ELA CRIOU UMA PLATAFORMA PARA AJUDAR PACIENTES A COMPRAR MACONHA MEDICINAL

A empresária Viviane Sedola fundou a plataforma Dr. Cannabis para divulgar informações sobre a compra legalizada de substâncias da maconha

Viviane Sedola quer ajudar a impulsionar a discussão sobre maconha medicinal (Foto: Divulgação)

Epilepsiaesclerose múltipladores crônicasautismo ansiedade. Quando se pensa no tratamento para essas doenças, remédios e tratamentos complexos vêm à cabeça. Mas você sabia que elas também podem ser tratadas com maconha? E que o Brasil permite esse tipo de tratamento?

Este é o ramo da chamada “cannabis medicinal”, que diz respeito ao uso, para fins médicos, de substâncias encontradas na erva.

No Brasil, o consumo, venda ou produção de maconha é proibido. Mas, desde 2015, é possível importar essas substâncias com autorização de um profissional e se cumpridas as exigências da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) – entre elas, de haver uma receita médica indicando o tratamento canábico e a falta de um medicamento que resolva determinado problema de saúde tão bem quanto a maconha. O processo para trazer os medicamentos de fora pode passar de R$ 2 mil.

“Pouca gente sabe disso. É preciso mostrar que existe um caminho legal no Brasil para ter acesso a esse tratamento”, afirma Viviane Sedola, CEO e fundadora da startup Dr. Cannabis. A empresa de Viviane, criada em abril de 2018, busca ser uma plataforma para informar médicos e pacientes sobre o mercado da cannabis legal no Brasil.

Startup usa a maconha (cannabis) para fazer novos remédios (Foto: Reprodução )

A ideia do portal surgiu quando Viviane, cofundadora e ex-executiva da empresa de crowdfunding Kickante, viu que faltava ao mercado de cannabis um maior esforço de comunicação.

Formada em relações públicas, a empresária trabalhava para explicar o que era o crowdfunding, bem como engajar empresários a usar esse recurso. “Percebi que a  discussão sobre cannabis legal no Brasil precisava de algo parecido.”

Isso porque, embora a operação seja completamente legalizada pela Anvisa, não é fácil encontrar médicos dispostos a receitar medicamentos do tipo, por exemplo. Pelo lado dos pacientes, por sua vez, poucos sabem como começar o processo de forma legal.

“Falar de tratamento com maconha no Brasil ainda é um tabu, falta muita informação. Queremos mudar esse cenário e popularizar a discussão”, diz Viviane.

Desde que a importação de medicamentos de maconha para fins terapêuticos foi liberada no Brasil, há três anos, mais de 78 mil produtos à base da erva foram trazidos do exterior. As substâncias autorizadas são o canabidiol (CBD) e tetraidrocanabinol (THC).

Os dados obtidos junto à Anvisa pela Plataforma Brasileira de Política de Drogas (PBPD), uma rede de organizações não-governamentais que discute o tema, mostram ainda que mais de 800 médicos receitaram os medicamentos e 4 mil pacientes já receberam autorização para comprá-los.

Legalizado, mas complexo

Para tornar o processo de compra da droga um pouco menos difícil, o site da Dr. Cannabis também ajuda seus usuários, indicando fornecedores autorizados e informando sobre as regras da Anvisa. Há até mesmo uma newsletter para informar os usuários.

A empresa fica com uma porcentagem não revelada do valor total do processo importação.

Dr Cannabis (Foto: Reprodução)

Portal da Dr. Cannabis traz informações sobre maconha medicinal a médicos e pacientes (Foto: Reprodução)

Para começar a Dr. Cannabis, Viviane coordenou um equity crowdfunding, um financiamento coletivo de investidores que tem o objetivo de viabilizar a realização de um projeto. Com o recurso, ela levantou R$ 750 mil. Por ora, o negócio ainda não começou a faturar, estando em fase de pré-receita. A empresa também não informa a quantidade de médicos e usuários cadastrados na plataforma.

Para 2019, a equipe trabalha em novas ferramentas, como um fórum de discussão para pacientes no site.

Viviane afirma que, neste quase um ano de operação, ficou surpresa com o grande apoio que recebeu ao fundar a empresa. “Achei que iríamos ter de lidar com muitos haters, mas temos recebido muitas mensagens de apoio”, afirma.

Ainda assim, ela aponta que ainda há muita desinformação e preconceito. A empresária lembra que, quando convidada para palestrar em eventos no Brasil, é comum que patrocinadores barrem sua participação, por acharem que somente falar seria ilegal ou prejudicaria a imagem da empresa.

Vivi Sedola, Dr. Cannabis (Foto: Divulgação)

Vivi Sedola, fundadora da Dr. Cannabis, conta que já foi barrada em eventos por patrocinadores acharem que o tema era ilegal (Foto: Divulgação)

O futuro da legislação

A expectativa é que o Brasil avance na regulamentação da cannabis medicinal nos próximos anos. Hoje, o plantio é proibido mesmo em caso de saúde, mas quem não consegue arcar com os milhares de reais necessários para a importação vem recorrendo à Justiça. Já foram mais de 15 casos em que famílias foram autorizadas pela Justiça a plantar maconha em casa.

Também tramitam projetos de lei para permissão do plantio para fins medicinais. Um deles é o projeto de lei 514/2017, em discussão no Senado.

O tema está avançado em diferentes países do mundo. De dez países da América do Sul, oito deles, tal qual o Brasil, já permitiram a cannabis medicinal ou estão em processo de regulação. Os mais avançados são Colômbia e Chile, que já permitem o plantio e comércio de maconha.

Em países como Canadá, Holanda, Portugal e Estados Unidos (em alguns estados), o comércio legalizado é permitido até mesmo para fins não-médicos.

Nos Estados Unidos, onde a maconha medicinal é legalizada na maior parte dos estados, a previsão da consultoria BDS Analytics é que o mercado legal do produto movimente US$ 40 bilhões e gere mais de 400 mil empregos no país.

No Brasil, alguns empresários, como Viviane, já vêm apostando neste mercado, à espera de uma regulamentação mais abrangente. Hoje com 34 anos, a fundadora da Dr. Cannabis acredita que ainda vai demorar para que o Brasil avance neste sentido. Mas, para ela, começar a tomar conhecimento das vias legais já existentes é importante.

“O Brasil é muito grande, mas eu acredito que vai aumentar o número de pessoas discutindo esse tema, pacientes pedindo receitas a seus médicos”, completa Viviane. “Não tem de ser um tabu. Quanto mais pudermos discutir, melhor para todos que precisam do tratamento.”

FONTE: PEGN