Empresa de drones simboliza o país inovador

Por Daniel Rittner | De Guangdong (China) no Valor Econômico em  17/10/2017

Quando cursava engenharia na Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, o estudante chinês Frank Wang tinha o hábito de ficar acordado até as cinco horas da manhã. Ele atravessava as madrugadas na tentativa de construir um sistema mais amigável de gerenciamento para o brinquedo predileto de sua adolescência: miniaturas de helicópteros guiados por controle remoto. Ao sair da faculdade, Wang cruzou a baía e instalou-se com dois ex-colegas de classe na cidade de Shenzhen, onde fundou a Da-Jiang Innovations (DJI) em 2006. Não precisou nem de dez anos para transformar sua empresa em uma gigante com 70% do mercado global de drones civis e entrar na lista da revista “Fortune” das 40 personalidades mais influentes do planeta abaixo de 40 anos. Hoje emprega 11 mil pessoas e tem 12 escritórios no exterior – um deles no Brasil.

A DJI é um símbolo da nova China que cresceu, se renova e olha para o futuro no Delta do Rio das Pérolas. Totalmente privada, é referência em sua área de atuação. A média de idade de seus funcionários é de 27 anos. A sede, em uma área que concentra firmas high-tech, está cheia de chineses bilíngues e estrangeiros de todo o mundo. “Somos a primeira empresa chinesa que trabalha em uma nova tecnologia e não apenas aperfeiçoou um produto já existente no mercado”, afirma a italiana Cinzia Palumbo, gerente sênior de marca, no edifício da DJI em Shenzhen. Ela ressalta que, ao se espalhar por outros países, a companhia consegue aproveitar vantagens oferecidas em cada lugar – no Japão, há pesquisadores que trabalham na tecnologia de câmeras dos drones, enquanto boa parte dos softwares é desenvolvida na Califórnia. A integração de tudo, no porém, continuará sendo feita na China. “É um lugar único em termos de talento. Um quinto dos engenheiros do planeta está aqui”, acrescenta.

Os drones da DJI deixaram de ter um caráter recreativo. São usados pela mídia e pela indústria cinematográfica, na inspeção de obras de infraestrutura, na agricultura e na identificação de vítimas por serviços públicos, como bombeiros e defesa civil. Há equipamentos que desviam de obstáculos, retornam sozinhos ao ponto de origem, seguem objetos em movimento. Um modelo novo dispensa o uso de controle remoto e sobe, desce, vai para a esquerda ou para a direita conforme os movimentos das mãos. Histórias como a de Frank Wang não se repetem sempre, mas sua empresa promove todos os anos uma competição entre estudantes de mais de 200 universidades, que apresentam seus protótipos de robôs. “Queremos mostrar aos jovens que se dedicar às invenções e seguir o caminho da robótica pode ser mais interessante até do que se tornar um grande jogador de futebol”, brinca Cinzia Palumbo.

FONTE:

http://www.valor.com.br/internacional/5158144/empresa-de-drones-simboliza-o-pais-inovador