Google segue ‘nos bastidores’ de tecnologias de IA para fins militares

Há cerca de dois anos, o CEO da Google, Sundar Pichai, prometeu que as tecnologias de inteligência artificial (IA) de sua companhia não fariam parte de “armas e outras tecnologias cujo principal objetivo ou implantação seja causar ou facilitar ferimentos a seres humanos”. Mas parece que não é bem isso que vem ocorrendo.

O comunicado feito no próprio blog da Google, em 2018, não surgiu “do nada”: a empresa foi fortemente criticada após integrar o Projeto Marven, uma iniciativa do Departamento de Defesa (DoD) com potencial relatado de US$ 250 milhões por ano, cujo objetivo era usar a IA para identificar prédios e outros “alvos de interesse” para os militares por meio de imagens de drones.

Mas embora Pichai tenha assegurado a não participação da Google nestes projetos militares, o bilionário não comentou nada sobre a cooperação da Alphabet — controladora do Google —, onde Pichai também é CEO. E é aí que o problema continua.

 Desmembrada do Google em 2009, a GV (antiga Google Ventures) atua como braço de capital de risco da Alphabet. Mas o problema é que este fundo tem participações minoritárias em empresas que fornecem ferramentas de vigilância militar.

GV continua a financiar empresas de monitoramento que atuam junto a órgão militares dos Estados Unidos. Foto: PIRO4D/Pixabay

Alphabet e Orbital

A Orbital é um bom exemplo, já que utiliza IA para examinar dados de localização e inúmeras imagens de satélites e drones para diversos fins.

Desde fevereiro de 2017 até julho de 2020, a empresa recebeu US$ 10 milhões para desenvolver tecnologias de inteligência artificial para um programa do DoD intitulado “Datahub”. Seu objetivo? Rastrear os padrões de vida do inimigo 24 por dia, 7 dias por semana, independente do clima.

A tecnologia seria usada na abordagem tática conhecida como Find-Fix-Finish-Exploit-Analyze (F3EA), em que um alvo é rastreado, encontrado, capturado (ou morto) e interrogado. Após isso, é feita uma nova análise para “oportunidades” futuras.

Embora um ex-funcionário sênior da Orbital tenha afirmado que a tecnologia não seria aplicada a coisas como “alvo bomba”, o governo pode fazer o que quiser uma vez que o “alvo” é localizado. O ex-empregado acrescentou ainda que a empresa passou de “salvar chimpanzés na Indonésia” a “encontrar alvos no Afeganistão”.

Pentágono, dos EUA, atua em conjunto com diversas empresas de monitoramento com tecnologias IA. Foto: Keith J Finks/Shutterstock

Curiosamente, a GV esteve presente em todas as rodadas de financiamento da Orbital desde que a companhia de imagens de satélites foi fundada em 2013. Ou seja, a Alphabet foi uma das financiadoras dos projetos militares da Orbital.

FONTE: https://olhardigital.com.br/2020/12/28/noticias/google-segue-nos-bastidores-de-tecnologias-de-ia-para-fins-militares/