Fibra ótica leva internet ao sertão

José Roberto Nogueira, fundador da Brisanet. Foto: Marcelo Martins

Empresário instalou placas de rádio em antenas que ele mesmo fabricava para transmitir sinal de internet a longas distâncias

O empresário José Roberto Nogueira, natural de Pereiro, cidade do semiárido cearense, chega ao fim de 2017 com uma nova láurea no currículo: o reconhecimento por seu trabalho inovador no comando da Brisanet, empresa criada por ele em 1998 com o objetivo de levar internet ao interior do Nordeste. Nogueira recebeu o Prêmio Empreendedores do Ano, concedido pela Ernst & Young, por levar modernidade ao sertão.

Em 2010, a Brisanet já era considerada a maior operadora de internet via rádio do País, com cerca de 30 mil clientes em 150 cidades dos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. No ano seguinte, a empresa passou a oferecer o mesmo serviço, mas por uma tecnologia mais moderna: a fibra ótica. Atualmente, são cerca de 18 mil quilômetros de cabos para transmissão de sinais de TV e internet a 165 mil residências em 60 cidades, com pacotes a partir de R$ 83.

O sucesso da Brisanet, segundo Nogueira, só foi possível porque não houve terceirização. “Fizemos tudo, desde os estudos de viabilidade do negócio até a formação de mão de obra. Para sobreviver à concorrência, o diferencial é dominar todas as etapas do processo”, afirma. Ele observa, ainda, a importância de uma avaliação detalhada da infraestrutura e da concorrência. “Não basta ter recursos”, diz.

A Brisanet conta com aproximadamente 2 mil colaboradores, treinados em todas as etapas do negócio. “Cerca de 98% dos integrantes tiveram sua primeira oportunidade de trabalho aqui na empresa.”

O empresário alerta para as dificuldades de financiamento. Até 2015, todos os investimentos em crescimento vieram de capital próprio. “O crédito bancário exige muitas garantias, mas redes de transmissão não são aceitas.” Segundo ele, o primeiro empréstimo foi contraído no fim de 2016, com o BNDES.

Trajetória. Caçula entre 11 irmãos, Nogueira, nascido em 1965, percebeu seu interesse por tecnologia por volta dos 13 anos, quando desmontou um rádio a pilha comprado pelo pai para “conhecê-lo” por dentro. Aos 16 anos, após a chegada da energia elétrica a Pereiro, comprou uma televisão em preto e branco e, enquanto tornava-se espectador assíduo de programas sobre ciência – em especial o Cosmos, do cientista Carl Sagan –, fez seu primeiro curso de eletrônica, por correspondência. Nessa época comprou uma bicicleta usada e, a partir de um motor reformado e chapas de aço, construiu uma hélice com a qual equipou o veículo. “Assim, não precisava pedalar.”

Após concluir o ensino médio, aos 21 anos, Nogueira deixou a cidade natal rumo a São José dos Campos, em São Paulo. Entre os itens da bagagem, levava o sonho de trabalhar na Embraer. Depois de um período como vendedor de roupas, enquanto era aluno de um curso de eletrônica, em 1989 atingiu o objetivo ao conseguir uma vaga para instalar painéis em aviões. Esteve na companhia até 1992.

Paralelamente, abriu uma empresa para fazer manutenção de computadores e instalação de redes. Quando deixou a Embraer, voltou à sua região para montar a primeira escola de informática. A cidade escolhida foi Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, a 40 quilômetros de Pereiro. O empreendimento teve êxito graças ao trabalho de Nogueira no convencimento de prefeitos locais sobre a importância de treinar pessoas na nova tecnologia.

Empreendedorismo. Em 1997, em parceria com um colega dono de um provedor de internet discada em São José dos Campos, o empresário instalou placas de rádio em antenas que ele mesmo fabricava para transmitir o sinal de internet a longas distâncias. Após testes de resultados positivos na cidade paulista, em 1998 a Brisanet iniciou as atividades com a oferta do sistema de internet na zona rural de Pereiro e região. “Além de fabricar as próprias antenas, desenvolvemos a tecnologia e formamos mão de obra”, conta.

Sobre expansão do negócio, Nogueira é categórico ao afirmar que não pretende crescer para além dos limites atuais da operação. “Não é possível ir para outras regiões de uma hora para outra. A ideia, até o momento, é ficar no interior nordestino e aproveitar a demanda local.”

FONTE: O ESTADÃO