Gigante chinês investe na TruckPad, o marketplace dos fretes

A TruckPad — uma startup que conecta caminhoneiros e transportadoras por meio de um aplicativo — acaba de levantar uma rodada com a Full Truck Alliance, um gigante chinês que opera no mesmo nicho e está se preparando para um IPO. A TruckPad vai usar a capitalização para crescer na América Latina (hoje ela está apenas no Brasil).

Os recursos devem cobrir sua necessidade de caixa por 18 meses. “Os chineses vão trazer toda a tecnologia, seus algoritmos, e a expertise que eles têm no setor de logística,” o fundador Carlos Mira disse ao Brazil Journal. A Full Truck Alliance tem investidores como a Tencent, Sequoia, Softbank e CapitalG, o novo nome do Google Capital. Fundada em 2013, a TruckPad foi a primeira startup brasileira a substituir a figura do agenciador — que ia nas estradas buscar caminhoneiros dispostos a levar as cargas que sobravam das transportadoras. Na sua esteira, surgiram empresas como a Cargo X, fundada três anos depois e avaliada em US$ 150 mi no ano passado. Hoje, a TruckPad conecta 12 mil transportadoras — desde grandes empresas como a Tora Transportes até players pequenos — a mais de 400 mil caminhoneiros cadastrados no aplicativo. Neste ano, serão transacionados perto de R$ 700 milhões na plataforma.

Mira acha possível triplicar o valor já no ano que vem, chegando a R$ 2 bi. Enquanto empresas como a Cargo X assumem o papel da transportadora (emitindo o chamado ‘conhecimento de transporte de carga’, contratando o seguro e arcando com o risco do transporte), a TruckPad funciona apenas como um marketplace ligando as duas pontas. A startup ganha dinheiro com uma assinatura mensal, paga pelas transportadoras, que varia de R$ 79 a R$ 500. Quando presta o serviço de clearing (fazendo a checagem do histórico do caminhoneiro com os órgãos responsáveis e o acompanhamento do trajeto dele até a transportadora) ela fica também com uma taxa de até 2,5% do valor transacionado. A empresa “garante para o caminhoneiro que ele vai receber, e garante para o contratante que aquele caminhoneiro é quente,” diz Mira.

Recentemente, a TruckPad criou uma área de business intelligence — dados sobre os caminhoneiros e o setor — que já responde por 30% da receita e tem clientes como a Michelin e a Mapfre Seguros. Hoje com 52 anos, Mira fundou a empresa aos 46, já um empreendedor maduro. Ele trabalha com logística desde os 15, quando entrou no negócio da família, o grupo MIRA Transportes, forte em cargas fraccionados no Norte e Nordeste do País. Em 2011, quando já era o CEO da empresa, embarcou com o LIDE numa viagem para o Vale do Silício, onde começou a desenhar a ideia da TruckPad.

Ao voltar ao Brasil, animado com o insight, Mira correu para contar a novidade a seus irmãos, mas foi recebido com um balde de água fria. “Eles acharam a ideia uma grande bobagem, e falaram que os caminhoneiros nunca iam usar smartphones, que era uma perda de tempo,” lembra o fundador, que brigou com a família para abraçar o projeto: largou o cargo de CEO, vendeu sua participação na transportadora e criou a TruckPad. Desde que surgiu, a startup levantou um total de US$ 20 milhões, apenas com investidores estratégicos.

A aceleradora americana Plug and Play ensinou Mira como criar uma tecnologia de alto impacto; a Movile, dona do iFood, o ajudou a melhorar o aplicativo; a Mercedes-Benz abriu relacionamentos com o mercado; e a Maplink (a primeira empresa a mapear digitalmente as ruas do Brasil) ajudou na roteirização. A entrada da chinesa — que já vale perto US$ 10 bi — dará fôlego para a criação de uma nova solução: um marketplace para comercializar serviços e produtos para o caminhoneiro.

A ideia é que os motoristas possam comprar gasolina, pneus e até serviços de manutenção direto do app. Mira diz que já fechou parceria com a Shell e fabricantes de produtos para caminhões, e está em conversas avançadas com outros players de distribuição de combustível, como Ipiranga e BR. Nos próximos meses, Mira vai conversar com fundos de venture capital para uma outra rodada com vistas a acelerar ainda mais o plano de negócios. O BTG Pactual assessorou a TruckPad.

FONTE: BRAZIL JOURNAL