EX-FEIRANTE INVENTA MESA 3D QUE SIMULA O CORPO E CONQUISTA UNIVERSIDADES AMERICANAS

Fundada em 2013 pelo empresário Claudio Santana, a Csanmek teve faturamento de R$ 9,8 milhões em 2017

O empresário Cláudio Santana demonstra a mesa anatômica 3D para dissecação virtual (Foto: Divulgação)

Com oito anos de idade, o paulistano Cláudio Santana, 41, começou a trabalhar com o pai vendendo frutas na feira. “Ele me ensinou uma grande lição: aprender o serviço do meu chefe, não o dos colegas”, relembra. Depois de três anos, decidiu experimentar novas profissões e arrumou outras colocações. A jornada diária entre escola e emprego foi interrompida quando ele tinha 16 anos, após o nascimento da primeira filha. “Precisei parar de estudar e me dedicar só a ganhar dinheiro”, comenta.

Cerca de seis anos mais tarde, Santana passou em um concurso público para oficial administrativo do Estado de São Paulo e ganhou estabilidade financeira. Era o que ele precisava para, enfim, voltar a estudar. Em dois anos, se formou no supletivo e passou no vestibular para o curso de gestão hospitalar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Com o diploma em mãos, começou a alçar carreira dentro do governo. “Trabalhei com gestores de tecnologia que me inspiraram a liderar e a melhorar as condições de informatização de São Paulo”, comenta.

Durante os quinze anos em que foi funcionário público, passou por diversos cargos, chegando a diretor de Infraestrutura. Esteve à frente de projetos complexos, como os de informatização dos hospitais Brigadeiro e de Heliópolis.

“Apesar de ser um bom desafio, era frustrante, esbarrávamos nas políticas locais para fazer a implementação”, lembra. Como não possuíam profissionais de tecnologia habilitados, os hospitais não conseguiam dar andamento adequado aos projetos. “Acabei me cansando da situação e resolvi empreender.”

Tecnologia em saúde

Em 2013, Santana decidiu pedir demissão do emprego público e empreender na área da educação em saúde. “Eu havia conhecido um grupo que trabalhava com soluções ativas para o ensino e achei espetacular”, conta. Vendeu o carro, pegou empréstimo no banco e somou suas economias às do sócio para chegar aos R$ 400 mil necessários para o investimento inicial da startup Csanmek. O montante foi usado para desenvolver o protótipo de uma mesa anatômica 3D para dissecação virtual.

Durante um ano, ele desenhou o produto com um objetivo em mente: atender a todas as necessidades dos professores em sala de aula. Isso incluia, entre outros, ter um software com um bom atlas anatômico, aulas de fisiologia e biologia, além da conexão com microscópio digital acoplado, impressora 3D e ser multitela. A validação do produto foi feita por profissionais médicos contratados e na prática pela Universidade Municipal de São Caetano.

O produto criado por Santana inclui um sistema que faz a reconstrução do corpo humano usando exames de imagem do paciente, como os de tomografia. “Dessa maneira, o aluno consegue aprender, por exemplo, qual o melhor ângulo para uma incisão no corpo de diferentes pacientes”, comenta. Há ainda a possibilidade de trabalhar em tempo real, usando tomografias de pacientes que estão em procedimento cirúrgico.

Todo o material utilizado pode ser armazenado no Portal Diagnóstico, lançado para facilitar o compartilhamento do banco de dados entre hospital, professores e alunos. “Esse acesso é feito por meio de tablets, smartphones ou notebook e se comunica com a mesa pelo nosso armazenamento em nuvem”, explica.

A mesa é, na verdade, bem parecida com um tablete gigante de 65 polegadas, que permite a interação touch. “Essa plataforma multidisciplinar pode ficar tanto na posição de lousa ou de mesa, basta o professor escolher o que é melhor e apertar um botão”, conta.

Mercado

Atualmente, o produto da Csanmek está em uso em 50 universidades brasileiras de medicina e tem preço variável de R$ 150 mil a R$ 500 mil, dependendo da versão. Durante o período de garantia, de até três anos, todas as atualizações são enviadas sem custos adicionais.

Após esse prazo, é cobrado 1% do preço do produto. “Uma opção é renovar a garantia, porque, assim, a universidade recebe também o suporte educativo ao professor, que é feito por anatomistas”, explica Santana.

Além do Brasil, as mesas já são usadas em universidades dos Estados Unidos, México e Peru. Até o final de 2018, outros 17 países devem receber o produto que, segundo Santana, é feito 100% com tecnologia nacional. Atualmente, a Csanmek é o terceiro principal desenvolvedor do mundo na área e está estruturando, pela primeira vez, 40 salas interativas em uma universidade de medicina do Paraguai.

Além das constantes melhorias nas mesas 3D, a empresa está desenvolvendo ainda sua primeira linha de bonecos ultrarrealísticos, os chamados simuladores anatômicos. O modelo será destinado ao treinamento de procedimentos cirúrgicos e deve custar em torno de R$ 100 mil, menos da metade do preço dos bonecos importados.

Em 2017, o faturamento da empresa bateu os R$ 9,8 milhões, mais do que o triplo do valor alcançado no ano anterior – R$ 2,8 milhões. Apenas nos dois primeiros meses deste ano, já foram movimentados R$ 3 milhões. “Nosso conceito tem dado certo porque fazemos diferente, desenvolvemos soluções novas, que não existem no mercado”, comenta Santana.

FONTE: PEGN