Crise? Os espanhóis do K Fund atravessam o Atlântico para investir em startups no Brasil

Firma de venture capital trouxe Gustavo Ribas, que era sócio da Reach Capital, para liderar os investimentos na América Latina

A partir de Madrid, K Fund se tornou a maior gestora de venture capital do sul europeu — Foto: Pixabay

Enquanto alguns dos principais gestores de capital de risco tiram o pé dos investimentos na América Latina — o Softbank que o diga —, há gente nova querendo investir no Brasil. O K Fund, uma das maiores firmas de venture capital do sul europeu, atravessou o Atlântico com capital para aplicar em startups que já passaram dos primeiros estágios.

Fundada há seis anos por Inaki Arolla — empreendedor que fundou o classificado online de automóveis Coches.com, vendido ao Santander — Carina Szpilka, executiva que fez carreira no banco ING, o K Fund já era um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento do ecossistema de inovação na Europa do Sul, uma região menos endinheirada e badalada que o norte europeu.

Para chegar à América Latina, a gestora trouxe Gustavo Ribas, sócio da Reach Capital. O brasileiro já passou pelo conselho de algumas das startups mais conhecidas do Brasil representando firmas como Provence Capital (de Leopoldo Figueiredo, ex-sócio da Hedging-Griffo) e Mogno Capital.

A partir de São Paulo, Ribas vai cuidar de uma parcela relevante do Leadwind, o maior fundo de growth já levantado por uma gestora do sul europeu. A ideia é destinar 25% do fundo para investimentos em startups na América Latina. Com 180 milhões de euros já levantados, o K Fund pretende fazer o final closing do Leadwind no início do ano que vem, quando espera atingir 250 milhões de euros.

“Pela maturidade do ecossistema, há oportunidades para fazer a ponte entre a América Latina e o Sul da Europa. As companhias espanholas vão continuar investindo aí, mas agora as companhias latino-americanas têm talento e capacidade para vir para a Europa. Queremos ser essa fonte bidirecional”, disse o sócio do K Fund, Miguel Arias, ao Pipeline.

A trajetória de Arias também conta um pouco do porquê de o K Fund estar se expandindo geograficamente. Depois de fundar duas startups — a Imaste, já vendida, e a companhia de software Carto —, o espanhol foi recrutado pela Telefónica para tocar a área de empreendedorismo, onde liderou globalmente o hub de inovação Wayra, que faz investimentos em startups de estágios iniciais (inclusive no Brasil).

Há um ano no K Fund, Arias foi o artífice da criação do Leadwind, um fundo de ancorado pela própria Telefónica (a gigante espanhola colocou 70 milhões de euros) e pelo BBVA, que investiu 15 milhões de euros. Dona da Vivo, a companhia de telecom tinha a intenção de continuar o potencial de investimento em startups brasileiras.

Como limited partner do Leadwind, a Telefónica abriu um aporte para investir em startups em estágios mais maduros. Até então, a companhia estava exposta apenas aos negócios muito iniciais com a Wayra (que faz cheques de até 250 mil euros, em rodadas seed) e o corporate venture capital da Vivo, que aplica entre 2 milhões a 3 milhões de euros por startup. “Não há competição. O Leadwind começa a investir a partir de 5 milhões de euros”, conta Arias.

Gustavo Ribas, o head do K-Fund para a América Latina — Foto: Divulgação

Gustavo Ribas, o head do K-Fund para a América Latina — Foto: Divulgação

Para Ribas, há muitas semelhanças entre o ecossistema da região de origem do K Fund e da América Latina. “O grosso das rodadas de growth sempre foi liderado por fundos estrangeiros”, diz o executivo brasileiro. Com a retração do Softbank, o cenário talvez possa mudar por aqui. No primeiro semestre, as startups do sul europeu levantaram 3 bilhões de euros, segundo dados compilados pelo Pitchbook. Na América Latina, foram US$ 5,3 bilhões, segundo a CB Insights.

Com quatro fundos levantados — K1 e K2, para startups iniciantes que captaram 120 milhões de euros, e um fundo de fundos de 150 milhões de euros, além do Leadwind —, a K Fund já investiu em startups como a espanhola Factorial, que trouxe seu software de RH ao Brasil no ano passado.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/mercado/noticia/crise-os-espanhois-do-k-fund-atravessam-o-atlantico-para-investir-em-startups-no-brasil.ghtml