Estudo mapeia impacto socioambiental de agritechs

Segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, Brasil é o país com mais startups do agro que possuem algum tipo de impacto socioambiental.

Uma pesquisa acaba de identificar que, na América Latina, o Brasil é o país com mais startups do agro que possuem algum tipo de impacto socioambiental nos locais onde estão instaladas nos últimos quatro anos. Entre um conjunto de 2.170 startups mapeadas na região, 130 são do agro e 90 delas estão no Brasil (69,2%).

As agritechs mapeadas no Brasil estão concentradas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Norte, onde estão as maiores lavouras de grãos, segundo o estudo da Fundação Dom Cabral, que investigou empreendedores sociais em 25 países latinos-americanos de 2020 até o ano passado.

Atrás do Brasil, está o Chile com nove agritechs, seguido da Colômbia, com oito. Em quarto lugar, estão Argentina, México e Peru com três startups cada.

Ao analisar as startups do agro brasileiras, a entidade identificou que de cada 10, nove têm negócios com impacto socioambiental. Na América Latina, 86% das agritechs desenvolvem formas de ganhar eficiência para reduzir o desperdício de alimentos e recursos naturais e cerca de 63% atendem pequenos produtores.

Uma das startups que fazem parte do levantamento é a Raks, criada em 2015 em São Leopoldo (RS). Fabiane Kuhn, co-fundadora, conta que o sensor de monitoramento hídrico, carro-chefe da startup, começou a ser desenvolvido quando ela ainda estava no ensino médio. O sistema analisa a composição do solo, da planta e o clima para indicar ao produtor quando e quanto irrigar. A tecnologia está presente em 11 Estados e monitora 2 mil hectares do Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará e Minas Gerais, segundo ela.

Entre os impactos reconhecidos pela pesquisa estão o uso sustentável de recursos naturais, como a água; e aumento na segurança das lavouras, da mão de obra e na autonomia dos produtores, porque o sensoriamento é remoto.

“Trabalhamos no manejo da irrigação com sensores que ficam fixos em campo e absorvem energia solar. Eles são patenteados e reconhecidos entre os cinco melhores sensores de solo no mundo”, afirma Kuhn.

Em Três Lagoas (MS) está a startup agrícola IDGeo, identificada pela pesquisa e enquadrada entre as 83% de agritechs latinas que impactam social ou ambientalmente comunidades formadas por mais de 100 pessoas.

A empresa fornece sensores de monitoramento de árvores produtoras de celulose a fim de evitar incêndios, entradas ilícitas em propriedades e o desenvolvimento da planta para um manejo mais assertivo.

O entorno do município se beneficia economicamente dos negócios com celulose, tornando o trabalho da agritech imprescindível, de acordo com Fabian Salum, professor da Fundação Dom Cabral que coordenou o estudo.

“Um diferencial das agritechs em relação a startups de outros setores é estar no campo, testando se a solução tecnológica está dando certo ou não”, observa.

O levantamento indica que entre o conjunto de agritechs latino-americanas, 60% dos principais clientes são pequenas empresas de agricultura familiar ou autossustento, enquanto 18% são agricultores e fazendeiros de pequeno ou médio porte.

Apesar da economia que geram para quem as contrata, as agritechs não têm receitas tão robustas quanto a de empresas tradicionais do setor. A pesquisa apurou que entre todas as levantadas na América Latina, 50% faturam até R$ 500 mil por ano e 30% faturam acima desse valor. O restante não alcança essa faixa.

Entretanto, como destaca Salum, essas empresas conseguem ter estabilidade ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que suprem a necessidade de proteção ambiental, por exemplo, de muitos municípios latinos, apesar de o avanço desse setor ser recente.

Segundo o coordenador da pesquisa, isso acontece principalmente porque as agritechs “nascem com DNA de impacto social, além do econômico”. “Os empreendedores sociais buscam solucionar problemas que não foram resolvidos por políticas públicas adequadas e que limitam o crescimento brasileiro e latino-americano. A pesquisa correlacionou o crescimento das startups de empreendedorismo social com a criação das 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] estabelecidas pela ONU”, destaca.

FONTE;

https://globorural.globo.com/especiais/fazenda-sustentavel/noticia/2024/03/estudo-mapeia-impacto-socioambiental-de-agritechs.ghtml