O desempregado Jorge Murilo dos Santos Ferreira, de 20 anos, faz um curso on-line em casa, mas quando precisa recorre ao Acessa SP. “Hoje estava no centro e fiz o curso aqui, venho de vez em quando, e também uso para entregar alguns currículos”. Ele disse que tem computador em casa, mas a internet é a do celular.
Segundo os dados da TIC Domicílios, a internet móvel é a principal forma de conexão em 9,3 milhões de residências, principalmente entre as classes D e E, na Região Norte e nas áreas rurais. Mesmo com a popularização do uso da internet no celular, os telecentros continuam desempenhando um papel importante para a inclusão digital, pois alguns serviços, como montar um currículo ou escrever uma redação, por exemplo, ainda dependem de um computador.
Mas a inclusão social requer mais do que ofertar computadores e internet de graça. O processo de democratização do acesso às tecnologias da Informação deve permitir a inserção de todos na sociedade da informação. Seguindo esse desafio, o Acessa SP, criado em 2000, foi alterado pelo Decreto Estadual 62.306/16 e expandiu seus objetivos para, “fomentar e apoiar projetos e ações que visem o desenvolvimento pessoal e comunitário da população, por meio da inclusão digital”. A partir de então, passou-se a pensar novas formas de oferecer mais oportunidades por meio do programa.
O Acessa Campus surgiu como uma forma de oferecer, além de acesso à internet e a espaços de trabalho, formação empreendedora e conteúdos que auxiliem na criação e estruturação de novos projetos e negócios. Os usuários do AcessaSP que já frequentam os postos para buscar emprego ou trabalhar agora têm uma nova oportunidade.
“O modelo de espaços colaborativos de trabalho [coworking] tem crescido em todo o mundo e cada vez mais governos têm olhado para como oferecer espaços para o desenvolvimento do empreendedorismo e da economia criativa. Agora, o estado de São Paulo está dando os primeiros passos para estar integrado nessa onda”, destaca o responsável pela Unidade de Inovação da Secretaria de Governo do Estado, Bruno Freitas.
O Acessa Campus objetiva criar espaços para coworking público. Neste mês de maio começam a ser executados três projetos pilotos, na unidade da Escola Técnica Estadual de São Paulo (ETEC) Parque da Juventude, na unidade da Biblioteca do Memorial da América e na unidade da Biblioteca Parque Villa-Lobos.
Outras iniciativas
A prefeitura de São Paulo também oferece espaços de inclusão digital. São 164 mil atendimentos mensais, em média, nos 137 telecentros municipais. A inclusão digital promovida pelo município se completa com programas como Fab Lab Livre SP e WiFi Livre SP.
A Fab Lab Livre SP é uma rede de laboratórios públicos de fabricação digital. Inspirados na filosofia da “Cultura Maker – Faça Você Mesmo”, os Fab Labs são espaços totalmente gratuitos, onde o cidadão tem acesso livre, por meio de tecnologia de ponta, para desenvolver ideias e projetos. São 12 unidades na cidade que oferecem mais de 30 tipos de cursos e oficinas, como os de modelagem 3D, eletrônica e fabricação de projetos, e dispõem de equipamentos avançados, como impressoras 3D, fresadoras e cortadoras a laser.
Internet Direito Seu
A campanha Internet Direito Seu, iniciada em abril, pretende sensibilizar a sociedade sobre os problemas gerados pela falta de conexão (ou conexão precária) à internet num país de tamanha proporção como o Brasil e busca mobilizar a população para a disputa pela universalização do acesso, por conexão de qualidade e preços justos.
A campanha foi lançada durante Plenária Nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) com o apoio de diversas entidades, em São Paulo. A campanha é feita pelo Facebook e pelo Twitter.
“Falar em acesso universal e democrático significa ultrapassar a barreira da infraestrutura de telecomunicações, que hoje é insuficiente e distribuída de forma extremamente desigual e estabelecer condições especiais de contratação, que atendam aos consumidores de baixa renda”, destacou a especialista em políticas de telecomunicações e advogada da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Flávia Lefèvre.
Outra barreira a ser ultrapassada para a universalização do acesso, segundo Lefèvre, diz respeito aos planos. É necessário fiscalizar a atuação comercial dos provedores de acesso à internet, cujos planos ofertados no mercado desrespeitam garantias básicas conquistadas com o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), entre elas, a continuidade da prestação do serviço e a neutralidade da rede.
Desde que o Marco Civil da Internet foi aprovado, em 2014, o acesso à internet é considerado um serviço essencial para todos e condição fundamental de garantia da cidadania. Cada dia mais, aspectos da vida cotidiana dos cidadãos dependem da conexão à rede, por exemplo, o pagamento de contas, o acompanhamento sistemático da gestão pública e até mesmo a inscrição em concursos públicos.
FONTE: ISTO É