Dia Mundial da Água: como a inteligência artificial e a Internet das Coisas podem ampliar o acesso à água potável

Até 2030, a a demanda por água doce no mundo deve exceder a oferta em 40%. Veja como novas tecnologias poderiam ser implantadas para melhorar a gestão da infraestrutura hídrica e diminuir essa falta.

Lidar com a escassez de água devido ao excesso de demanda e às mudanças climáticas exigirá uma melhora no gerenciamento dos recursos hídricos — e a tecnologia pode ajudar. Um recente relatório da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, em português) aponta caminhos para ampliar o acesso à água potável, atualmente um recurso indisponível para 2 bilhões de pessoas, conforme lembra a organização neste Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março.

“O acesso à água potável e ao saneamento é um desafio nos países em desenvolvimento”, observa Shamika N. Sirimanne, diretora de tecnologia e logística da UNCTAD. “As mudanças climáticas e o aumento da pressão sobre os recursos hídricos, alimentares e energéticos estão agravando a situação”, alerta.

Prevê-se que a demanda por água doce exceda a oferta em 40% até 2030, e novas tecnologias poderiam ser implantadas para melhorar a gestão da infraestrutura hídrica. Por exemplo, sistemas de alerta precoce que dependem de drones ou softwares de observação da Terra podem oferecer suporte na previsão de desastres. E soluções como medição inteligente, que fornecem informações em tempo real e feedback personalizado, podem aumentar a eficiência dos sistemas de água e saneamento existentes.

“Uma combinação de ferramentas digitais abertas, capacitação e uso de padrões e estruturas internacionais é fundamental para ampliar os esforços em direção ao ODS 6 [água potável e saneamento]”, disse Enrique Cabrera, professor da Universidade Politécnica de Valência, na Espanha, e vice-presidente da International Water Association. “Serão necessárias soluções para cada situação local para determinar o melhor uso das tecnologias mais recentes e como otimizar o uso dos recursos financeiros”, acrescentou em entrevista ao site da UNCTAD.

IA e IoT na gestão hídrica

No relatório divulgado pela instituição, há exemplos do uso de dados e infraestrutura digital para acelerar o monitoramento dos recursos hídricos. Nas Filipinas, o Departamento de Ciências e Tecnologia (DOST) está liderando esforços para aproveitar o poder da inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina para ajudar a reduzir a escassez de água na região metropolitana de Manila, capital do país.

Outro exemplo vem do monitoramento de comportamento de saneamento habilitado para Internet das Coisas (IoT) na Indonésia, onde sensores de fluxo e movimento foram usados ​​para validar as respostas de uma pesquisa sobre lavagem das mãos após o uso da latrina. Embora as respostas da pesquisa tenham mostrado níveis relativamente altos de higiene, os sensores de movimento e fluxo não acompanharam o que foi dito pelos participantes do levantamento.

Em Omã, o Sistema de Detecção de Vazamento de Água foi criado em 2020 pelo Oman Energy Center para reduzir a quantidade de resíduos em recursos hídricos para um mínimo. Ele utiliza medidores inteligentes autônomos para coletar dados sobre o uso da água. Isso resultou em uma redução de 15% no desperdício de água, segundo a organização. Outro caso de sucesso da medição inteligente aconteceu na Índia: sistemas automatizados de prevenção de vazamentos instalados em 40.000 residências no país ajudaram a reduzir aproximadamente 35% do consumo de água em média.

Na América Latina e no Caribe, o Banco Interamericano de Desenvolvimento criou o HydroBID, um sistema online integrado e quantitativo para simular o gerenciamento dos recursos hídricos, utilizando uma combinação de medição inteligente e Internet das coisas (IoT). Sob cenários de mudança (por exemplo, clima, uso da terra, população) a tecnologia ajuda a avaliar a quantidade e qualidade da água, informar as necessidades de infraestrutura e as estratégias e adaptações necessárias em resposta a essas mudanças.

Apesar das boas iniciativas em curso, a organização alerta que a maioria dos países em desenvolvimento ainda requer assistência e capacitação para capitalizar essas tecnologias. “Portanto, é fundamental que os países desenvolvidos apoiem o desenvolvimento de infraestrutura e capacitação humana para utilizá-los”, conclui.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/sustentabilidade/um-so-planeta/noticia/2023/03/dia-mundial-da-agua-como-a-inteligencia-artificial-e-a-internet-das-coisas-podem-ampliar-o-acesso-a-agua-potavel.ghtml