A “financeirização” e transformação digital das grandes redes de varejo

As grandes redes do varejo já perceberam que oferecer serviços financeiros não é apenas bom para suas margens e para melhorar seus resultados, mas sim uma estratégia para elas estarem cada vez mais presentes no dia-a-dia dos consumidores. Seja um marketplace de uma grande varejista, uma importante rede de postos de combustíveis com ampla penetração no país ou um distribuidor com centenas ou milhares de pequenas lojas de varejo como clientes. O fato é que o varejo possui o contato direto com o cliente final, tem o controle da distribuição e está diante de uma oportunidade de oferecer serviços financeiros para estes consumidores.

Além disso, a transformação digital e a inovação passam a ser uma preocupação relevante para a maioria dos setores econômicos, pois em setores como o varejo, por exemplo, ser o primeiro a dar um passo à frente pode ser o caminho para o futuro das redes ou marcas. 

A oferta de cartões private label (cartões com as marcas das lojas/redes) já não é novidade dentro do mercado varejista. A experiência dos antigos carnês que eram disponibilizados em blocos de papel, que entregavam diversas vantagens como parcelamento e descontos especiais, evoluiu para os cartões com as bandeiras próprias das redes de varejo.

Mesmo que não seja o principal objetivo, ao oferecer tais serviços, como contas digitais, cartões próprios, crediário digital, as varejistas acabam gerando um novo fluxo de caixa e, principalmente, de pessoas em suas lojas físicas. Quando a rede oferece uma solução para conta digital, por exemplo, o cliente que foi atrás só da conta pode se tornar um cliente da loja em si. O foco das redes tem sido principalmente os desbancarizados, pois na grande maioria dos casos, a base de clientes das maiores redes está dentro das classes sociais C, D e E.

A facilidade para abertura de contas digitais é um grande diferencial para esta população, que muitas vezes se sente intimidada com a burocracia da abertura de contas correntes nos bancos tradicionais. As redes acabam se tornando referência de credibilidade e acabam fidelizando ainda mais os seus clientes, já que solucionam problemas financeiros e de inclusão no universo financeiro.

O país possui cerca de 60 milhões de desbancarizados e apesar destes não terem acesso a uma conta em banco, ou mesmo a um cartão de crédito, eles têm fácil acesso à rede do lojista. Interagir com este cliente é uma oportunidade única de oferecer um produto ou serviço mais adequado no momento exato da interação com o consumidor. Anualmente esse grupo movimenta cerca de R$ 800 bilhões.

Os movimentos das redes varejistas, adentrando ao mundo financeiro e tecnológico dessas soluções, mostram que a intenção não é alterar a sua atividade principal, mas cuidar também do dinheiro dos clientes, aumentando a capilaridade dos seus negócios. Como o case das Lojas Pernambucanas, por exemplo, que em pouco mais de um mês do lançamento da sua Conta Digital, já tinha 130 mil inscritos – e a expectativa é terminar 2019 com um milhão de contas abertas.

A oferta de serviços financeiros deve fazer com que as empresas do varejo estejam ainda mais presentes na vida de seus consumidores. Empréstimos pessoais via aplicativo ou cartão private label da loja, conveniência para pagar contas e boletos através do digital, transferência de dinheiro entre contas, proposta de previdência privada, entre outros. Existem algumas alternativas para o varejista oferecer estes serviços. As grandes redes de varejo, distribuidores e atacadistas estão começando a se posicionar e fechar parcerias para a oferta de serviços financeiros. “A bancarização do varejo é um processo que acompanha o aumento da própria bancarização da população brasileira, especialmente com o advento da fintechs”, afirma a economista Fernanda Mascarenhas, especialista em finanças pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Algumas das maiores redes brasileiras já estão colhendo os frutos da internalização dos seus serviços financeiros, em conjunto com a transformação digital, e outras estão dando os primeiros passos. Abaixo, trouxemos alguns cases importantes que demonstram esse comportamento:

Casas Pernambucanas: conta digital própria, através da qual será possível fazer pagamento de boletos e contas, saques e depósitos em terminais de autoatendimento, além de transferência via TED e DOC entre contas digitais. Além das transações já citadas, também é possível gerar boletos, realizar recarga de celular e compra de bilhete único (cartão-transporte de São Paulo) pelo aplicativo Cartões Pernambucanas. Os saques podem ser feitos nos caixas da Rede 24h, com cobrança de taxa a partir do terceiro saque, e também diretamente em uma loja Pernambucanas, sem custos, além de receber um cartão pré-pago da conta gratuito e acesso ao aplicativo da loja e do cartão. Em pouco mais de um mês, a Conta Digital Pernambucanas já tinha 130 mil inscritos. Pernambucanas libera empréstimo pessoal exclusivo a quem possui o cartão de crédito da loja. Além disso, a empresa também considera o Cadastro Positivo e a Portabilidade de Crédito.

Natura: a Natura fechou parceria com o Santander e desenvolveu uma Conta Digital voltada para suas mais de um milhão de consultoras. A iniciativa faz parte do plano de revitalização e digitalização do modelo de negócios da marca de cosméticos, que quer contribuir para a bancarização e elevação de produtividade e renda das consultoras. A conta digital da Natura pode ser acessada pelo site da marca e pelo aplicativo desenvolvido para as consultoras. Além de um cartão pré-pago, a Conta Natura dá direito a saques, depósitos, transferências entre bancos, pagamento de contas, e uma maquininha portátil para pagamentos com cartão. A conta recebe diretamente as receitas de vendas feitas pelo site, Rede Natura, e podem ser pagas com a maquininha. As consultoras podem, ainda, contratar microcrédito à ser utilizado na compra de produtos Natura, visando estimulá-las a investir na expansão e profissionalização de sua atividade. É uma atitude para empoderar as consultoras. Do lado do Santander, coube oferecer de forma integrada e customizada três soluções do banco: a Superdigital, que é a conta digital do Santander, a SuperGet, maquininha de pagamentos da GetNet, e o Prospera Santander Microcrédito, programa privado de microcrédito produtivo sem necessidade de fiador ou grupo solidário;

Riachuelo: Guararapes, a holding que controla as Lojas Riachuelo, informou que pretende transformar a sua financeira, a Midway, em um banco digital. De acordo com a empresa, a ideia é atender os clientes através de uma ampla plataforma digital. A Midway tem 30,5 milhões de cartões emitidos e 7,4 milhões de clientes ativos. Na Riachuelo, pode-se retirar empréstimos de valores diversificados e de limites razoáveis, desde que o cliente corresponda aos critérios previamente determinados.

Lebes: a rede de varejo buscou uma solução que possibilitasse ampliar a sua oferta de crédito para além das lojas físicas. O processo de digitalização da rede começou com a integração da oferta de crédito tradicional da empresa ao novo canal mobile, que parte da digitalização do cadastro e captura de documentos para a criação de uma conta digital. Essa criação possibilita a contratação de empréstimos 100% online, permitindo o saque em qualquer uma das lojas da rede ou através de uma TED para conta própria. A solução contou com a digitalização de diversos processos da tomada de crédito, como captação de dados e documentos do cliente, análise de crédito, solicitação de empréstimo, facilitação do saque, parcelas a pagar, portal de gestão do crediário para o cliente e de empréstimo da Lebes. Nos primeiro dois primeiros meses, a base da rede ganhou 18 mil e 13 mil novos clientes, respectivamente.

Renner: O cartão Renner já existe desde 1973, criado como um dos primeiros cartões de loja do Brasil. Em 2018 transformou sua subsidiária financeira, a Realize, em uma instituição independente, que emite cartões de crédito em até quatro minutos. Entre os novos produtos, estão uma nova plataforma e portfólio de seguros, um cartão contactless, ou seja, que realiza o pagamento apenas pela aproximação, e uma nova plataforma de recuperação de dívidas.

Marisa: Além do tradicional empréstimo pessoal, cartão de crédito private label (com bandeira da própria loja), seguros de assistência pessoal e garantia estendida, já existem até planos de previdência privada, serviço inédito lançado há poucas semanas pela rede Lojas Marisa, especializada em moda feminina. “Um dos objetivos foi diversificar o portfólio, além de lançar um produto alinhado às necessidades atuais de nossa clientela”, diz Célio Lopes, diretor de produtos e serviços financeiros da rede Marisa.

Grupo Carrefour: o grupo comprou a sociedade de uma Fintech como parte da estratégia do grupo de aumentar sua atuação no segmento de contas digitais. Com a aquisição, o grupo pretende oferecer um conta digital acessível por meio de um aplicativo, onde clientes podem pagar contas, transferir dinheiro, realizar cobranças e recargas com foco em brasileiros que não possuem conta em bancos tradicionais.

Acompanhar a evolução é fundamental para que as redes possam estar preparadas para as mudanças de consumo e demanda dos seus clientes e concorrentes. Conheça as soluções da Phi para ajudar a acelerar a expansão da sua oferta financeira. Acesse somosphi.com e descubra como. 😉

FONTE: https://fintechs.com.br/a-financeirizacao-e-transformacao-digital-das-grandes-redes-de-varejo/