Fazenda Futuro: startup de hambúrguer de plantas quer concorrer com frigoríficos

Startup de Marcos Leta, fundador do “Do Bem”, planeja rivalizar com a indústria da proteína animal; hambúrguer de plantas, que imita características do de carne, será lançado em maio

Há dois anos, Marcos Leta, fundador da empresa de sucos Do Bem, e seu sócio Alfredo Strechinskycomeçaram a estudar o mercado brasileiro de alimentos. Eles entenderam a importância da carne para o país – junto à Índia, somos os maiores exportadores de carne do mundo.

E, além de exportadores, os brasileiros são grandes consumidores de proteína animal. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2017, o Brasil era o 6º país no ranking do consumo de carne. No entanto, essa é justamente uma indústria que tem causado discussões, em torno do tema sustentabilidade, em função de sua cadeia de produção

“Nós sabemos que grande parte do desmatamento na Amazônia e do cerrado vem da criação de bois e do espaço utilizado para desenvolver as rações para o gado”, comentou Leta em entrevista à StartSe. Com um hambúrguer de plantas com gosto e aparência de carne como seu primeiro produto, a Fazenda Futuro não está entrando no mercado vegetariano ou vegano, como poderia se esperar, mas no de carnes.

A empresa, que começou a ser desenvolvida no final de 2017, se classifica como “a primeira foodtechbrasileira” por utilizar a tecnologia para mudar o mercado alimentício. A Fazenda Futuro é capaz de produzir 150 toneladas de hambúrgueres “de carne”, mas sem matar nenhum boi.

Isso porque seu hambúrguer é feito de ervilha, proteína isolada de soja e de grão-de-bico. O sangue, colocado para dar aparência de carne bovina, é feito a partir de suco de beterraba. “Começamos os estudos para entender a composição do hambúrguer. Temos a parte proteica, que dá a textura, a lipídica, que são as gorduras, e as reações quando você frita ou grelha uma carne, como a de Maillard”, contou Leta. A reação química de Maillard é a responsável pelo aspecto dourado ou caramelizado dos alimentos após serem fritos ou assados.

A inteligência artificial na alimentação

Para chegar a um resultado próximo a carne bovina sem utilizá-la, a Fazenda Futuro apostou na inteligência artificial. “Utilizamos a inteligência artificial para entender as moléculas, língua artificial para analisar a textura e testes sensoriais para verificar a proximidade entre a carne de planta e a convencional, inclusive a sensação da mordida”, comentou o fundador da startup.

Um dos investimentos realizados pela empresa foi a aquisição de algumas máquinas da Alemanha. “Percebemos que conseguiríamos chegar em uma forma mais apresentável e com melhores texturas se importássemos as máquinas alemãs”, disse Leta.

O primeiro produto da Fazenda Futuro estará disponível para o público a partir de maio – em hamburguerias ou supermercados. No Rio de Janeiro, os cariocas poderão provar a novidade a partir do dia 9 de maio, na hamburgueria T.T. Burguer. Depois, na segunda quinzena de maio, o hambúrguer estará nas prateleiras do Zona Sul, La Fruteria e Pão de Açúcar.

Já em São Paulo, o Futuro Burguer da Fazenda Futuro estará disponível nos mercados Saint Marche, Eataly e Pão de Açúcar. A expectativa é que a embalagem com duas unidades custe R$ 16,99. Segundo a empresa, o nível proteico é o mesmo em comparação as carnes “tradicionais”, apenas contendo menos gordura.

Mas, por adentrar no mercado de carnes e não dos alimentos vegetarianos e veganos, a expectativa de Marcos Leta é de mais lançamentos no setor. No primeiro momento, a startup está focada no FuturoBurguer (e em nas variações que poderão existir, como versões 2.0 e 3.0), mas pode lançar outros tipos de “carnes” (feito com plantas) no futuro. Como exemplos, o empreendedor cita salsichas, frango ou carne em cubos e almôndegas.

“A tecnologia não chegou ao momento de criar uma peça de carne, mas acredito que em 2021 e início de 2022, a gente já consiga oferecer pedaços de carne”, afirma Marcos Leta.

“É free-boi!”

A Fazenda Futuro está chegando no mercado com uma identidade visual moderna e uma frase cheia de significados como slogan: “É free-boi!”. “Em termos de design, pensamos na linguagem que a gente sempre acreditou – mais conectada com o mundo tecnológico, mídias sociais. É um design que atende ao público jovem, mas não estamos pensando nele em específico – queremos dar acessibilidade a esse tipo de produto até por conta do preço. A Fazenda Futuro é para todo mundo”, disse o empreendedor.

Na composição da empresa, ela estabeleceu três pilares para a produção dos produtos: sabor, sustentabilidade e saudabilidade. Agora, nos resta saber como a startup será recebida pelo mercado, pois este é o primeiro lançamento deste tipo de produto no Brasil. Nos Estados Unidos, grandes nomes estão despontando: Beyond Meat, Impossible Burguer, entre outros, inclusive em grandes redes de fast food.

FONTE: STARTSE