalhadores de laboratório e para o meio ambiente é geralmente considerado BSL-1.

Um laboratório de pesquisa especializado que lida com agentes infecciosos potencialmente fatais, como o Ebola, seria designado como BSL-4 – o nível mais alto e mais rigoroso. As estações da Indie Bio são de níveis 1 e 2, o que significa que lá são manipulados células e agentes não-letais.

Desde que foi fundada, em 2015, a Indie Bio já acelerou 105 empresas. Seus programas de aceleração são divulgados de tempos em tempos, sempre online, e aceitam startups do mundo todo.

A porta de entrada para a Indie Bio

“Um de nossos maiores desafios é fazer com que os cientistas enxerguem que o empreendedorismo é um caminho totalmente possível do ponto de vista profissional. Eles tendem a olhar apenas para a carreira acadêmica. Mas temos estudos que mostram que apenas 5% dos PhDs se torna pesquisadores de classe mundial”, diz Jun.

Portanto, o primeiro passo para ingressar na aceleradora é o desejo de se tornar um cientista empreendedor e, claro, ter um projeto de pesquisa robusto, com alto potencial transformador.

Duas vezes por ano, quinze empresas em estágio inicial, formadas por até quatro pesquisadores, se mudam para o laboratório da Indie Bio, para participar de um intenso programa de aceleração de quatro meses, diferente de tudo que já tiveram em seus cursos de doutorado e pós-doutorado.

Durante o período em que estão sendo incubados, os cientistas-empreendedores se envolvem com clientes e parceiros, se relacionam com investidores e, principalmente, transformam ciência em um produto real, pelo qual as pessoas estão dispostas a pagar.

Isso significa criar protótipos, colocá-los nas mãos de mentores e clientes em potencial, colher seus feedbacks e voltar para o laboratório repetidas vezes para melhorar o produto.

“Muitas equipes tiveram avanços significativos neste processo, devido ao trabalho com outros cientistas de sua classe. Também possuímos uma grande rede de instituições de ensino e pesquisa na área da baía (de São Francisco, onde estão sediadas universidades como Stanford e Berkeley), que podem emprestar equipamentos e experiência às equipes”, diz Jun.

“Smart Money”

Ao passar pela criteriosa seleção da Indie Bio, que leva em conta basicamente o histórico de realizações do time, a complementariedade de competências da equipe, e o potencial transformador do projeto (em termos de impacto social), cada equipe recebe US$ 250 mil em financiamento inicial, e tem quatro meses (período de duração do programa de aceleração) para desenvolver um protótipo de produto.

“No ambiente de negócios e tecnologia, já é bastante conhecido o processo de abrir uma empresa. Há muitas informações disponíveis online sobre como começar um negócio. Em biotecnologia não é bem assim. E é aí que entra a Indie Bio”, conta Jun.

A conjunção de capital financeiro com o conhecimento que se convencionou chamar de “Smart Money”, que tem um potencial enorme de transformar ideias em negócios rentáveis e com poder de mudar para melhor a sociedade.

“Tão importante quanto o dinheiro para a pesquisa, que sabemos ser um recurso escasso, é a rede dedicada de ex-alunos, mentores, parceiros corporativos e investidores que os cientistas-empreendedores passam a acessar”, diz Ju.

Acelerando o seu negócio

Segundo Jun, na Indie Bio as equipes são forçadas diariamente a “diminuir a distância entre a ciência e o mercado”. “Nós puxamos os fundadores para além da sua zona de conforto desde o primeiro dia. A maioria das equipes está construindo sua primeira startup e aprendendo a fazer negócios pela primeira vez”, diz.

No dia a dia, isso significa:

– Focar no desenvolvimento do produto;

– Fazer experimentos em paralelo;

– Trabalhar com a equipe científica da Indie Bio;

– Interagir com outras equipes para troca de conhecimentos;

– Criar uma relação de proximidade com o mentor;

– Discutir uma vez por semana com uma mesa redonda para desenvolver a ideia do negócio;

– Criar um poderoso deck de pitch;

– Fazer o pitch para os investidores;

– Forjar parcerias corporativas;

– Vender de produto.

“Os cientistas-empreendedores descobrem sua visão de dez anos para trabalhar de trás para frente, e construir uma empresa de biotecnologia que muda o mundo”, diz Jun.

Ao final dos quatro meses, os cientistas já são empreendedores e estão prontos para andar com as próprias pernas. “Muitas de nossas ‘ex-aceleradas’ continuam trabalhando no coworking, onde podem estar entre as startups mais interessantes do mundo”, afirma a cientista-chefe da Indie Bio.

Quem pode se candidatar?

“Qualquer cientista ou equipe de qualquer lugar do mundo pode se inscrever. A pessoa ou time tem que estar legalmente na Califórnia durante o programa, é claro. Uma vez aceito, podemos ajudar com questões legais, de imigração. Para atrair investimentos, você deve incorporar sua empresa nos EUA”, diz Jun.

Uma vez aceito, cada empresa recebe um investimento inicial (de US$ 250 mil). Em contrapartida, a Indie Bio recebe 8% de participação em troca do contrato de compra de ações.

FONTE: STARTSE