Das periferias às grandes empresas: 6 startups de reciclagem que estão mudando a gestão de resíduos no Brasil

Conheça iniciativas que trabalham para resolver o problema de resíduos sólidos no país, desde o incentivo à economia circular até o uso de tecnologia de logística reversa inteligente

Diante de um cenário nacional e internacional em que a sustentabilidade tem tomado o devido protagonismo e a sigla ESG (que vem do inglês environmental, social e governance, significando meio ambiente, social e governança) tornou-se um guia importante para investidores e gestores, as empresas passaram a seguir um caminho mais consciente com relação a seu próprio papel diante da crise climática.

Assim, procuram fazer valer ainda mais o modelo de economia circular, que tem como pilares a redução, reutilização e reciclagem de materiais e energia, e também a logística reversa, com foco no retorno de materiais já utilizados para o processo produtivo, visando o reaproveitamento ou descarte ecológico de materiais e a preservação do meio ambiente.

A importância desses temas é ressaltado neste dia 17 de maio, quando é comemorado o Dia Internacional da Reciclagem. Desde as determinações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/2010), que estabeleceu um novo marco regulatório da gestão de resíduos no país, ao reunir um conjunto de princípios, objetivos, ferramentas e diretrizes para a administração integrada e ambientalmente correta de resíduos sólidos, o assunto tomou novas proporções no Brasil.

O Brasil gerou 82,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2020, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2021, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Com isso, cada brasileiro gerou, em média, 1,07 kg de resíduo por dia.

Geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil — Foto: Thiago de Jesus/Um Só Planeta Geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil — Foto: Thiago de Jesus/Um Só Planeta

Se por um lado, a geração de resíduos responde por 4% do total de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no país, conforme a Abrelpe, o setor apresenta um importante papel na mitigação dessas emissões. A Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, na sigla em inglês) estima que a simples adoção de sistemas adequados de destinação de resíduos apresenta um potencial de mitigação de emissões de 5% a 10% do total no Planeta.

Ações de redução da geração de resíduos, a reciclagem e a recuperação de energia podem contribuir com uma redução adicional de 5% a 10%, o que leva a um potencial total de mitigação de cerca de 20% das emissões globais de GEE, sem contar os diversos benefícios para o meio ambiente, para a saúde pública e para a economia.

Diante do potencial desse mercado e da urgência do país exterminar lixões a céu aberto e aumentar suas taxas de reciclagem — que hoje beiram 3% de todo o resíduo gerado –, o mercado brasileiro tem visto surgir uma série de negócios inovadores de impacto socioambiental.

Confira, a seguir, seis startups que estão mudando a gestão de resíduos no Brasil, desde o incentivo à economia circular até o uso de tecnologia de logística reversa inteligente.

Boomera: de resíduos a novos produtos

Boomera — Foto: DivulgaçãoBoomera — Foto: Divulgação

Boomera trabalha para resolver o problema de resíduos sólidos no Brasil em parceria com mais de 150 cooperativas de catadores em todo o Brasil. Fundada em 2012 por Guilherme Brammer, a startup atua na logística reversa de materiais recicláveis, além de operar estações de reciclagem no varejo e outros pontos de coleta.

Pelo cálculos da Boomera, hoje são destinados a lixões e aterros sanitários o equivalente a R$ 120 bilhões em materiais que poderiam ser reciclados, reaproveitados, reprocessados e reinseridos nas cadeias produtivas. Mais do que o potencial econômico envolvido, a gestão adequada de resíduos tem também o ganho social, num país onde mais 800 mil pessoas trabalham e vivem do ‘lixo’, segundo levantamento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

A partir da coleta dos resíduos recicláveis, a startup transforma lixo em nova matéria-prima, gerando renda nas cooperativas parceiras. Após o desenvolvimento da matéria-prima, a empresa fabrica ‘produtos circulares, ou seja, desenvolve novos produtos com material reciclado. A Boomera atua também no engajamento e sensibilização de diversas áreas dentro de grandes corporações, alavancando uma economia cada vez mais circular.

Coletando Soluções: embalagens viram renda extra

Coletando Soluções — Foto: DivulgaçãoColetando Soluções — Foto: Divulgação

A startup Coletando Soluções incentiva a reciclagem colocando ecopontos itinerantes dentro de comunidades da periferia. A empresa troca o resíduo por dinheiro em conta digital no nome dos recicladores, levando uma forma de coleta seletiva em locais de difícil acesso. Fundada em 2008 pelo atual CEO Saulo Ricci, a fintech ambiental facilita o descarte correto das embalagens pós-consumo para os moradores de cada região.

Foi unindo tecnologia e inovação ao processo de coleta de lixo que Saulo Ricci criou soluções para ele, sua comunidade e sociedade em geral. “Muitas vezes, os caminhões de coleta não conseguem ir até a periferia porque tem muito beco e viela”, revelou Ricci, em entrevista à PEGN.

“Atuamos nas comunidades em locais de grande circulação de pessoas. Nossos Ecopontos móveis possibilitam estarmos em vários locais ao longo do dia, dado mais capacidade de volume, beneficiando mais pessoas e capitando maior quantidade de materiais recicláveis”, garante.

Green Mining: logística reversa inteligente

Green Mining — Foto: DivulgaçãoGreen Mining — Foto: Divulgação

Green Mining desenvolveu uma tecnologia de logística reversa inteligente para recuperar embalagens pós-consumo. Seu sistema de rastreabilidade garante que todo o material coletado seja enviado para reciclagem e de volta para o ciclo de produção.

A startup trabalha com coletores registrados (carteira assinada para pessoas que têm poucas oportunidades de emprego) e busca utilizar veículos não motorizados, como triciclos, para realizar as coletas, evitando emissão de CO2. A Green Mining calcula que já coletou mais de 4,1 toneladas de material e evitou a emissão quase 700 mil quilos de CO2 em suas operações.

Um algoritmo faz o mapeamento de pontos de geração de resíduos pós-consumo. Em áreas onde é identificada uma quantidade grande, é instalada uma central de recebimento denominada hub – lá fica armazenado todo o material coletado na redondeza antes de seguir para o seu destino final. Os coletores, então, percorrem os estabelecimentos cadastrados daquela área e retornam com o material para o hub. Quando o hub atinge sua capacidade, o material é enviado à usinas e empresas de reciclagem.

Polen: compensação via blockchain

Polen — Foto: Facebook / ReproduçãoPolen — Foto: Facebook / Reprodução

Com uma rede crescente e engajada de cooperativas de catadores de materiais recicláveis e operadores de logística reversa, a Polen – Solução e Valoração de Resíduos está desenvolvendo programas personalizados de compensação ambiental para as empresas, ao mesmo tempo em que preza pela remuneração justa e melhores práticas no manuseio dos resíduos e condições de trabalho de seus parceiros.

Utilizando a tecnologia blockchain, a startup rastreia e certifica o volume de resíduos de embalagens recicladas pelos operadores da rede e a associa esse volumes a marcas de produtos embalados, garantindo a transparência no processo de compensação e comprovação. A solução transforma as informações contidas nas Notas Fiscais Eletrônicas de venda de resíduos pós-consumo às indústrias recicladoras em “ativos digitais”, totalmente rastreáveis e impossíveis de serem clonados. Com isso, toda a cadeia da reciclagem se beneficia, não só pela segurança dos dados, mas pela garantia da efetividade do crédito para o cumprimento da lei.

O engajamento dos consumidores é incentivado com o uso de um selo interativo: um QR Code que direciona o consumidor final a um relatório de logística reversa customizado, onde ele poderá acompanhar com detalhes as ações que a sua empresa tem tomado para realizar a logística reversa das suas embalagens e os agentes envolvidos no processo.

so+ma: impulsionando a reciclagem na periferia

so+ma — Foto: Divulgaçãoso+ma — Foto: Divulgação

so+ma é um programa de fidelidade para criar novos hábitos e um ambiente empreendedor nas comunidades de baixa renda, utilizando resíduos como “moeda” de engajamento. O projeto atua na mudança de atitude e empoderamento, valorizando o resíduo e, ao mesmo tempo, trazendo benefício para o cidadão. Através de um sistema de pontuação online, todos os resíduos entregues são computados, transformados em pontos e trocados por produtos alimentícios e itens de cuidados básicos.

Ao participar do projeto, além de receber tais produtos de troca, os participantes conseguem ter controle sobre a economia gerada em sua renda familiar, pois após a entrega de seus resíduos é gerado um relatório com todo o impacto ambiental positivo causado.

Os locais de recebimento desses resíduos são gerenciados por cooperativas de catadores de resíduos sólidos. Através deste vínculo criado, a plataforma começa a entender os hábitos dos cidadãos e levantar as oportunidades de negócios existentes com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento local.

Trashin: economia circular 360°

Trashin — Foto: DivulgaçãoTrashin — Foto: Divulgação

Trashin realiza a gestão de resíduos de empresas através do treinamento de funcionários, sinalização clara, coletas organizadas e destinação adequada. Também atua na logística reversa, projetando coletores personalizados para diferentes tipos de resíduos que poderiam ir para aterro sanitário e os devolvendo à cadeia produtiva.

A startup promove a economia circular através de ações que atendam às necessidades e realidades dos mais diferentes tipos de cliente. A Trashin é a responsável por todo o processo de retirada e transporte dos resíduos, utilizando, eventualmente, motoristas autônomos e cooperativas de reciclagem.

cleantech é capaz de gerar renda para a cadeia de recicladores, valorizar o resíduo e transformar problemas em recursos. O potencial de inovação, o crescimento de alto impacto e a maturidade da startup foram alguns dos fatores que chamaram a atenção dos jurados e garantiram à Trashin o prêmio Amcham Arena de melhor startup do Brasil, na visão do mercado empresarial.

FONTE: https://umsoplaneta.globo.com/sociedade/consumo-consciente/noticia/2022/05/17/das-periferias-as-grandes-empresas-6-startups-de-reciclagem-que-estao-mudando-a-gestao-de-residuos-no-brasil.ghtml