Dubai está em busca de um PIB de R$ 300 bilhões

Quarto Dubai Business Forum serviu de vitrine para vender o segundo emirado mais rico, enfatizar avanços em tech e atrair empresas de mercados emergentes, incluindo o Brasil.

No fim de 2023, Dubai sediou um evento internacional, com o qual tentou desviar a atenção do petróleo e valorizar seus outros atributos, por assim dizer. A atividade petrolífera de fato hoje corresponde a menos de 2% do PIB do emirado, enquanto no vizinho mais rico, Abu Dhabi, representa quase 50%. E, de olho nos mercados emergentes, o Dubai Business Forum 2023 quis mostrar para o mundo como, graças a uma notória política de incentivos em que os setores público e privado se confundem, o mais turístico dos Emirados Árabes é uma potência também em tecnologia e inovação.

Realizada no complexo Madinat Jumeirah no início de novembro, a quarta edição do fórum atraiu 2 mil delegados, entre lideranças empresariais, investidores e economistas vindos de 49 países para ouvir alguns dos quase 50 palestrantes que discursaram nas 24 plenárias, na arena principal ou nas diversas apresentações estilo TED Talk no Future Theatre.

No Deals Hub, espaço para fazer networking, as delegações agendaram mais de 550 reuniões virtuais, informaram-se sobre como expandir para Dubai ou fazer parcerias com as empresas locais e selaram mais de 20 negócios, a exemplo de um acordo (de valor não relevado) com a Mastercard, que vai estabelecer um hub de inovação em inteligência artificial no emirado.

“O grande propósito do evento é colocar ênfase no que podemos oferecer não apenas às empresas da região como para todos os nossos parceiros comerciais”, disse Mohammad Ali Rashed Lootah, presidente da Dubai Chambers, responsável pelo evento. “Nossa política é muito conectada com o setor privado, o que permite que o Estado se flexibilize para acomodar os negócios”, comentou Saeed Al Gergawi, vice-presidente de economia digital da DC, a Câmara de Comércio e Indústria local.

Brasil na sétima posição
Com o tema “Mudando o Poder Econômico: Dubai e o Futuro do Comércio Global”, a programação foi dividida em quatro pilares: globalização, investimento estrangeiro direto, transformação digital e mercados emergentes. Segundo diferentes levantamentos, como o da PwC, em 2050, seis das sete maiores potências do mundo serão economias emergentes, com o Brasil na sétima posição.

O Dubai Business Forum está alinhado com o D33, plano econômico anunciado em janeiro de 2023 pelo xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, príncipe herdeiro de Dubai e vice-presidente dos Emirados Árabes. Estimada em US$ 8,7 tri, a agenda tem a ambiciosa meta de dobrar o PIB de Dubai (de mais de US$ 30 bi) na próxima década e injetar anualmente US$ 27,3 bi em projetos relacionados à transformação digital.

“Em 1995, Dubai teve um empurrão do governo para desenvolver projetos de tecnologia e, em 2012, o príncipe deu subsídio para todas as empresas se tornarem mobile em um ano. Além de iniciativas como a Dubai Internet City”, disse Saeed Al Gergawi, referindo-se a uma base estratégica, montada em 1999 com os mercados emergentes na mira. “Ainda não existe um consenso quanto à definição de economia digital, por isso acolhemos qualquer empresa que assim se defina”, acrescentou ele.

Somente em 2022, as startups de Dubai faturaram mais de US$ 2 bi. Mais de 40% das scale-ups da região do Oriente Médio e norte da África (Mena) estão sediadas por lá. Com a perspectiva de um aumento ainda maior em 2024, a Dubai Chambers planeja atrair mais de 300 novas startups e prevê, até 2033, um crescimento para a economia digital dos Emirados Árabes (recém-admitidos no Brics) dos atuais US$ 38 bi para US$ 140 bi.

No balaio digital de Dubai, entram desde as blockchains até projetos de IA. “O lançamento do Chat GPT no ano passado pegou todo mundo desprevenido. Muitas novas startups estão sendo criadas, inclusive em Dubai, para navegar por IA. Vai ser uma onda longa, diferente do Web3 ou do metaverso, que não passaram de hype”, disse à Forbes o palestrante Ted Souder, que trabalhou por 20 anos no Google, inclusive como CFO.

Outro participante importante do tech foi Solaiman Al Rifai, executivo do ramo de blockchains que apresentou a empresa de soluções em criptomoedas Mining Race. “Percebemos que podíamos criar uma ferramenta, um acesso para as pessoas poderem garimpar bitcoins comde diferentes licenças e garimpos, os provedores de serviço que oferecem mineração de bitcoin. Nosso software permite conectar fornecedores, os provedores de serviço e gateways inclusivos para facilitar a experiência do usuário.”, explicou Al Rifai, que está de olho em outros mercados, como Brasil. “Uma das razões é que o governo brasileiro apoia projetos de blockchain. Também vimos como a revolução do bitcoin aconteceu rápido no Brasil, que é o maior ecossistema de criptomoedas da América Latina”, vibrou o empresário.

“O escritório da Dubai Chambers em São Paulo é a porta de entrada para empresas brasileiras que desejam estabelecer relações com o emirado. A awareness de Dubai no mercado brasileiro ainda não é o que deveria. Acho que podemos fazer muito mais”, concluiu Saeed Al Gergawi.

A agenda econômica de Dubai até 2033
Impulsionar o comércio externo de bens e serviços para US$ 6,97 trilhões
Levar o investimento direto estrangeiro a US$ 177 bilhões
Elevar as despesas do governo a US$ 190,62 bilhões
Chegar a US$ 270 bi em investimentos do setor privado
Aumentar o valor da procura interna de bens e serviços para US$ 810 bilhões
Gerar uma contribuição anual de US$ 74,33 em projetos de transformação digital
Injetar US$ 27,3 bilhões em projetos relacionados à transformação digital
Dobrar o PIB para atingir US$ 60,6 bilhões
Movimentar US$ 8,7 trilhões

FONTE: https://forbes.com.br/forbes-money/2024/03/dubai-esta-em-busca-de-um-pib-de-us-60-bilhoes/