De inimigas a parceiras de negócio: fintechs estimulam inovação nos bancos

Durante CIAB 2019, representantes de grandes bancos falaram sobre como a colaboração com startups tem sacudido setor financeiro

Bancos têm sido transformados pelas urgências e personalização que a mobilidade criou nos últimos anos. Segundo pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), realizada pela Deloitte, o número de transações bancárias feitas pelo celular em 2018 cresceu 24% em relação ao ano anterior e brasileiros já confiam nos aplicativos de seus bancos como o canal preferido para pagar contas, realizar transferências de dinheiro e outras transações. E é com os olhos voltados para este cliente digital e suas expectativas que a 29ª edição do CIAB Febraban deu início nesta terça-feira (11). O principal evento de tecnologia para o setor financeiro do Brasil tem programação que se estende até a próxima quinta-feira (13) no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

Vistos ora como salvadores ora como destruidores de uma série de indústrias, os Millenials – pessoas que têm entre 18 e 35 anos – assumem agora o público cativo que bancos precisam entender e atender. Investimentos para digitalizar a casa superam os bilhões. Durante abertura do CIAB 2019, Murilo Portugal, presidente da Febraban, lembrou que bancos nos Brasil investiram R$ 20 bilhões em tecnologia nos últimos dois anos. “Este volume de recursos investidos é uma manifestação do ambiente competitivo no mercado e no setor”, destacou.

Procuram-se startups

Se nenhum homem é uma ilha, hoje nenhum banco atento à transformação digital é algo sem uma fintech. A discussão de que fintechs poderiam ser uma ameaça à soberania dos bancos ganhou, nos últimos anos, um tom mais amigável. Na prática, essa relação entre bancos e startups tem resultado em parcerias que beneficiam os dois lados. O CIAB é um bom reflexo disso. O evento dedica um dia de sua programação para debater inovações entre bancos e fintechs, além de promover um hackathon para incentivar jovens empreendedores a repensarem o mercado bancário brasileiro.

Para Gustavo Fosse, diretor de tecnologia do Banco do Brasil e diretor setorial de tecnologia e automação bancária na Febraban, é o consumidor que tende a mais ganhar com a competição e parcerias entre bancos e fintechs. “Aprendemos muito a trabalhar com eles [startups]. Estamos aprendendo a trabalhar com essa forma leve que as startups trabalham, a forma onde se erra, acerta e tudo ao mesmo tempo. É uma grande oportunidade para o setor bancário”, avaliou.

Um dos casos de sucesso apresentados nesta terça-feira foi o do Banco Next, iniciativa do Bradesco, que é um exemplo de startup criada dentro de um grande banco. A conta exclusivamente digital foi pensada para atender clientes da geração Millenial. Segundo Octavio de Lazari Junior, diretor-presidente do Banco Bradesco, o Next não é uma iniciativa que irá canibalizar, eventualmente, o próprio Bradesco e sim complementar. “O Next complementa o ecossistema do Bradesco. Um não sobrepõe o outro. É uma solução totalmente diferente com um novo público”, destacou. Um dos produtos que mais cresce do Bradesco, o Next, segundo Lazari registra 9 mil aberturas de contas por dia, sendo que 80% dos usuários não são correntistas do Bradesco. Para Lazari, as fintechs devem ser encaradas como oportunidades.

Um ecossistema dedicado

Não à toa, bancos tradicionais estão construindo ecossistemas ao redor das startups. O Bradesco lançou em 2018 o InovaBra Habitat, um espaço de residência de startups cujas soluções atravessam o setor financeiro. O Banco do Brasil firmou parceria com a Startup Farm para lançar um programa de aceleração e o Itaú Unibanco reúne no Cubo Itaú startups residentes em um mesmo prédio em São Paulo. Além dos grandes bancos, iniciativas do setor financeiro como Visa e Mastercardcultivam aproximação com as fintechs para renovar seus serviços.

A grande discussão que atravessa as últimas edições da CIAB leva em consideração a perspectiva do consumidor e como o seu comportamento orientado pelo smartphone tem varrido a forma como os bancos pensam em oferecer algo que há 10 anos era resolvido por meio de um gerente e uma agência bancária. Mas a urgência da digitalização não é algo trivial. “As pessoas se digitalizam muito mais rápido que as empresas”, pontuou Magalhães. “Temos muitos setores que sequer entenderam seu modelo de negócios e estar perto desse ambiente de fintechs, de empresas que já nascem digitais, quando você incentiva e remunera dentro desse contexto, é uma métrica de sucesso”, complementou.

Mas afinal, fintechs e startups poderão engolir os bancos? Octavio de Lazari Junior, do Bradesco, afasta qualquer cenário apocalíptico e mira no próprio Next para mirar um horizonte mais distante. “Nós temos espaço para estes modelos de negócio, por isso da nossa preocupação da área de inteligência embarcar este aprendizado no banco tradicional. Toda essa tecnologia e sabedora que estamos testando no mundo digital e sua experiência é levada para o tradicional”, reforçou Lazari.

FONTE: CW