Grandes bancos apostam em produtos digitais para concorrer com fintechs

Serviços financeiros digitais se popularizam e mercado é disputado por instituições tradicionais e fintechs

Santander quer ser Amazon dos bancos

No Bradesco, digitalização é prioridade

Neon: “há diferença entre ser digital e se digitalizar’’

Inter quer chegar a 1 milhão de contas no ano

Tradicionais instituições financeiras movimentam-se para conquistar clientes com soluções digitais e garantir pedaço do mercado que vem sendo ocupado por fintechs (startups que oferecem serviços financeiros a custos menores que os dos bancos). Para ter sucesso nesse universo, focam na experiência e no relacionamento do cliente com o banco, se esforçam para entender as demandas do correntista e investem em comunicação massiva e direta.

Os bancos digitais, em contrapartida, prometem maior velocidade na abertura de contas, isenção ou tarifas abaixo das praticadas pelas instituições tradicionais, experiência financeira e atendimento personalizados e praticidade no uso do dia a dia.

O Banco Inter, por exemplo, não cobra mensalidades ou anuidades. Isso porque não tem agências físicas, que demandariam custos de infraestrutura e manutenção. A receita, de acordo com seu vice-presidente, Alexandre Riccio de Oliveira, vem dos produtos contratados pelos clientes. “A conta corrente é a porta de entrada. Temos uma série de produtos, como carteira de investimentos de pequenas e médias empresas, crédito imobiliário e consignado, cartão de crédito”, explica.

De 2016 para 2017, o banco passou de 80.000 correntistas para 380.000. Em 2018, o objetivo é 1 crescimento sustentável, para alcançar 1 milhão de contas –uma média acima de 2.000 por dia. Para isso, Riccio acredita ser necessário 1 bom atendimento e processos os mais digitais possíveis. “À medida que o cliente conseguir fazer investimentos, depósitos, usar cheques e ter alternativa de crédito do sofá da casa dele, vai achar positiva a mudança e vai migrar para o digital.

Acredita que o ambiente é favorável para os bancos digitais. “Acho que a grande barreira que está sendo vencida é o preconceito. Há uma certa falta de cultura de existência da alternativa digital. Se somarmos todos os players, não devemos ter 5 milhões de clientes, mas à medida que começarmos a ter mercado mais relevante, vamos crescer indefinidamente.

NEXT, DO BRADESCO

De olho no movimento das fintechs, o Bradesco, uma das maiores instituições financeiras do país, tem apostado no digital. Das 26,1 milhões de contas correntes ativas do banco, 14,5 milhões são digitais (usam celular e internet particular) que movimentam, mensalmente, R$ 1,3 bilhão.

De acordo com o diretor-executivo do Bradesco, Luiz Carlos B. Cavalcanti Junior, 95% das transações realizadas pelo banco são por meio digital. Na onda dos números e do alcance que tem, o banco criou, na metade de 2017, o Next. De 30 de outubro, quando suas operações tiveram início, ao final do ano, foram realizadas mais de 5 milhões de transações. O volume de clientes, no entanto, não é divulgado. “Temos uma política de não abrir esse número porque não queremos guerra de quantidade, como o mercado vem praticando.”

Cavalcanti não considera o Next dentro do mercado das novas fintechs. Ele explica que o produto foi construído com arquitetos, antropólogos e psicólogos para que o cliente tenha uma experiência diferente da tradicional oferecida pelo banco. “Não começamos para competir com ninguém no mercado, mas para complementar nosso portfólio. É a parte do Bradesco, dentro de sua forma de atuação, com estratégias focadas no público 100% digital.”

O foco principal do Next, explica, é a maneira como o cliente se relaciona com o banco. A BIA, apelido dado ao Bradesco Inteligência Artificial, é 1 exemplo disso. A computação cognitiva permite que o cliente pergunte ao aplicativo, usando dispositivos como o Siri, da Apple, ou o Google, e receba a resposta à sua pergunta por escrito. “Antes, o cliente ia para a agência perguntar ao gerente. O banco está aprendendo com o desenvolvimento de novos recursos e está trazendo essa experiência aos correntistas.”

Apesar de pertencer ao Bradesco, o Next foi criado em 1 formato diferente e por uma equipe diferente da do banco. De acordo com Cavalcanti, boa parte dos jovens de 20 a 35 anos que estão ingressando no mercado financeiro, estão vindo do mercado e não da base do Bradesco. “Acreditamos que o cliente, uma vez atendido irá se complementar dentro do próprio banco. Ou cada vez mais, nas plataformas de canais digitais ele vai se incluindo naquele universo.”

O banco oferece 5 meses de experiência aos clientes sem nenhum custo. Depois disso, os correntistas podem escolher opções de operações que variam, incluindo cartão de crédito internacional, de R$ 19,95 a R$ 39,95.

Outra forma de conquistar clientes foi com a inserção de “mimos”, parcerias com empresas como Uber, Airbnb, Cinemark e restaurantes. “A 1ª vez que o correntista chamar Uber no mês, por exemplo, ele ganha R$ 20 de desconto na próxima corrida. É 1 conceito diferente. Existe uma contrapartida de ofertas de coisas de fato utilizáveis pelos clientes.”

SUPERDIGITAL, DO SANTANDER

A Superdigital, conta do Santander, tem hoje mais de 1 milhão de clientes. Ezequiel Archipretre, seu CEO, conta que ela foi criada para uma nova forma de consumo e de relacionamento com serviços. “A ideia é trazer alternativas reais às pessoas que não querem se relacionar com bancos da forma tradicional.”

A aproximação com o cliente é crucial. Por isso, bancos como o Santander acreditam que ela deva ser impactante. “A premissa é que entendamos o cliente e, para isso, precisamos da inteligência cognitiva, com o uso de CRM [Gestão de Relacionamento com o Cliente, na sigla em inglês], para que sejamos a Amazon dos bancos”, diz o diretor de negócios digitais do Santander, Alexandre Zancani.

O Santander tem aproveitado a onda das fintechs para fazer novos negócios. Ao todo, são mais de 1.000 pessoas de diversas áreas do banco nesta empreitada. O banco mudou o padrão de contratação das pessoas, com profissionais que vão de designers e antropólogos a engenheiros.

As assinaturas custam R$ 7,90 (individual) e R$11,90 (família). Os custos com saques e TEDs não estão inclusos nas assinaturas.

BANCO NEON

O Banco Neon é outro que não oferece custos de mensalidade, anuidade, manutenção, abertura ou fechamento de conta. Além disso, todo mês, os clientes têm direito a uma transferência, 1 depósito e 1 saque gratuitos. A emissão de boleto custa R$ 2,90. A cada transferência é cobrada uma taxa de R$ 3,50 e, para cada saque –que pode ser feito em caixas 24h–, de R$ 6,90.

Alexandre Alvares, diretor de marketing do Neon, acredita ser possível concorrer com grandes bancos. “Há muito a ser feito, como novos produtos financeiros, mas vemos que os principais pontos negativos nos grandes bancos são tarifas altas e atendimento ruim. E temos exatamente o contrário.”

O Neon começou em julho de 2016. Ao final de 2017, ultrapassou os 450.000 clientes. “Este ano devemos passar de 1 milhão de correntistas. Acreditamos que é possível.

Alvares não se incomoda com o aumento da concorrência, principalmente de bancos tradicionais. “Há uma diferença de ser digital e de se digitalizar. Tomemos como exemplo 1 brasileiro que vá para os EUA. Ele pode estudar muito inglês e parecer fluente, mas ao conversar com 1 nativo e falar ‘hi’, o norte-americano vai perguntar de onde ele é. O nativo é o digital.

FONTE: PODER 360