E-commerce deve dobrar de tamanho no Brasil até 2026, diz estudo

Crescem pagamentos com PIX e compras de produtos asiáticos, enquanto boleto e cartão de crédito seguem em queda. Os dados estão em relatório encomendado pela Nuvei para a Americas Market Intelligence (AMI).

O volume total de transações por e-commerce no Brasil deve chegar a US$ 211 bilhões em 2022, o que equivale a cerca de 40% do mercado na América Latina. A projeção é de que o setor cresça 20% por ano até 2026, chegando a US$ 432 bilhões, considerando compras e pagamentos em segmentos diversos, do varejo ao streaming.

Os dados são de um relatório encomendado pela plataforma de pagamentos Nuvei e desenvolvido pela Americas Market Intelligence (AMI). O estudo também estima que, hoje, empresas asiáticas representem 51% do total de compras internacionais (cross-border) feitas por e-commerce no país.

O estudo “Insights e Oportunidades para Expansão Regional de Sucesso – Interconectando Ásia-Pacífico e América Latina” será anunciado oficialmente nesta terça-feira (25/10) durante o Money20/20, em Las Vegas, nos Estados Unidos – mas foi antecipado com exclusividade para Época NEGÓCIOS. Além de números relativos ao volume do mercado, o relatório traz tendências relacionadas a meios de pagamento e outras preferências dos consumidores.

Relevância asiática

Embora o e-commerce cross-border tenha sofrido uma queda em 2020, por conta da desvalorização do real e das interrupções na cadeia de suprimentos, a tendência agora é de recuperação. De acordo como relatório, a projeção é de um crescimento anual de 29% nos próximos quatro anos. Já em relação ao e-commerce doméstico, a estimativa é de um crescimento de 19% nos próximos anos.

A metodologia e a definição de e-commerce utilizadas na pesquisa reúnem compras e pagamentos registrados em uma ampla gama de segmentos, como varejo, streaming, jogos, educação e SaaS (software as a service), bem como seguros e taxas pagas pela internet. O varejo é o setor mais representativo do grupo, concentrando 44% do volume de transações.

Entre os players asiáticos com maior relevância no Brasil hoje, estão empresas como Shein, AliExpress, Zalora, Garena, Rakuten e Shopee – esta última registrou, sozinha, um crescimento anual de 270% no segundo trimestre de 2022. Dados do Conselho Empresarial Brasil-China citados no relatório apontam que os investimentos de empresas chinesas no Brasil cresceram 208% entre 2020 e 2021, chegando a US$ 5,9 bilhões.

São muitos os motivos para a crescente relevância das marcas asiáticas no mercado brasileiro, de acordo com o estudo. O fato de essas empresas estarem acostumadas a navegar em mercados digitais fragmentados é um deles. Há ainda semelhanças entre os hábitos dos consumidores asiáticos e brasileiros, como o uso massivo de celulares.

Para as empresas brasileiras, os números evidenciam tanto desafios quanto oportunidades. Por um lado, o nível de competitividade tende a aumentar no mercado local. Por outro, segundo Juan Franco, vice-presidente sênior da Nuvei na América Latina, há espaço para companhias que apoiem players internacionais na adaptação para o mercado local, em áreas como a de pagamentos. “Também há oportunidades para empresas de logística que apoiem o fluxo de negócios entre a Ásia e a América Latina.”

O Brasil também está bem representado por companhias locais, avalia Lindsay Lehr, managing director e head de pagamentos da AMI. “Quando olhamos para dados de algumas das maiores varejistas, como Magazine Luiza, Americanas e grandes marketplaces, vemos crescimentos de 80%, 90% por ano”, diz a executiva. Ao mesmo tempo, boa parte do crescimento do e-commerce no país vem de pequenos negócios que estão se digitalizando. “O nível de oportunidades que ainda existem no mercado é surpreendente.”

Meios de pagamento

O relatório ainda destaca a crescente participação do Pix nas transações feitas por e-commerce. Dados do Banco Central apontam que o meio de pagamento registrou 2,2 bilhões de transações apenas em agosto de 2022.

A estimativa é de que o pagamento instantâneo represente até 23% do total de transações registradas no e-commerce em 2022, chegando a 34% até 2025. Segundo o relatório, ele já é utilizado por mais de 70% da população adulta do Brasil, enquanto apenas 37% têm cartão de crédito. A participação do plástico, por sua vez, deve cair de 55% para 47% do volume total de compras até 2025, segundo projeção do relatório.

A expectativa é que a chegada do Pix Garantido colabore para impulsionar o uso do meio de pagamento nas compras por comércio eletrônico. Por enquanto, porém, ele ainda é mais utilizado para compras de menor tíquete, enquanto o cartão de crédito concentra as de maior valor, como itens de varejo, viagens, pagamentos recorrentes e cursos de curta duração.

A participação do boleto bancário nas transações caiu de 15% para 9% entre 2019 e 2022, de acordo com o relatório, e deve chegar a 7% até 2025. Embora esteja perdendo espaço para o Pix, o boleto ainda deve continuar atendendo à população mais velha ou sem acesso a serviços bancários. Já as soluções Buy Now Pay Later (BNPL) – “Compre agora, pague depois” -, que vêm ganhando espaço internacionalmente, devem enfrentar a barreira da alta inadimplência para ganhar tração por aqui.

Embora os brasileiros estejam entre as populações que mais aderiram às criptomoedas, elas estão longe de se popularizarem como meios de pagamento, destaca o relatório. Uma pesquisa realizada pela AMI em agosto com 300 usuários de criptomoedas mostrou que apenas 10% deles as adquiriram com o objetivo de fazer compras. A maior parcela (81%) têm como propósito os investimentos.

Mais do que oferecer uma ampla gama de meios de pagamento, o ponto-chave para empresas é simplificar a experiência oferecida aos consumidores e acompanhar suas necessidades continuamente, pontua o CEO da Nuvei, Philip Fayer. “Como eu mantenho o relacionamento com os consumidores nos próximos dois, três, cinco anos? Essa é a oportunidade frente aos negócios hoje”, diz ele.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/empresas/noticia/2022/10/e-commerce-deve-dobrar-de-tamanho-no-brasil-ate-2026-diz-estudo.ghtml