Empresas de tecnologia criam dispositivos para ajudar a dormir melhor

Há uma série de tecnologias prontas para chegar às lojas que prometem melhorar a qualidade do sono (Foto: Reprodução/Pexels)

Pare e pense: há algum momento do seu dia a dia em que você não está conectado? Se você é dono de um smartphone, um tablet ou usa o computador no trabalho o dia inteiro, a resposta mais provável é “dormindo”. Mas por pouco tempo. Cada vez mais startups, grandes empresas e até mesmo fabricantes de colchões, travesseiros e outros itens relacionados estão de olho no atrativo mercado do “sono conectado”.are e pense: há algum momento do seu dia a dia em que você não está conectado? Se você é dono de um smartphone, um tablet ou usa o computador no trabalho o dia inteiro, a resposta mais provável é “dormindo”. Mas por pouco tempo. Cada vez mais startups, grandes empresas e até mesmo fabricantes de colchões, travesseiros e outros itens relacionados estão de olho no atrativo mercado do “sono conectado”.

É um filão cheio de potencial: segundo a consultoria americana Persistence, o mercado de “auxílio para o sono”, que hoje inclui dispositivos médicos, mas também remédios, pode chegar a movimentar US$ 80,8 bilhões em 2020.

“Imagine se, em vez de tomar uma pílula para dormir, uma pessoa que tem insônia possa usar um dispositivo que estimule suas ondas cerebrais a relaxar”, diz Mathieu Choplain, diretor de marketing da francesa Dreem, que fabrica o dispositivo de mesmo nome, lançado no fim de 2016. “Esse é o espaço que queremos ocupar.”

Trata-se de uma espécie de faixa para a cabeça, vendida no site da empresa por US$ 500: munida de sensores e eletrodos, ela é capaz de monitorar a atividade cerebral durante uma noite de repouso. Além de verificar se o seu usuário dormiu bem, também incentiva a permanência no estágio de sono profundo – o que aumenta a sensação de descanso.

Ela não é a única: há uma série de tecnologias prontas para chegar às lojas. Da China, por exemplo, vem a máscara antirronco SnoreCircle. Hoje, ela está em pré-venda pelo site de financiamento coletivo Kickstarter por cerca de US$ 50.

“Já vendemos 200 mil exemplares no mundo todo. É como um robô que te dá um aviso, sonoro ou de vibração, se você começar a roncar, sem interromper o sono”, diz o presidente executivo da empresa, Johnson Luo, que criou a solução para resolver o próprio problema.

De conchinha

Mais curioso é o trabalho da holandesa Somnox, cuja criação é descrita pelos fundadores como “um robô para fazer conchinha”. Em pré-venda por US$ 500 em seu site oficial, o aparelho foi criado para ajudar a mãe do fundador Julian Jagtenberg a dormir bem. Trata-se de uma almofada com cerca de 50 centímetros de comprimento, com motores e sensores para simular respiração e batimentos cardíacos.

Além disso, o robô também tem pequenos alto-falantes, que permitem ao usuário tocar músicas relaxantes ou até mesmo uma gravação da respiração do parceiro. “É o companheiro perfeito de cama”, diz Jagtenberg.

Algumas empresas tentam usar a tecnologia para mostrar que pequenas práticas – como se alimentar melhor ou fazer exercícios – melhoram o sono.

A holandesa Shleep desenvolveu uma evolução dos inúmeros aplicativos que tentam dar uma nota ao usuário por dormir bem. “Estamos mais preocupados em mudar o comportamento do que só medir por medir o descanso”, explica Els van der Helm, criadora da startup e especialista em ciências do sono, com doutorado pela Universidade de Berkeley.

Segundo ela, a empresa não compartilha os dados dos usuários com outras empresas para manter a privacidade, assunto que pode ser um problema para o setor.

Burburinho

O esforço da indústria também é visto como uma espécie de “retribuição” do mercado de tecnologia ao repouso nosso de cada dia depois de afetá-lo dramaticamente. Segundo Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Instituto do Sono, vinculado ao Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (Incor), os computadores e os smartphones são os grandes vilões do sono atualmente.

“Além das telas com tons de luz azuis, que inibem a produção de melatonina, o hormônio do sono, as interações constantes com aplicativos não deixam as pessoas relaxarem”, diz.
O estado de “sempre alerta” proposto pelas inúmeras notificações do dia a dia é talvez o maior problema, na visão de David Rose, pesquisador do MIT Media Lab, centro de pesquisas de internet do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “A gente precisa estar um pouco entediado para dormir.”

Mas esses novos produtos funcionam? Para médicos e especialistas ouvidos pelo Estado, a maioria deles ainda carece de validação científica. “A tecnologia e a ciência se dissociaram nos últimos anos e nem sempre andam no mesmo ritmo”, avalia Lorenzi, do Incor.

Segundo ele, aplicativos e dispositivos podem não ser solução para quem enfrenta problemas sérios, como apneia ou insônia, mas servem como um primeiro passo para identificar distúrbios – tal como uma balança que identifica o peso, mas é incapaz de avaliar se há gordura ou ganho de massa muscular.

A médica especialista em ciências do sono Luciana Palombini, da Escola Paulista de Medicina, afirma que confiar demais nesse tipo de tecnologia pode levar a falsos diagnósticos – ao alertar um insone, o aplicativo pode deixá-lo ainda mais ansioso e piorar o problema. “É preciso dosar”, avalia.

Para David Rose, pesquisador do MIT Media Lab, centro de pesquisas de internet do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o futuro do “sono conectado” está em tecnologias que não precisam do esforço do usuário. “Usar um acessório é desconfortável e pode influenciar a forma como a pessoa dorme”, diz. A internet das coisas – revolução que conectará todos os objetos à nossa volta – é apontada por ele como a solução para o problema.

Automático

No exterior, algumas empresas estão pensando nisso. É o caso da tradicional fabricante de colchões americana Sleepnumber, que criou uma cama conectada – a Sleep iQ – vendida por US$ 4 mil. Com sensores e motores, ela detecta se o usuário se mexeu e pode moldar o colchão para deixar a pessoa mais confortável.

Outra ideia interessante vem da companhia chinesa Sleepace, que criou uma linha de dispositivos, chamada DreamLite, capazes de “conversarem” entre si. Juntos, eles regulam a temperatura e a luminosidade do quarto, cancelam ruídos e, até mesmo, deixam o ambiente com cheiro de lavanda ou laranja. “São pequenos fatores que podem ajudar as pessoas a dormirem melhor, especialmente em grandes cidades”, avalia Lorenzi, do Incor.

FONTE: Pequenas Empresas Grandes Negócios