ELA CRIOU UM GUARDA-VOLUMES INTELIGENTE PARA BARATEAR AS ENTREGAS.

Raquel Schramm, da EntregAli, quer incluir quem não consegue receber o carteiro.

Raquel Schramm, da EntregAli. O guarda-volumes inteligente avisa que a encomenda chegou (Foto: Divulgação)

Para o setor de vendas à distância — e-commerce, televendas e afins —, o Brasil tem menos do que os 200 milhões de habitantes contabilizados pelo IBGE. Bem menos. Milhões de pessoas estão excluídas do mercado de consumo — e limitadas no próprio exercício da cidadania — pela incapacidade de receber uma encomenda. Fazem parte desse grupo 29% das residências em São Paulo e 39% no Rio de Janeiro, aonde os Correios não chegam, alegando falta de segurança. Além destes, existem barracos em favelas, sem endereço formal ou CEP. Eventualmente, também entram na conta aqueles que moram em casa mas passam boa parte do tempo fora, sem ninguém para atender o carteiro — nada menos que 76% da população. É esse o tamanho do problema que a engenheira Raquel Schramm, 35 anos, e Thiago Lopes, 34, querem resolver.

Os dois são sócios na EntregAli e fazem a CollectSpot, uma caixa postal inteligente — a primeira no Brasil homologada pelos Correios. Inspirada em um modelo visto na Inglaterra e em exemplos como o do Amazon Locker, a startup quer reduzir os gastos de entregas no Brasil, garantindo que, mesmo em caso de ausência do destinatário, o objeto seja recebido e fique em segurança até a retirada.

O guarda-volumes inteligente pode viabilizar o e-commerce de produtos de menor valor. Cerca de um terço dos custos de logística se devem à última milha, do ponto de distribuição à casa. Ao centralizar as entregas, o custo cai. Ao evitar o retorno do carteiro porque o dono da casa não está, o custo cai mais ainda. “Existe uma estimativa que 10 milhões de encomendas retornem às lojas virtuais por trocas, destinatário ausente ou endereço não encontrado”, diz Raquel. Três visitas aumentam o custo a ponto de zerar o lucro do vendedor.

As primeiras caixas inteligentes foram instaladas em quatro condomínios de alto padrão em São Paulo, um ambiente controlado onde a dupla poderá testar a praticidade e robustez da tecnologia. Após esse ensaio, a EntregAli pretende oferecer uma conveniência a mais em lojas de serviços e, principalmente, chegar a regiões periféricas — para dar caixa postal a quem não tem.

O CollectSpot visualmente se assemelha a um caixa eletrônico de banco — ou a um armário de vestiário de academia. Funciona como um guarda-volumes automatizado. Por um painel de controle ou aplicativo de smartphone, o entregador pode abrir a porta e deixar a encomenda. Graças ao convênio firmado com os Correios, os carteiros vão aprender a operar o equipamento. O armário emite um comprovante de entrega e avisa ao destinatário que a encomenda chegou. O cliente pode retirar com uma senha ou por biometria.

Atualmente, o serviço pode ser adquirido por meio de um contrato de aluguel mensal cujo valor varia de acordo com o número de módulos desejados. Um módulo possui dez compartilhamentos e, de acordo com os testes já observados pela EntregAli, consegue administrar um prédio de até 60 apartamentos. Esse é um método de eximir os porteiros e zeladores da responsabilidade sobre os itens recebidos pelos condôminos — que podem reunir encomendas de diversos valores — , ao mesmo tempo em que inibe assaltos aos prédios. “As máquinas são todas filmadas, todas as portas têm sensor de abertura e, em regiões de risco, também haverá uma pessoa de segurança para tentar inibir roubo e fraudes”, diz Raquel.

Nos próximos meses, a EntregAli quer instalar seu guarda-volumes inteligente em Capão Redondo, periferia de São Paulo. Num ambiente menos controlado, o CollectSpot estará sujeito a tentativas de arrombamento, assaltantes atentos ao entra e sai de mercadorias e à falta de luz. Raquel diz que o equipamento é robusto, capaz de operar por longas horas sem luz ou internet.

FONTE: PEGN