Estudo mostra potencial de cannabis e cânhamo no Brasil

No país, menos da metade das empresas que trabalham com a planta que dá origem à maconha dedicam-se à produção de itens medicinais

Por Fernanda Pressinott

Hoje, 222 empresas atuam no mercado de cannabis e de seus periféricos no Brasil, segundo levantamento da Kaya Mind, startup inteligência de mercado especializada em dados sobre a planta que dá origem à maconha. Desse total, 44,8% trabalham com cannabis e cânhamo (subespécie para fins industriais da planta) para uso medicinal farmacêutico, isto é, são legalizadas.

As empresas que trabalham com cannabis para uso adulto e de itens fumáveis somam 16,2%. Depois, na sequência, estão companhias que trabalham com cannabis para uso adulto/nutricional (10,8%), medicinal artesanal (8,1%), flores de cânhamo (5,4%), sementes de cânhamo (4%), fibras de cânhamo (4%), terpenos (1,3%), fitocanabinoides (1%) e sementes da cannabis (0,3%). Segundo a Kaya Mind, a legalidade do cultivo de cânhamo está em uma zona cinzenta no Brasil. O produto contém quantidades insignificantes de fitocanabinoides psicotrópicos, mas, ao mesmo tempo, ainda é proveniente da Cannabis sativa L., mesma planta que dá origem à maconha. De acordo com as projeções da startup, se a produção fosse legalizada, a venda dos derivados do cânhamo industrial poderia movimentar R$ 4,9 bilhões no país e gerar R$ 330,1 milhões de impostos estaduais. Ainda segundo o estudo, caso a produção de sementes seja legalizada, o custo seria de R$ 6,82 mil por hectare. A análise mostrou ainda que 78,4% das companhias que operam no Brasil, legais ou ilegais, trabalham no setor de elaboração e venda de produtos finais, e as que atuam no cultivo (interno, externo ou estufas), colheita e pré-processamento (fibras, sementes e flores) somam 8,1%. Na sequência aparecem as de melhoramento (multiplicação, importação, exportação e produção de sementes), com 5,4%, de consultoria e investimentos, também com 5,4%, e, por fim, as empresas de maquinário e equipamentos, que representam 2,7% do total.

A Kaya Mind defende a legalização do cultivo no Brasil e a criação de uma agência responsável pelo segmento de cannabis e cânhamo, nos moldes das que já existem em outros países. “Por mais que os insumos do cânhamo tenham virado tendência em países regulamentados, ainda existe muito preconceito em torno da planta. Ela é erroneamente associada a efeitos psicotrópicos, quando, na verdade, contém baixo THC e pode facilmente ser cultivada em áreas extensas e outdoor”, diz comunicado da Kaya.

Cânhamo e maconha são a mesma coisa? A planta do cânhamo é uma espécie da família Cannabaceae, da espécie Cannabis sativa, a mesma utilizada para produzir a maconha, mas elas são de subespécies diferentes e geneticamente distintas. O cânhamo é obtido da Cannabis sativa L. subsp. sativa var. sativa e a maconha, da Cannabis sativa subsp. indica. Na prática, a principal diferença entre ambas é a quantidade de tetrahidrocanabinol (THC) – o principal composto psicoativo da cannabis – presente em sua composição. Enquanto o cânhamo tem teores baixos de THC – em geral, inferiores a 0,3% – , a planta usada para produzir maconha tem níveis elevados do composto, que chegam a até 30%. Além disso, o cânhamo é cultivado para o aproveitamento de suas sementes, fibras e caule, com os quais se produz itens como tecidos, alimentos, remédios, cosméticos e materiais de construção. A maconha, por sua vez, é a cannabis cultivada principalmente por causa de suas propriedades estimulantes, sedativas ou alucinógenas.

FONTE: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/03/30/estudo-mostra-potencial-de-cannabis-e-canhamo-no-brasil.ghtml