Evento discute a transformação digital do seguro por meio das insurtechs

Reunidos pela APTS e ENS, especialistas analisaram as mudanças na operação de seguro e na relação com os clientes a partir de soluções inovadoras oferecidas por startups.

Em uma manhã atípica na cidade de São Paulo, com os reflexos da greve dos caminhoneiros, a APTS e a Escola Nacional de Seguros reuniram mais de cem pessoas para discutir o tema Insurtechs. O evento realizado no dia 28 de maio, no auditório da ENS, apresentou um panorama das insurtechs no país, discutiu as mudanças na operação de seguros e na relação com clientes e expôs cases de startups que criaram soluções inéditas para o setor com o uso de tecnologias sofisticadas.

“A evolução tecnológica é muito rápida e, às vezes, difícil de acompanhar. O tema desse evento é atual e muito oportuno, inclusive, para atualizar nossos alunos em relação a essas mudanças”, disse a diretora de Ensino Técnico da ENS, Maria Helena Monteiro, Já o presidente da APTS, Osmar Bertacini, comemorou a parceria com a ENS. “Ambas as entidades têm em comum o objetivo de disseminar o conhecimento de seguro”, disse.

Aceleração e sustentabilidade

De acordo com o representante da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (câmara-e.net), Caetano Altieri, existem, atualmente, mais de 1,5 mil insurtechs em todo o mundo, que já movimentaram US$ 19 bilhões, a maioria (32%) concentrada no e-commerce e plataformas sob demanda. No Brasil, as insurtechs são mais recentes, mas já somam 78 startups em operação, segundo mapeamento da câmara-e.net. Deste grupo, 40% atuam no segmento de produtos, 28% em data e analytics e 12% na jornada do usuário. De acordo com Altieri, a câmara-e.net agora integra o grupo de trabalho da Susep na área de insurtechs e pretende oferecer subsídios para a regulamentação do segmento. “Vamos construir uma proposta de valor para apoiar as insurtechs”, disse.

O jornalista Antonio Carlos Teixeira, assessor Executivo Estratégico de Comunicação para Negócios de InsurTech e editor do blog Terra Gaia, abordou o tema sob o aspecto da sustentabilidade. Ele comentou o crescimento do uso de tecnologias e inovações no seguro, considerando a predileção das novas gerações pela cultura mobile. “O resultado é a integração do negócio do seguro ao modo de viver, de pensar e de agir do novo consumidor cliente-segurado, que já nasceu conectado”, disse. Em sua opinião, o setor deve se preocupar em suprir as novas necessidades de segurados (atuais e futuros); entender o pensamento e cultura das novas gerações, identificando novos riscos e coberturas.

Maurício Martinez, da Oxigênio Aceleradora, empresa do Grupo Porto Seguro, explicou que o perfil de startup é o de empresa jovem que trabalha com modelo repetitivo e de alta escala. “Três jovens com uma ideia genial se juntam, criam um aplicativo e começam a vender pela internet. Mas, o que eles podem fazer para aumentar os negócios? Procurar uma aceleradora”, disse. Na Oxigênio, por exemplo, depois de um concorrido processo de s e l e ç ã o, as startups escolhidas passam por uma espécie de anamnese para identificar seus problemas e, durante três meses, recebem orientação de uma rede de mentores, além de treinamento e capacitação. A empresa investe cerca de R$ 200 mil, em média, em cada startup e estabelece, posteriormente, um percentual de participação nos negócios.

Dentre as empresas aceleradas, ele citou B.Time, que desenvolveu um aplicativo para a gestão de campo, que permite monitorar todas as etapas do serviço (local, horário, assinatura do cliente no comprovante etc.). Outro exemplo é da PsicologiaViva, uma rede com 2,5 mil psicólogas que oferece atendimento por telefone e vídeo. “Um sinistro sério pode abalar o cliente e, às vezes, uma conversa com uma psicológica já ajuda”, disse. Segundo ele, um dos objetivos da Porto Seguro com a sua aceleradora é aumentar as chances da empresa de capturar as oportunidades. “Porque acreditamos que aí está a inovação”, afirmou.

Cases de insurtechs

A preferência da população brasileira pelos dispositivos móveis – atualmente, existem 306 milhões em uso, dos quais 220 milhões smartphones – levou a insurtech Planetun a desenvolver soluções disruptivas para o setor de seguros com base na mobilidade. De acordo com o sócio fundador, Henrique Mazieiro, a empresa criou aplicativo para seguradoras, em que o próprio segurado pode realizar a vistoria prévia do seu automóvel, enviando as imagens pelo smartphone. Com base na mesma tecnologia, a empresa também desenvolveu aplicativos para oficinas mecânicas e para inspeção residencial. “Queremos transformar a experiência do usuário”, disse.

A ideia é simples: seguro por assinatura, nos moldes de outros serviços disruptivos, como a Netflix e Spotify. Mas, executada com tecnologias sofisticadas, como machine learning e big data. A Kakau Seguros, insurtech 100% digital, estreou no mercado no ano passado com o seguro residencial por assinatura, em que o segurado pode pausar a qualquer momento a sua apólice. Por meio da plataforma digital, o segurado pode adquirir o seguro ou comunicar o sinistro, com a ajuda da assistente virtual Anna, um robô que utiliza inteligência artificial e está programado para aprender a cada nova operação realizada. “Ninguém fica na porta de uma seguradora, esperando por um novo produto, como fazem os usuários da Apple. Mas esse é o cenário de evolução tecnológica que queremos trazer para o seguro”, disse Henrique Volpi, CEO da Kakau.

Experiente profissional da área de seguros de vida e previdência, Keyton Pedreira conta que criou a insurtech Segurize, juntamente com outros sócios, para estimular a distribuição de seguros. Seu foco foi o microsseguro, produto de baixo tíquete, que acabou inviabilizado pelos custos dos canais de distribuição. A partir de modelos de negócios disruptivos, como Uber e AirBnb, ele teve a ideia de trazer esse conceito para o seguro. Para tanto, constituiu a Segurize como corretora de seguros e criou o que classifica de quinto canal: os insurance influencers. Segundo Keyton, por meio do uso de aplicativo, as pessoas que indicarem seguro para outras, serão remuneradas caso o negócio seja concretizado. “O modelo é o da indicação, mas o negócio é fechado pela Segurize corretora”, explicou.

Novos eventos

Após o painel de debates, o presidente Bertacini e o diretor Evaldir agradeceram o trabalho do diretor Luiz Macoto Sakamoto e da jornalista Márcia Alves na execução do evento, além da parceria da ENS. “Vimos hoje que um evento apenas não encerra a discussão sobre as tecnologias disruptivas. Por isso, a APTS e a ENS realizarão uma série de eventos mensais e gratuitos para disseminar o conhecimento sobre o assunto para todos os profissionais do mercado. O próximo será realizado no dia 27 de junho, aqui neste auditório, e discutirá a Internet das Coisas”, comunicou Evaldir.

FONTE: SEGS