A grande muralha tech da China

*escrito com Felipe Augusto

Há muito tempo o “Grande Firewall da China” tem protegido suas empresas high-tech da competição estrangeira. Agora o país pode estar provando do próprio veneno. Alegando segurança nacional, a Índia decidiu banir 59 aplicativos chineses. O Firewall chinês foi muito efetivo. Apoiado no imenso mercado interno, gerou gigantes como Tencent, Alibaba e Baidu em detrimento de Big Techs estrangeiras, especialmente americanas como Facebook, Amazon e Google. 6 dos 10 apps mais baixados em 2019 eram chineses. A batalha por usuários de apps. EUA domina em mercados emergentes, mas China cresce rápido e é mais diversificada. Apps geram soft power e influência: “Valores culturais e políticos estão profundamente enraizados no design e na operação desses aplicativos” Foram 4,9 bilhões de downloads de apps chineses desde 2014.

Objetivo agora seria internacionaliza-las. Tencent e Alibaba, gigantes chinesas em pagamento eletrônico, avançam sobre o mercado internacional. Duelo entre elas é acirrado no sudeste asiático, por meio de participação em empresas locais. Mas, na Indonésia, gigante local Gojek dificulta o avanço. Nesse sentido, o mercado indiano é estratégico. É o mercado de usuários de internet que mais cresce no mundo. Mas o conflito na fronteira desencadeou nova onda de nacionalismo indiano, que historicamente gera movimentos de boicote a produtos estrangeiros. O ativista mais famoso foi Gandhi, que liderou a queima de roupas estrangeiras e que colou sua imagem à roda de fiar tradicional. Para o governo indiano, o boicote pode acabar estimulando a produção interna, um dos objetivos principais do Primeiro-ministro Modi. Em maio, Modi chegou a afirmar: “Se cada indiano comprar somente produtos nativos, o país ficará autossuficiente em cinco anos”. Com o conflito, país proibiu compras governamentais de produtos chineses. Autoridades solicitaram que plataformas de comércio eletrônico mostrem o país de origem dos seus produtos. E a Aduana tem dificultado a liberação de produtos nos portos do país. Mas, no curto prazo, a produção interna enfrentará grandes desafios. Índia gera apenas 37% do valor adicionado industrial per capita do Brasil (UNIDO). O Plano Make in India pretendia fazer a indústria gerar 25% do PIB e 100 milhões de empregos até 2022, mas está longe da meta.

FONTE: https://www.paulogala.com.br/a-grande-muralha-tech-da-china/?fbclid=IwAR27nGOdRzal_rv3Ow6Vt_rIPNGL6-i2K6tLnRvmLdddvVjgpUTT9RfIh7Y