Demissões nas big techs impulsionam nova onda de criação de startups

Funcionários que perderam o emprego nos últimos meses têm apostado em negócios próprios.

Profissionais demitidos por big techs agora apostam em criarem seus próprios negócios — Foto: Getty Images

Em 2022, as empresas de tecnologia demitiram pelo menos 160 mil funcionários, de acordo com o Layoffs.fyi, site que acompanha as perdas de empregos no setor. Este ano, os cortes continuaram, e mais 100 mil pessoas já foram afetadas por eles. Apesar do momento difícil, uma boa parte desse pessoal decidiu arregaçar as mangas não para ir atrás de outro emprego mas, sim, para abrir o próprio negócio.

Alguns indicadores iniciais sugerem que o mercado está vivendo uma onda de novos fundadores. A aceleradora de startups Y Combinator, por exemplo, viu seu número de pedidos cadastro aumentarem em 20% em 2022, obtendo um total de mais de 38 mil. Já o número de solicitações protocoladas em janeiro de 2023 aumentou cinco vezes.

Entre os novos founders vindos da série de demissões nas big techs, está o caso do ex-engenheiro do Google, Henry Kirk. Em entrevista ao Wired, ele conta que sempre acreditou que teria sua própria empresa. O processo, no entanto, foi acelerado depois de sua demissão da gigante de tecnologia, que cortou 12 mil postos de trabalho no início deste ano.

Kirk e mais cinco ex-funcionários do Google estão trabalhando no lançamento de um estúdio de design e desenvolvimento de software. Eles se deram como prazo até o final de março para iniciar os trabalhos. “É um período difícil, mas estou aceitando o fato de que isso aconteceu”, disse o novo empreendedor.

Acesso a capital é desafio

A reportagem do Wired destaca que após um período de juros muito baixos e estímulo ao investimento de risco, os novos fundadores de startups podem ter, agora, mais dificuldades para encontrar capital que impulsionem seus negócios.

O momento atual, segundo Julia Austin, professora sênior da Harvard Business School, é de uma maior seletividade dos investidores de venture capital. “Eles estão sendo muito mais estratégicos e muito mais cuidadosos”, disse a pesquisadora, que é também investidora anjo e fundadora da Good For Her, uma comunidade sem fins lucrativos para mulheres fundadoras.

“É muito mais sobre possibilidade e visão de mercado e também execução. Uma das principais coisas que estou vendo é que você não pode mais levantar capital em uma apresentação de slides”, acrescenta.

Uma nova rotina

Outro desafio é aos novos empreendedores do Vale do Silício está justamente no momento atual do setor de tecnologia. À medida que as taxas de juros aumentam e as ações de tecnologia caem, os capitalistas de risco estão segurando seus fundos com mais força. Dados da Crunchbase mostram que o financiamento de startups em estágio inicial caiu 35% ao final de 2022.

Os fundadores novatos ainda precisam se preocupar com o desenvolvimento de habilidades como pitching e captação de recursos, que antes não faziam parte de seu escopo, e com a carga pesada de trabalho.

Jen Zhu, que foi demitida da Carbon Health no ano passado, relatou ao Wired que está em uma rotina intensa após a criação da Maida AI, empresa que automatiza tarefas de administração de assistência médica, como admissão de pacientes e anotações. “É muito difícil desligar. Sempre há mais o que fazer. Você está tão intimamente ligado aos resultados e à sua empresa no futuro”, relatou.

O movimento de alta das startups também tem feito profissionais que não foram demitidos começarem a procurar algo por conta própria. Nish Junankar, ex-engenheiro de software da OpenSea, pediu as contas depois que sua equipe foi reduzida pelos cortes. Ele informou à reportagem que recusou um pacote de retenção, temendo que o trabalho fosse aumentar, e, então, decidiu lançar a Feasy, plataforma que agrega listas de móveis domésticos de diferentes lojas em um só lugar.

Até agora, a startup de Junankar contou com o financiamento de amigos e familiares, mas ele está lançando propostas para investidores. “É incrivelmente estressante. As reuniões são curtas e você tem que estar muito preparado e pontual”, afirmou. Apesar disso, ele está bastante animado. “É incrivelmente gratificante. Não parece trabalho. Eu realmente acredito na ideia”, finalizou.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/tecnologia/noticia/2023/02/demissoes-nas-big-techs-impulsionam-nova-onda-de-criacao-de-startups.ghtml