Fundo reativado bancará satélite com a China

Lula vai assinar acordo em Pequim para construção de equipamento que servirá para monitorar Amazônia.

O governo pretende usar verba do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FNDCT), que teve parte dos recursos bloqueados até 2026 por uma medida provisória (MP) editada no fim do governo Jair Bolsonaro, para arcar com os custos de produção e lançamento de um satélite que será construído em parceria com a China. O convênio que estipula a parceria para o projeto CBERS-6 será firmado durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, na semana que vem.

Lula deixou a MP caducar. No entanto, ao sancionar o Orçamento no fim do ano passado, a Presidência contingenciou uma parte dos recursos. Para encerrar esse bloqueio, Lula deve enviar em abril um projeto de lei ao Congresso pedindo abertura de crédito suplementar que permitirá ao fundo um adicional de R$ 4,2 bilhões.

Segundo a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, parte dessa verba financiará o satélite, que tem investimento estimado em US$ 100 milhões. Os custos serão divididos igualmente entre os dois países ao longo de 42 meses após a ratificação do convênio pelos Parlamentos.

“Uma das medidas mais importantes do nosso novo governo é recompor esse fundo”, disse a ministra ao Valor.

O desenvolvimento do satélite CBERS-6 será o principal tópico da pasta na viagem de Lula a Pequim. Luciana Santos, que estará na comitiva, também firmará com a parte chinesa outros cinco memorandos em 16 áreas, como transição energética, transformação digital, mudanças climáticas, aí tem desde energia limpa, biotecnologia e nanotecnologia.

O CBERS-6 será o sexto satélite lançado com a China desde o início da parceria entre os dois países nessa área, que remonta à década de 1990. Ele atuará no monitoramento da Amazônia, complementando os dados de outros dois satélites: o também sino-brasileiro CBERS-4 e o Amazon 1, primeiro satélite de vigilância totalmente desenvolvido pelo Brasil.

Mas diferentemente dos outros equipamentos, o CBERS-6 não faz monitoramento por satélite, mas por radar. Isso permitirá que sejam feitas imagens em tempo real, uma vez que, por causa dessa tecnologia, o aparecimento de nuvens não atrapalhará a detecção de novas áreas desmatadas ou queimadas na região. A China também usará o equipamento para monitorar seu território. Uma vez lançado, cada país operará o CBERS-6 por seis meses em revezamento.

O satélite será fabricado no Brasil na região de São José dos Campos, onde fica o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Será um mix da plataforma multiuso desenvolvida pelo Brasil e do sistema de radar, que é uma tecnologia chinesa. A ideia do governo, além disso, é utilizar a mão de obra de engenheiros altamente especializados que estão ociosos por causa da falta de projetos na área.

“Toda cadeia de São José dos Campos, onde fica o INPE, é reativada para fornecimento de equipamentos”, disse a ministra. “Ele será montado aqui em São José dos Campos. É um combo de montagem, integração e teste.”

A agenda de Lula na China ocorrerá entre 26 a 31 deste mês. Ela inclui um seminário empresarial e uma visita a Xangai. Lula vai comandar uma comitiva recorde de 240 empresários, sendo 90 representantes do agronegócio, 24 deputados e seis senadores, além de governadores e ministros.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi convidado a integrar a comitiva, mas ainda não confirmou presença. No dia 28, será a agenda oficial de reuniões de Lula com o presidente Xi Jinping, o primeiro-ministro Li Qiang, e o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji. Pelo menos 20 acordos devem ser celebrados nas áreas de agronegócio, ciência e tecnologia, comércio, educação e cultura.

FONTE: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/03/20/fundo-reativado-bancara-satelite-com-a-china.ghtml