Fintech brasileira de empréstimos recebe R$ 20 milhões de fundo americano

Daniel Orlean, Francisco Ferreira e Cristiano Rocha, da BizCapital (BizCapital/Divulgação)

 

A BizCapital, que fornece financiamento a pequenas e médias empresas, recebeu um aporte para formalizar sua operação junto ao Banco Central

startup brasileira BizCapital acaba de receber um novo aporte, em mais uma mostra do amadurecimento do mercado brasileiro de fintechs. O negócio especializado em empréstimos para micro e pequenas empresas brasileiras conquistou um investimento série A de 20 milhões de reais.

A injeção de capital foi liderada pelo Quona Capital, fundo de Washington (Estados Unidos) focado em startups financeiras localizadas em países emergentes, em estágio de tração. O fundo já investiu em outras fintechs brasileiras, como Creditas e Neon.

O investimento também conta com os fundos brasileiros Chromo Invest (que investiu também na Geru) e Monashees (que investiu também na Magnetis e na Neon), que já aportaram anteriormente na BizCapital.

Em comunicado, o Quona Capital diz acreditar que “o Brasil está no começo de uma reorganização de seus serviços financeiros” e que a BizCapital “é uma importante adição ao portfólio crescente de investimentos focados em empréstimos a pequenos negócios.”

A BizCapital informou que os 20 milhões de reais serão usados para agilizar os pedidos de empréstimos e obter a licença de operação como Sociedade Direta de Crédito (SDC), regulamentação anunciada pelo Banco Central em maio deste ano.

“Os pequenos negócios são a fundação da economia brasileira. Nossa missão é ajudar centenas de milhares de MPEs, ao mesmo tempo que construímos um negócio financeiro sustentável e com impacto social”, afirmou Francisco Ferreira, fundador da BizCapital. “Conversamos com nossos investidores toda semana e eles nos ajudam a atrair talentos e direcionar a estratégia. Temos investidores que atuam bastante com fintechs e conhecem bem os desafios e oportunidades do mercado.”

Histórico

A BizCapital foi fundada pelos empreendedores Cristiano Rocha, Daniel Orlean e Francisco Ferreira, que estavam interessados em ter uma fintech. “Começamos a pesquisar bastante sobre o tema e olhamos para fora do Brasil. No universo de empréstimo online, especialmente para pequenas empresas, vimos casos de sucesso como a Kabbage, que faz o processo de maneira muito automatizada e leva segundos para aprovar o crédito, e Credibly, que usa bancos de dados alternativos para avaliar as empresas”, contou Ferreira anteriormente a EXAME.

A BizCapital nasceu, então, com uma proposta similar: reduzir ao máximo o prazo que o micro e pequeno empresário brasileiro leva para conseguir empréstimos empresariais. Enquanto uma grande instituição financeira demora cerca de 30 dias para aprovar o crédito, o sócio afirma que a BizCapital consegue fazê-lo em até cinco dias – ou menos, se o tomador de crédito estiver com a documentação correta em mãos.

A startup afirma que atende empresas que faturam até 5 milhões de reais no ano – são cerca de 5,5 milhões de negócios nessa faixa pelo país. A BizCapital começou a ser estruturada em julho de 2016, enquanto o primeiro empréstimo pela plataforma ocorreu seis meses depois, em janeiro de 2017.

Para pedir um empréstimo pela BizCapital, o empreendedor acessa o site e preenche um formulário com as informações mais básicas. O grande diferencial da BizCapital, porém, está naquilo em que o usuário não escreve: a startup é capaz de analisar e ranquear pedidos de crédito em poucos segundos por se integrar a bancos de dados alternativos. São mais de mil fontes de variáveis possíveis e disponíveis online, como perfis em redes sociais.

Essa ciência de dados foi criada em parceria com o departamento de inteligência artificial da PUC-RJ para diminuir os custos associados ao fornecimento de crédito para micro e pequenas empresas brasileiras, que enfrentam uma das maiores taxas de juros do mundo. A taxa de juros cobrada pela BizCapital depende do risco de cada cliente, mas vai de 1,99% a 5% ao mês.

O negócio recebeu mais de 100 mil pedidos de crédito e concedeu mais de 2 bilhões de reais em financiamentos em sua história. A fintech já recebeu um investimento de 15 milhões de reais da Chromo Invest e da 42K Investimentos em janeiro deste ano. Em 2016, teve um aporte semente da Monashees. Alguns investidores-anjo do negócio são Sandro Reis e Sergio Furio, CEOs da Geru; e Jaime de Paula, da Neoway. Os valores desses aportes não foram revelados.

Fintechs no Brasil: populares, mas pouco rentáveis

As fintechs fazem parte da rotina de 40% dos clientes digitais brasileiros, de acordo com o estudo EY FinTech Adoption Index. O país se destaca principalmente pelo uso de serviços de pagamentos, investimentos e planejamento financeiro.

O principal motivo pelo qual os brasileiros afirmam adotar fintechs é a facilidade para abrir e gerir suas contas e pelo acesso a novos produtos e serviços. A principal barreira para adoção é não estar ciente da existência de tais serviços, demonstrando que há espaço para que as fintechs ampliem seus negócios com educação sobre suas tecnologia.

Em 2017, haviam 219 fintechs, 24% mais do que as 176 mapeadas em 2016, segundo a pesquisa FinTech Deep Dive 2018, da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs) em parceria com a PwC Brasil (PricewaterhouseCoopers). Ao todo, 75% das fintechs registraram crescimento em 2017, sendo que a metade delas registrou expansão de mais de 30%.

Talvez o maior obstáculo para essas fintechs, agora, seja dar lucro. A receita bruta de apenas 12% delas ultrapassou 10 milhões de reais em 2017. Empresas em sua maioria jovens e com faturamento anual abaixo de um milhão de reais, as fintechs empregam normalmente equipes pequenas (52% têm menos de dez funcionários) e a maioria (58%) ainda não atingiu o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas.

Nem a agora capitalizada BizCapital escapará desse desafio. A startup não divulga números absolutos de faturamento, mas disse anteriormente a EXAME conseguir atingir o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas em 2019. Não que isso signifique que a saúde financeira seja a principal meta da BizCapital.

“A gente se preocupa mais em ser breakvável do que ser breakvado”, diz Ferreira. “Como existem muitas oportunidades, pode ser que a gente continue investindo agressivamente para conquistar mais espaço no mercado.”

FONTE: EXAME