Demissões indicam consolidação nas fintechs: saiba quais podem ser compradas

Alta dos juros e escassez de capital dificultam a sustentabilidade de empresas com faturamentos inferiores a R$ 100 milhões.

Na terça-feira (23) a fintech Brex, que presta serviços financeiros para startups, informou a 282 de seus colaboradores que eles estavam desligados da empresa. O corte atingiu cerca de 20% de seu quadro. Um dia antes, na segunda-feira (22) a fintech Cora, banco digital exclusivo para PMEs, anunciou a demissão de 47 pessoas, cerca de 13% da equipe.

Na semana anterior, a startup de identificação (idtech) Unico enxugou sua equipe em 20%, dispensando 200 funcionários. E o iFood demitiu 63 pessoas que trabalhavam na unidade de negócios de entrega de compras de supermercado, que havia sido criada em 2019.

Esse movimento reproduz, com algum atraso, algo que começou a ocorrer nos Estados Unidos no início de 2023. Por lá, centenas de fintechs demitiram milhares de colaboradores, quando não encerraram as atividades. E esse processo não terminou.

Um levantamento da publicação especializada The American Banker indicou que, nos meses de novembro e dezembro de
2023, pelo menos 14 bancos digitais e empresas de crédito online dos Estados Unidos reduziram suas equipes e descontinuaram negócios menores ou mais recentes. Muitas voltaram ao básico e se concentraram em uma ou duas atividades mais rentáveis.

O que está acontecendo? Segundo Daniel Moretto, que preside as operações brasileiras da empresa de processamento de pagamentos PayRetailers, as fintechs brasileiras têm procurado se adaptar a um cenário consistentemente mais adverso.

Os juros elevados no Brasil e nos Estados Unidos não apenas encareceram as atividades do dia a dia. Também fizeram as fontes de recursos escassear. “O ciclo de alta de juros, que deve ser mais longo do que o esperado, será desafiador para as fintechs”, diz Moretto. “Umas vão tomar decisões difíceis mais rápido do que outras, mas todas terão de tomar decisões difíceis.”

Menos crédito
A continuidade da alta dos juros e uma atitude mais conservadoras dos bancos reduziu a oferta estrutural de crédito da economia. Segundo dados do Banco Central (BC), os empréstimos com recursos livres para pessoas físicas e empresas caíram ou, no melhor cenário, ficaram estáveis.

Entre janeiro e novembro de 2023, dado mais recente disponível, o total de empréstimos para capital de giro das empresas caiu 0,4% em termos nominais em relação ao mesmo período do ano anterior. No caso dos empréstimos para pessoas físicas para além de empréstimos garantidos (créditos consignado, imobiliário e para a compra de veículos) caíram 3,9% nesse mesmo período.

E apesar de a taxa Selic ter caído dois pontos percentuais, de 13,75% em agosto de 2023 para os atuais 11,75% (e, espera-se, cair mais 0,5 ponto percentual na quarta-feira, 31), o preço dos empréstimos segue elevado.

Consolidação
Isso abre oportunidades de consolidação entre as fintechs. Ou seja, empresas se unindo (ou sendo compradas) para obter sinergias e reduzir custos, principalmente por meio de cortes de pessoal. O setor é vasto. A Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), entidade que representa o setor, avalia que há 1.481 fintechs em atividade no País, que empregam pelo menos 100 mil pessoas. Muitas delas ainda não chegaram ao break even, e o desafio para todas é cortar as despesas e reduzir o consumo de capital.

Segundo Moretto, deverá haver mais negócios nos segmentos de pagamentos e concessão de crédito. Para ele, há uma “linha de corte” bem definida, medida pelo faturamento. “Fintechs que faturam menos de R$ 100 milhões por ano terão menos probabilidade de serem sustentáveis, e provavelmente estarão buscando associações”, diz. “As maiores, que faturam mais de R$ 1 bilhão deverão ser as consolidadoras, e quem tiver dinheiro em caixa vai fazer bons negócios.”

FONTE: https://forbes.com.br/forbes-money/2024/01/demissoes-indicam-consolidacao-nas-fintechs-saiba-quais-podem-ser-compradas/