Criada para atender o SUS, EpHealth chama atenção dos europeus

Plataforma de pesquisa e gestão de saúde entra em programas de aceleração na Inglaterra e Suíça.

A EpHealth, uma healthtech brasileira que deu os primeiros passos monitorando o trabalho de agentes de saúde do SUS e depois passou a também trabalhar com pesquisas para gigantes do setor farmacêutico, está chamando a atenção dos europeus. Fundada em Santa Catarina, a empresa acaba de cruzar o Atlântico para participar de dois programas de aceleração em países que são referências no setor, o Reino Unido e na Suíça, cada um à sua maneira.

Em Londres, a startup está tendo a chance de fortalecer a sua vertical ligada ao setor público. A empresa foi selecionada para o Global Entrepreneur Programme (GEP), programa criado há 20 anos pelo governo britânico para importar soluções de inovação para problemas locais, e agora está mais perto do NHS, uma das mais conhecidas redes públicas de saúde do mundo e que inspirou a criação do SUS no Brasil em 1988.

Já na Suíça, será a veia privada da EpHealth que estará no foco. A empresa será a primeira brasileira a participar do DayOne Health 4.0, programa especializado em startups de saúde e que lhe dará a possibilidade de estar em contato com C-Levels de uma das maiores indústrias químico-farmacêutica do mundo — o país é sede de nomes como Roche, Sandoz e Novartis, esta já cliente da EpHealth.

“São oportunidades complementares que trazem um novo patamar para nós, tanto no relacionamento com decisores globais ou no contato com as melhores instituições de pesquisa do mundo”, diz o fundador e CEO da EpHealth, Pedro Pereira.

A ideia do executivo de fundar a empresa surgiu quando ele trabalhava em São Paulo para a consultoria EPartners. Num projeto para um município do interior do estado, a prefeitura queria um sistema digital que monitorasse os horários de trabalho dos agentes de saúde, que visitam residências para o acompanhamento das famílias.

“Basicamente a gente precisava fazer a gestão desses funcionários das unidades básicas de saúde. Mas o trabalho deles era imenso em termos de dados e esse profissional precisava muito mais de ajuda do que de controle de frequência. Até então, o registro era feito em pranchetão”, conta.

Foi então que Pereira viu que haveria espaço para criar uma startup focada nisso, dando vida à EpHealth em 2015. E o que era para ser apenas um esforço para controlar melhor a rotina dos agentes virou também um canal para coletar dados dos pacientes, tanto para acompanhar o estado de saúde das pessoas quanto para fazer um mapeamento demográfico da população atendida. A plataforma acabou ganhando também uma versão aberta, disponibilizada a agentes de outras cidades, que podem baixar e usar o serviço por conta própria.

A startup logo chamou a atenção da Sanofi e da Takeda, que procuraram a companhia porque estavam mais interessadas em aumentar as suas interações com o SUS. A EpHealth desenvolveu programas pontuais, mas depois entendeu que precisaria segmentar sua operação em duas vertentes.

Hoje, a healthtech continua com o setor público, na área que chama de Instituto EpHealth. Sem fins lucrativos, o app apenas financia a operação junto às prefeituras. Já são seis milhões de pacientes e 45 mil profissionais cadastrados, atuantes em cerca de quatro mil municípios brasileiros.

Já a vertical que atende ao mercado privado foi batizada de EpScience. Atualmente, realiza um estudo para a Novartis, em parceria com o hospital Albert Einstein, para testar uma nova intervenção de controle do colesterol, uma pesquisa que envolve mais de 30 hospitais. São estudos que até então não aconteciam no país, dada a complexidade do mercado e as limitações tecnológicas.

Somando as duas operações, a EpHealth afirma que tem uma receita anual R$ 400 mil por funcionário. Hoje, a companhia conta com um time de 15 pessoas. A expectativa é que o valor faturado cresça porque há projetos em andamento que ainda não foram contabilizados. Para o ano que vem, a startup estima uma expansão de 50% na receita.

Pereira está morando em Londres desde abril. Ao ser selecionado para o programa britânico, no qual ele participa de mentorias e networks com investidores, o empreendedor abriu um escritório para a empresa na capital inglesa, com o intuito também de se aproximar do NHS — a rede pública, aliás, deu início neste ano a um projeto piloto que envolve a ida de agentes de saúde às casas das pessoas, tendo como inspiração o próprio SUS. Já o relacionamento com a Suíça começou há poucas semanas, após a companhia ter sido selecionada para o DayOne Health 4.0.

A EpHealth, até o momento, só fez uma captação de investimentos, no total de R$ 1,5 milhão. Para o ano que vem, a startup projeta atrair de 1 milhão a 2 milhões de libras em grants para P&D (investimento não dilutivo) e, para depois disso, planeja uma captação série A. “Um reconhecimento para a EpHealth nos programas e entre os executivos que temos contato é que conseguimos fazer mais com menos. Fizemos tudo com um investimento mínimo”, diz o fundador.

Outras companhias de atuação semelhante indicam o interesse dos investidores pelo tema. As americanas Medable e Science 37 e a europeia Huma, por exemplo, já são unicórnios, após uma série de rodadas financeiras. A Science 37 recentemente realizou seu IPO via fusão com uma Spac.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/criada-para-atender-o-sus-ephealth-chama-atencao-dos-europeus.ghtml